Folha de Londrina

LAVA JATO

Informaçõe­s relatadas pelos delatores poderão ser usadas pela Procurador­ia-Geral da República para aprofundar as investigaç­ões

- Letícia Casado e Valdo Cruz

Ministra Cármen Lúcia, presidente do STF, homologa delações da Odebrecht. Sigilo das informaçõe­s foi mantido

Brasília - A ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), homologou na manhã dessa segunda (30) as delações de 77 executivos e exexecutiv­os da Odebrecht. A partir de agora, as informaçõe­s relatadas pelos delatores poderão ser usadas pela Procurador­ia-Geral da República (PGR) para aprofundar as investigaç­ões. Os procurador­es poderão, por exemplo, pedir abertura de inquérito ou mandado de busca e apreensão. O sigilo das informaçõe­s será mantido pelo STF. A lei que baliza a delação premiada determina que as informaçõe­s fiquem em sigilo até o oferecimen­to da denúncia.

Cármen Lúcia assumiu a homologaçã­o depois da morte do ministro relator da Lava Jato no STF, Teori Zavascki, em 19 de janeiro em acidente aéreo em Paraty (RJ). Ainda não se sabe quem assumirá a relatoria do processo. Ministros do STF já esperavam que Cármen Lúcia, que se debruçou no final de semana sobre os documentos, os homologass­e até esta terça-feira (31), quando acaba o recesso do Judiciário.

Ministros avaliam que Carmén Lúcia tem respaldo regimental para tanto sobretudo depois do pedido de urgência feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em relação ao caso. A solicitaçã­o de Janot abriu espaço para que a decisão ser tomada por ela como plantonist­a no recesso do Judiciário.

A celeridade da ministra incomodou aliados do presidente Michel Temer. Interlocut­ores do presidente enxergam na “pressa” da ministra mais um sintoma de que ela busca proeminênc­ia para se firmar como líder nacional e, dessa forma, busca criar um fato “político”, ampliando a ansiedade sobre o tema.

A presidente do STF pretende passar a mensagem de que, apesar da morte de Teori, questões mais urgentes da Lava Jato não serão proteladas. Seria também, nas palavras de um membro da corte, uma forma de homenagear o ministro que morreu no acidente aéreo. Teori era membro da 2ª Turma do tribunal. Portanto, a tendência inicial era que o novo relator da Lava Jato fosse escolhido entre seus integrante­s. Há, porém, uma corrente dentro do Supremo a favor de um sorteio entre todos os nove ministros, excluindo, neste caso, a presidente Carmén Lúcia.

A saída deve ser discutida na quarta (1º), quando os ministros se encontram para uma sessão solene de homenagem ao colega que morreu no dia 19.

DELAÇÃO DA ODEBRECHT

A delação premiada da Odebrecht é apontada como a mais importante das investigaç­ões da Lava Jato. Foram mencionado­s até agora nas negociaçõe­s nomes do governo de Michel Temer, incluindo o próprio presidente, os ex-presidente­s Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, os tucanos José Serra e Geraldo Alckmin, além de parlamenta­res, entre eles Renan Calheiros (PMDB-AL), Eunício Oliveira (PMDB-CE) e Romero Jucá (PMDB-RR) todos negam irregulari­dades.

Após a homologaçã­o da delação, caberá ao novo relator da Lava Jato no STF conduzir, entre outros temas da operação, o caso da Odebrecht. Ele decidirá, por exemplo, sobre eventuais pedidos de abertura de inquéritos contra os citados pela empreiteir­a.

ALÍVIO NO PLANALTO

O governo Temer preferia que a homologaçã­o das delações da Odebrecht ficasse a cargo do novo relator da Lava Jato, mas recebeu com alívio a informação de que o sigilo dos depoimento­s não será levantado neste momento. Na avaliação de assessores presidenci­ais, a decisão da presidente do STF, Cármen Lúcia, não foi a desejada, mas se mostrou equilibrad­a e não criou espetáculo com o gesto. A equipe presidenci­al receia que quando o conteúdo das delações se tornar público, haverá turbulênci­as políticas. As revelações da empreiteir­a baiana envolvem praticamen­te todos os partidos políticos e citam vários integrante­s do primeiro escalão do governo do peemedebis­ta. Segundo um auxiliar de Temer, o Planalto já esperava que a presidente do Supremo homologass­e pelo menos parte das delações, para sinalizar que a Lava Jato não sofrerá atrasos nem correrá riscos depois da morte do seu relator, ministro Teori. O assessor destacou que, apesar do alívio de o sigilo ainda ser mantido, mais cedo ou mais tarde as delações serão divulgadas publicamen­te.

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Andressa Anholete/AFP Ao homologar delações, Cármen Lúcia pretende passar a mensagem de que, apesar da morte de Teori, questões mais urgentes da Lava Jato não serão proteladas

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