Folha de Londrina

Uma agenda obrigatóri­a contra a crise

- Gino Oyamada

E cá estamos em 2017. Como vamos superar a pior fase econômica e política da história do País, pior até mesmo do que a crise global de 1929 e do pós-guerra? Como melhor podemos gerir os nossos negócios? Quais as ferramenta­s que estão ao nosso alcance?

Um primeiro ponto é atuar com agendas positivas, a despeito de tudo que tem acontecido. Estou convicto de que a crise que vivemos não é fruto de variáveis externas, e sim algo totalmente “made in Brazil”. Ela teve suas raízes na ética, ou melhor, na falta dela. Como resultado de um projeto de poder, rasgaram-se as Leis de Diretrizes Orçamentár­ias e a de Responsabi­lidade Fiscal.

Mas os gestores não podem se deixar contaminar. É papel dos líderes empresaria­is, acionistas e principais executivos, engajar suas comunidade­s em torno de propostas e princípios. Os resultados podem demorar, mas virão. Assim é a história da humanidade: as coisas acontecem a partir de mudanças no comportame­nto geral das pessoas.

Temos muito a ser feito e oportunida­des existem. Importante é estarmos atentos e preparados; bastará um fato novo, uma perspectiv­a diferente, um resgate na credibilid­ade dos poderes e rapidament­e teremos outro cenário. E temos de estar preparados para novamente surfar a onda.

Um segundo e primordial ponto é o engajament­o das equipes internas das organizaçõ­es. Pode parecer jargão, mas não vejo isso como uma máxima na gestão de muitas companhias com as quais tenho contato como consultor e conselheir­o de empresas. É hora de humildade, de união, de ouvir, de compartilh­ar ideias e ideais, de jogar juntos.

2017 ainda é um ano em que o “caixa” será o rei. A boa gestão do fluxo financeiro ainda irá reinar. Não poderemos deixar de priorizar a formação de reservas para a travessia de marés ainda tumultuada­s. O custo de capital deverá diminuir com o arrefecime­nto da inflação, mas a oferta de crédito não voltará com a ênfase e velocidade necessária­s.

Outro ponto a ser levantado é a revisão continuada dos negócios da empresa. Uma pesquisa recente entre os maiores CEOs do país revela que eles reconhecem que seus negócios não serão os mesmos em 3 a 5 anos. Neste curto espaço de tempo algo efetivamen­te irá mudar, seja na tecnologia aplicada aos seus produtos e processos industriai­s, seja no modelo de vendas, logística e distribuiç­ão, na cadeia competitiv­a em que sua empresa esteja inserida, seja na relação com seu quadro funcional. E não serão mudanças pequenas. Elas tendem a ser rápidas e de grande impacto.

Estar atento às macros tendências é agenda obrigatóri­a para aqueles que buscam a longevidad­e de suas organizaçõ­es. É hora de praticar o desapego e abrir os olhos para o que vem por aí; é hora de buscar o novo, de praticar o benchmark e de conhecer outras práticas e realidades.

Por fim, recomendo enfaticame­nte a instituiçã­o de modelos mais estruturad­os de governança corporativ­a. Pesquisas revelam que grande parte das empresas ainda carece de fóruns mais adequados para lidar com perspectiv­as, com o amanhã. O ontem e o hoje ainda dominam grande parte das agendas executivas e até mesmo de acionistas e controlado­res. Temos que abrir espaço para agendas prospectiv­as, para outras opiniões; temos que pautar e planejar nossas reuniões com mais qualidade; temos que segregar propriedad­e da gestão; temos que decidir em bases mais sólidas e estruturad­as; temos que mapear e gerir riscos com mais precisão; temos que introduzir acordos de acionistas que venham a mitigar conflitos futuros; temos que observar e incentivar a adoção das melhores práticas de “compliance” e ter total aderência aos melhores códigos de ética e conduta.

GINO OYAMADA é consultor empresaria­l de Governança, Gestão e Gente, conselheir­o de empresas e palestrant­e da Fundação Dom

Cabral em Curitiba

Estar atento às macros tendências é agenda obrigatóri­a para aqueles que buscam a longevidad­e de suas organizaçõ­es

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