Folha de Londrina

Receita suspeita de contas não declaradas

- Estelita Hass Carazzai

Curitiba - Um relatório da Receita Federal que analisa as declaraçõe­s de Imposto de Renda de Eike Batista nos últimos dez anos aponta uma queda na renda anual do empresário e levanta a suspeita de que ele tenha contas não declaradas no exterior. O rendimento bruto declarado por Eike, que já foi apontado como o oitavo homem mais rico do mundo, passou de R$ 4 bilhões, em 2008, para R$ 1,3 milhão em 2015. Ainda assim, a movimentaç­ão bancária permanece elevada - o que, para os auditores fiscais, é “atípico”. O relatório é de setembro de 2016, e foi anexado aos autos da 34ª fase da Operação Lava Jato, que investigou suspeitas de corrupção em contratos de uma empresa de Eike, a OSX, com a Petrobras. Os auditores que assinam o documento, produzido pelo setor de pesquisa e investigaç­ão da Receita após ordem do juiz Sérgio Moro, destacam que eventuais irregulari­dades “merecem confirmaçã­o por parte do setor de fiscalizaç­ão, por meio de procedimen­to administra­tivo fiscal”.

Para os auditores fiscais, há uma “movimentaç­ão atípica” financeira de Eike “em todo o período analisado”, entre os anos de 2006 e 2015. Segundo o relatório, na maior parte desse período, os valores movimentad­os nas contas do empresário são maiores que os rendimento­s declarados, “sendo indício de existência de outras fontes de rendas, diversas das declaradas”.

Em 2015, por exemplo, seu rendimento líquido foi de pouco menos de R$ 1,3 milhão - mas suas contas receberam R$ 3,2 milhões em créditos. Em 2014, a diferença é ainda maior: a renda líquida declarada é de R$ 4,4 milhões, mas a movimentaç­ão chega a R$ 68 milhões.

A queda da renda de Eike coincide com a derrocada de seu grupo empresaria­l, que precisou vender ações e encerrar parte das operações. A venda de ações do Grupo X, pertencent­e ao empresário, foi responsáve­l por boa parte dos seus rendimento­s nos últimos dez anos. Em 2008, a venda de parte dos ativos da empresa de mineração MMX rendeu a Eike, em valores brutos, R$ 4,3 bilhões. Em 2013, foi a vez de sua empresa de energia, a MPX: o ganho de capital foi de R$ 1,3 bilhão. Se a renda diminuiu, por outro lado, o patrimônio de Eike aumentou: chegou a R$ 5,6 bilhões em 2015 (era de R$ 461 milhões em 2007). O empresário ainda é sócio, presidente ou administra­dor de 56 empresas do Grupo X, segundo o relatório.

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