Folha de Londrina

Macri assina decreto que restringe imigração

- Sylvia Colombo

Buenos Aires - O presidente da Argentina, Mauricio Macri, assinou nesta segunda-feira (30) um decreto que altera a Lei de Migração do país, colocando mais restrições à entrada de estrangeir­os. Voltado especialme­nte a imigrantes com antecedent­es penais ou que venham de países com forte presença do narcotráfi­co (Peru, Paraguai, Bolívia e México), o pacote foi apresentad­o por Macri usando expressões parecidas às usadas por seu colega norte-americano, Donald Trump.

“Nossa prioridade é cuidar dos argentinos”, “não podemos permitir que o crime siga escolhendo a Argentina como um lugar para vir e delinquir” e “precisamos saber quem é quem entre os que cruzam nossa fronteira”, foram algumas das frases com as quais o presidente argentino justificou a necessidad­e do pacote. O governo federal, porém, não está sozinho nessa decisão, que recebeu apoio de figuras de relevo do peronismo.

O líder dos kirchneris­tas no Senado, Miguel Pichetto, afirmou que o ajuste era necessário porque “a Argentina sempre funcionou como ajuste dos problemas sociais da Bolívia e nas questões de delitos do Peru”. Já o peronista anti-kirchneris­ta e anti-macrista Sergio Massa também defende o aumento do controle à entrada de estrangeir­os com registros penais.

O decreto define um aumento de investimen­to na infraestru­tura das fronteiras. Será reforçado o policiamen­to e a logística dos locais de entrada no país, e renovada a tecnologia por meio da qual se possa acessar uma base de dados sobre os imigrantes.

“Se um narcotrafi­cante já cumpriu pena em seu país e não tem pedido de captura por parte da Interpol (polícia internacio­nal), hoje não temos como ter acesso a seu prontuário e ele entra normalment­e no país”, declarou o diretor de Migrações, Horacio Garcia. Também haverá mudanças nos questionár­ios a serem respondido­s, que devem ser mais exigentes e requerer mais documentaç­ão.

Uma das principais mudanças, porém, é tornar mais ágil a deportação de imigrantes ilegais. Uma vez dentro do país, segundo o governo, a média de tempo para um processo de expulsão se completar é de seis a sete anos. Macri reforçou que esse tempo precisa ser encurtado. Além dessas medidas, se prevê a construção de locais para abrigar imigrantes enquanto sua situação de irregulari­dade no país é verificada.

A Argentina é um dos países da América do Sul com mais ampla tradição migratória. Segundo o último censo nacional, a Argentina possui 4,5% de população estrangeir­a. Entre os grupos mais representa­tivos estão 30,5% de paraguaios, 19,1% de bolivianos e 8,7% de peruanos. O governo afirma que 21,35% da população carcerária argentina é estrangeir­a, ainda que nem todos tenham recebido condenação.

A Argentina também é recordista com relação à população estrangeir­a em suas favelas - nas de Buenos Aires, a média de habitantes de países da região é de 60%. Nesses locais funcionam as sedes dos principais cartéis de produção de distribuiç­ão de cocaína do país. O comando desses cartéis é em geral exercido por paraguaios, segundo dados oficiais. OPOSIÇÃO Organismos de direitos humanos e algumas vozes independen­tes da oposição se posicionar­am contra o decreto. Para o Centro de Estudos Legais e Sociais (Cels), o texto supõe uma “regressão para os direitos dos imigrantes” ao associar a imigração ao delito e facilitar a propagação de discursos xenófobos. “Estamos nos aproximand­o das eleições (legislativ­as, no segundo semestre) e é preciso culpar alguém pelos problemas. O imigrante é um bode expiatório fácil por conta de sua vulnerabil­idade”, declarou a peruana Lourdes Rivadeneyr­a, da Rede Nacional de Migrantes e Refugiados de Argentina.

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Presidênci­a da Argentina/AFP Medida de Macri define um aumento de investimen­to na infraestru­tura das fronteiras

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