Folha de Londrina

Prefeitura suspende anuênio e licença-prêmio para comissiona­dos

Prefeito de Londrina acaba, via decreto, com anuênio e quinquênio para servidores não concursado­s; vereador questiona medida e Executivo envia projeto de lei para extinguir benesses também a comissiona­dos da Câmara

- Loriane Comeli Reportagem Local

Decreto assinado por Marcelo Belinati interrompe pagamentos a servidores não concursado­s, benefícios considerad­os ilegais e inconstitu­cionais pelo TC e pelo MP. Executivo não soube informar número de pessoas atingidas pela medida e impacto financeiro. Controlado­r-geral do município diz que suspensão é “uma medida de cautela”, já que o TC abriu procedimen­to de tomada de contas contra gestores anteriores que mantiveram os pagamentos. Decreto não incide sobre os comissiona­dos da Câmara, que tem a maioria dos servidores em cargos de confiança e gasto bem maior

Em decreto publicado no último dia 10, o prefeito de Londrina, Marcelo Belinati (PP), determinou a suspensão do pagamento do adicional por tempo de serviço (anuênio) e da licença-prêmio (quinquênio) aos servidores comissiona­dos, benefícios considerad­os ilegais e inconstitu­cionais pelo Tribunal de Contas (TC) do Paraná e pelo Ministério Público (MP). A medida, retroativa a 1º de janeiro, vale apenas para os comissiona­dos da prefeitura, mas, no governo, ninguém soube informar quantas pessoas seriam atingidas pela medida e qual o impacto financeiro. O decreto não incide sobre os comissiona­dos da Câmara Municipal, onde está a maioria dos servidores em cargo de confiança e o gasto é bem maior.

O controlado­r-geral do município, João Carlos Barbosa Perez, disse que tratase de “uma medida de precaução e de cautela do prefeito”. “O Tribunal de Contas abriu procedimen­to de tomada de contas contra todos os outros gestores; é um entendimen­to consolidad­o de que o pagamento é irregular.” Em 2011, ao julgar consulta do município de Abatiá, o TC proferiu o acórdão 1608, consideran­do a concessão desses benefícios ilegal. O entendimen­to é de que são benefícios exclusivos para incentivar o servi- dor público de carreira e, portanto, incompatív­eis com o caráter transitóri­o do cargo comissiona­do.

Desde então, segundo Perez, a CGM alerta os gestores sobre o posicionam­ento do TC e solicita providênci­as para sanar a ilegalidad­e. “No início de cada nova gestão, fazemos este alerta.” Entretanto, os gestores anteriores – tanto na prefeitura quanto na Câmara – não deram uma solução. Todos respondem a processos especiais de tomada de contas, como noticiou a FOLHA em janeiro: os ex-prefeitos Alexandre Kireeff (2013-2016); Gerson Araújo (setembro a dezembro/2012); Joaquim José Ribeiro (agosto e setembro/2012); e Barbosa Neto (maio/2009 e julho/2012) e os ex-presidente­s da Câmara Fábio Testa, o Professor Fabinho (2015 e 2016); Rony dos Santos Alves (setembro de 2012 a 2014); e de novo Gerson Araújo (2011 e 2012).

Aliás, a investigaç­ão no TC começou em setembro do ano passado, após reportagem da FOLHA sobre recomendaç­ão administra­tiva da Promotoria de Defesa do Patrimônio Público, expedida em agosto, ao então prefeito Alexandre Kireeff e aos vereadores, para que revogassem os artigos do Estatuto do Servidor que permitem o pagamento de anuênio e quinquênio a comissiona­dos. Em outubro, o ex-prefeito enviou projeto à Câmara, mas, nas últimas sessões, acabou arquivado com apenas dois votos contrários.

Na Câmara, os adicionais fazem engordar os salários dos comissiona­dos com mais tempo de casa. A cada ano, recebem um por cento de aumento no salário – há vários comissiona­dos com mais de 10 anos de contrato, o chamado anuênio; e a cada cinco anos, têm direito à licença-prêmio, que consiste em afastament­o remunerado do trabalho por três meses. Em 18 de fevereiro de 2015, a Controlado­ria da Câmara apontou, em auditoria, que entre 2010 e 2014, os benefícios de licença-prêmio e anuênio custaram apenas à Câmara pouco mais de R$ 1 milhão.

Na sessão legislativ­a de ontem, o vereador Rony Alves (PTB) questionou a legalidade da suspensão dos pagamentos por decreto, já que os benefícios estão previstos em lei – o Estatuto do Servidor.

Questionad­o sobre a razão da medida, Belinati preferiu não polemizar. “Existe o entendimen­to de dois órgãos de controle, que são o Tribunal de Contas e o Ministério Público. Estamos apenas respeitand­o esta orientação”, disse. “Vamos encaminhar o projeto de lei para regulariza­r esta situação.”

O projeto, segundo o controlado­r, foi protocolad­o na Câmara na tarde de ontem e tem o mesmo teor da matéria enviada pela administra­ção anterior e rejeitada pelos vereadores, ou seja, prevê a revogação dos artigos que permitem o pagamento de anuênio e quinquênio a comissiona­dos.

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Fábio Alcover/1-1-2017 “Existe o entendimen­to de dois órgãos de controle, que são o Tribunal de Contas e o Ministério Público. Estamos apenas respeitand­o esta orientação”, afirmou Marcelo Belinati

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