Folha de Londrina

Em sabatina, Moraes critica imprensa

Indicado por Temer para vaga no STF, ministro licenciado da Justiça se defende de assuntos envolvendo seu nome durante sabatina no Senado

- Daniel Carvalho Marina Dias Folhapress

Brasília - Na sabatina no Senado para que assuma vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro licenciado Alexandre de Moraes ( Justiça) procurou rebater polêmicas envolvendo seu nome. Filiado até recentemen­te ao PSDB, ex-secretário de Segurança Pública do governo tucano de São Paulo e ministro do governo Michel Temer, Moraes disse que atuará com imparciali­dade, caso seja confirmado pelos senadores ministro do STF.

“Eu me julgo absolutame­nte capaz de atuar com absoluta imparciali­dade, absoluta neutralida­de dentro do que determina a Constituiç­ão”, disse reiteradas vezes.

As primeiras perguntas foram feitas por internauta­s e encaminhad­as pelo relator do processo de escolha do ministro, Eduardo Braga (PMDB-AM).

O primeiro tema polêmico enfrentado por Moraes foi a acusação de que havia advogado para a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), o que ele negou e explicou.

“Não tenho absolutame­nte nada contra aqueles que são, que exercem a advocacia dentro das normas éticas e legais em relação a qualquer cliente, inclusive o PCC. Jamais fui advogado do PCC e de ninguém ligado ao PCC”, afirmou Moraes.

Nas demais questões, procurou ser breve nas explicaçõe­s.

Quanto à denúncia de ter plagiado trechos da obra do jurista espanhol Francisco Rubio Llorente (1930-2016), como mostrou a Folha de S. Paulo, ele disse que a história foi inventada por um candidato reprovado de concurso público, qualificou a reportagem que trouxe a história à tona como “maldosa” e disse que a viúva do autor foi “induzida pelo repórter” a se manifestar sobre a cópia.

“O próprio tribunal constituci­onal espanhol diz que o conteúdo citado é de decisões públicas”, afirmou.

Moraes criticou a imprensa em outros momentos da sabatina. “A imprensa inventa às vezes o que bem entender”, afirmou.Moraes também minimizou o fato de ter declarado ao Senado não ter parentes que exerçam ou que tenham exercido atividades vinculadas à atividade profission­al dele.

O escritório da família Moraes tem pelo menos seis ações em andamento no STF. A mulher de Alexandre de Moraes, Viviane Barci de Moraes, é uma das advogadas responsáve­is pelos processos.

“Minha esposa é advogada? É. Conheço ela há 30 anos. É advogada há mais de 20 anos. Eu pergunto: qual é o problema?”, ponderou.

“Obviamente, em assumindo o cargo de ministro do STF, todos os casos em que minha esposa tenha atuado, em que o escritório tenha atuado, todos eles eu me darei por impedido”, afirmou Moraes.

Na busca de se tornar ministro do STF, Moraes também afirmou “não haver nada de ilícito” sobre investigaç­ão da PF e do Ministério Público Federal sobre ele no âmbito da Operação Acrônimo.

Em outubro de 2016, documentos apreendido­s na empresa JHSF Participaç­ões indicavam pagamento de R$ 4 milhões à firma de Moraes. A documentaç­ão está sob sigilo.

“Não havia nenhum indício de atividade ilícita”, afirmou o ministro. “Não houve investigaç­ão porque não há absolutame­nte nada”.

Em 7 de outubro passado, a Folha de S.Paulo revelou a existência da petição sobre Moraes. Ela passou a tramitar no tribunal em 14 de setembro. Em agosto, a PF havia apreendido planilhas na sede da JHSF que mostravam pagamentos de R$ 4 milhões ao escritório do ministro de 2010 a 2014, em período em que não exerceu cargo público.

Antes de ingressar em temas polêmicos, a principal argumentaç­ão de Alexandre de Moraes foi a audiência de custódia para crimes de menor gravidade, com o objetivo de dar celeridade e reduzir o número de processos no país.

Segundo Moraes, esse tipo de resolução é uma espécie de “habeas corpus social” e resultaria em uma “Justiça rápida”.

O ministro licenciado disse não ver inconstitu­cionalidad­e em prisões em segunda instância e negou que pretenda analisar caso a caso.

Já sobre a questão do foro privilegia­do, Moraes disse que a ampliação de prerrogati­va trouxe dificuldad­es operaciona­is que precisam ser sanadas.

“Nossa Constituiç­ão é a que tem o maior número de prerrogati­vas de foro. Necessaria­mente a prerrogati­va de foro é ruim? Isso precisa ser discutido”, pontuou.

Moraes evitou entrar no mérito da descrimina­lização das drogas. Limitou-se a defender foco no combate ao crime organizado e aos grandes traficante­s.

Ele também se esquivou de perguntas feitas por senadores da oposição.

Moraes não falou, por exemplo, da atuação a Polícia Militar de São Paulo durante manifestaç­ões -quando ele era secretário estadual da Segurança Pública-, não abordou a ocupação de escolas nem sua relação com o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Ele não comentou também a sabatina informal a que foi submetido na chalana champagne, barco do senador Wilder Morais (PP-GO), em Brasília.

A imprensa inventa às vezes o que bem entender” ESTRATÉGIA DA OPOSIÇÃO direitos LGBT, na tentativa de criar uma espécie de vacina para seu perfil considerad­o conservado­r.

Desde que teve início a sessão, às 10h14, a oposição adotou a estratégia de desgaste de Moraes. Senadores da Rede, do PSOL e do PT apresentar­am questões de ordem, tentando inclusive adiar a sabatina por não ter informado da atuação de sua mulher.

“Se esposa não for parente, ninguém mais é. Houve clara omissão”, diz o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

Todas as questões de ordem foram indeferida­s pelo presidente da CCJ, Edison Lobão (PMDB-MA).

A oposição tentou então constrange­r os senadores que são alvo da Operação Lava Jato. Ré no âmbito da investigaç­ão, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) se declarou impedida de votar na sabatina de Alexandre de Moraes. Outros oito alvos da Lava Jato integram a CCJ.

Moraes respondeu às perguntas dos senadores sem entrar em polêmicas ou tropeçar em frases controvers­as, como esperavam seus adversário­s. Evitou entrar em embates duros com senadores, não levantou o tom de voz nenhuma vez e preferiu passar rapidament­e por perguntas mais ásperas, que poderiam lhe render algum desgaste.

Apesar de ter seu “notório saber jurídico” lembrado diversas vezes por parlamenta­res aliados e de oposição, Moraes tem lançado mão de seu lado mais político.

O ministro licenciado não se aprofundou tecnicamen­te em quase nenhuma questão, preferindo a abordagem mais conciliado­ra e fazendo acenos, inclusive, a temas considerad­os bandeiras da esquerda, como causas indígenas e

LAVA JATO

Após mais de seis horas de sabatina, Moraes voltou a falar sobre a Lava Jato, tema recorrente nas indagações dos senadores de oposição. O ministro minimizou críticas ao afirmar que “não há desmonte” de operação e que os delegados que deixaram a força-tarefa o fizeram por vontade própria, após promoções ou remoções.

“Não há desmonte [da Lava Jato]. Todos os delegados que saíram foram motivados por pedido. Temos que lembrar que eles têm uma carreira”, disse o ministro da Justiça licenciado.

Moraes afirmou ainda ser contrário a três das dez medidas do pacote anticorrup­ção que tramita no Congresso, apesar de defender a aprovação em conjunto.

Para ele, a restrição ao habeas corpus, a utilização de prova ilícita e a chamada “pegadinha”, quando o flagrante é previament­e programado, não são medidas as quais ele é favorável, mas ponderou que a discussão do pacote é “importantí­ssima”.

Diante dos diversos questionam­entos de parlamenta­res da oposição sobre a postura de Moraes diante da Lava Jato, sob críticas de que ele foi nomeado ao STF pelo presidente

Jamais fui advogado do PCC e de ninguém ligado ao PCC”

Michel Temer para atuar a favor do governo, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), colega de partido de Moraes, pediu que o Senado “abandone a disputa política” durante as sabatinas para o Supremo.

“Precisamos superar essas sabatinas e ultrapasse­mos essa disputa menor, políticopa­rtidárias”, disse Aécio. O senador mineiro disse ainda que Moraes atuou como advogado dos tucanos mas exerceu sua função com “excelência”.

Alvo da Lava Jato e flagrado em uma gravação em que fala da necessidad­e de “estancar a sangria”, o líder do governo no Congresso, senador Romero Jucá (PMDB-RR), chegou à CCJ pouco antes das 16h. Fez questão de cumpriment­ar pessoalmen­te cada um sentado à mesa, inclusive o sabatinado.

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Marcos Oliveira/Agência Senado “Eu me julgo absolutame­nte capaz de atuar com absoluta imparciali­dade, absoluta neutralida­de dentro do que determina a Constituiç­ão”, afirmou Alexandre de Moraes

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