Folha de Londrina

Câmara de Londrina gastou quase R$ 2 milhões com anuênio e licença-prêmio para comissiona­dos entre 2011 e 2017

Benefícios indevidos pagos a funcionári­os comissiona­dos constam em resposta do Legislativ­o encaminhad­a ao Observatór­io de Gestão Pública

- Loriane Comeli Reportagem Local

Não somos contra os cargos comissiona­dos, mas há entendimen­to dos órgãos de controle de que os benefícios são ilegais” ex-prefeitos e ex-presidente­s da Câmara de Londrina desde 2011 – data do acórdão 1608 do TC, que apontou a ilegalidad­e do pagamento de anuênio e quinquênio para comissiona­dos – para eventualme­nte responsabi­lizá-los pelos pagamentos indevidos.

Entre 2011 e 2017, a Câmara Municipal de Londrina gastou R$ 1.917.015,65 com anuênio e licença-prêmio para funcionári­os comissiona­dos, benefícios que no entendimen­to do Tribunal de Contas (TC) do Paraná são indevidos para ocupantes de cargos de confiança. Os dados constam de resposta encaminhad­a pelo Legislativ­o ao Observatór­io de Gestão Pública de Londrina (OGPL), que publicou o documento ontem em sua página em um rede social.

O anuênio, que consiste no aumento de 1% no salário a cada ano trabalhado, foi pago para todos os comissiona­dos de um lista de 218 pessoas que ocuparam cargos de confiança na Câmara no período, somando R$ 1,2 milhão. A licença-prêmio, ou quinquênio, que é a possibilid­ade do comissiona­do tirar licença remunerada de três meses após cinco anos de trabalho, custou R$ 663,6 mil entre 2011 e 2016. O servidor pode optar por não tirar a licença, mas apenas receber os valores relativos a ela. Dos 218 servidores, 28 obtiveram licença-prêmio no período.

O presidente do OGPL, Fábio Cavazotti, disse que a intenção do pedido de informaçõe­s foi “dimensiona­r o valor envolvido”, uma vez que a entidade vinha acompanhan­do as discussões sobre o tema, mas sem saber o que isso representa­va aos cofres municipais. O mesmo pedido foi feito à Prefeitura de Londrina, que ainda não encaminhou resposta ao OGPL. “Não somos contra os cargos comissiona­dos, não há caça às bruxas; são pessoas que ajudam o gestor a implantar seu projeto. Mas, há entendimen­to dos órgãos de controle de que os benefícios são ilegais”, disse Cavazotti.

Desde 2011, o TC manifestou-se pela ilegalidad­e do pagamento de anuênio e quinquênio para ocupantes de cargos de confiança. O entendimen­to é de que são exclusivos para servidores de carreira. Em agosto de 2016, a Promotoria de Defesa do Patrimônio Público encaminhou recomendaç­ão à prefeitura e Câmara para que revogassem os artigos da lei – Estatuto do Servidor Público – que permitem o pagamento. No entendimen­to do promotor que assina a recomendaç­ão, Renato de Lima Castro, não há direito adquirido neste caso, já que os benefícios contrariam a Constituiç­ão Federal.

Em razão de reportagen­s publicadas pela FOLHA, o TC abriu procedimen­tos de investigaç­ão contra todos os

O prefeito Marcelo Belinati (PP) suspendeu, por decreto, o pagamento de anuênio e quinquênio aos seus comissiona­dos há cerca de 10 dias. Na Câmara, o presidente Mário Takahashi (PV) continua pagando. Em sua gestão, já liberou o pagamento de R$ 13 mil. Para ele, não há ilegalidad­e nos pagamentos uma vez que estão previstos em lei.

Cavazotti lembrou que após a eleição de 2016, durante o período de transição, a entidade e o Conselho Municipal de Transparên­cia e Controle Social solicitara­m aos vereadores que se adequassem ao entendimen­to do TC e do MP, mas, àquela ocasião, Takahashi já se manifestav­a pela regularida­de dos pagamentos. “Diante do impasse, acreditamo­s que os órgãos de controle, que apontam a ilegalidad­e dos pagamentos, devem tomar as providênci­as necessária­s”, ponderou.

Em entrevista à FOLHA na semana passada, Takahashi justificou a manutenção dos pagamentos alegando que a lei que os autoriza está vigente. “O único órgão que pode declarar a inconstitu­cionalidad­e de uma lei é o Judiciário. Neste caso, a lei está vigente e sequer existe ação a questioná-la.”

Na semana passada, a gestão Belinati encaminhou à Câmara projeto para revogar os artigos que tratam de anuênio e licença-prêmio aos comissiona­dos. No final do ano passado, com o argumento de se tratar de período eleitoral, a Câmara arquivou o projeto que previa revogação dos benefícios.

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