Gaeco, uma esperança
É o braço do Ministério Público que vem desmistificando esse ar de dignidade ofendida dos políticos, tanto os daqui como os desvelados pela Lava Jato”
Quando todos ainda se achavam traumatizados pelo reajuste das tarifas de ônibus e viam as esperanças murchando (a mediação do Tribunal de Contas revertendo o aumento e depois o Judiciário confirmando), eis que entra em campo o Gaeco para restabelecer um mínimo de confiança determinando a condução coercitiva de empresários e busca e apreensão de documentos. É o braço do Ministério Público que vem desmistificando esse ar de dignidade ofendida dos políticos, tanto os daqui como os desvelados pela Lava Jato, aquele ar falsete de sobriedade, uma escora permanente contra o mínimo sinal de denúncia.
Pelo menos três ações desenvolvidas no Paraná recentemente a Publicano, Voldemort e Quadro Negro revelam quão copiosa e ousada é a corrupção entre nós quase mimética ante as acomodações institucionais nos pedidos de vista de magistrados que protelam o julgamento de deputados ou de burocratas em processos intermináveis. O governador Beto Richa tem sido permeável a tudo isso numa frequência de anomalias jamais havidas em gestões anteriores e isso porque confraterniza com gente envolvida e, de forma pública, até mesmo nos seus sagrados momentos de lazer de automobilismo ou de prática de tênis.
Não se pode lhe atribuir a medida da ingenuidade por não perceber que tal convívio o compromete, mesmo num pecado menor como a cobertura concedida ao Ezequias como seu chefe de gabinete quando deputado estadual e autor da façanha de transformar a sogra em funcionária fantasma do Legislativo e ficar com a grana da trama. Parece não perceber que a tolerância demonstrada nesse caso seria um mau indicador ainda mais com a blindagem lhe oferecida do foro privilegiado, que até esse momento o favorece. Não ter um mínimo de visão crítica desses amigos, como os envolvidos na Publicano e Quadro Negro, o projeta como um pragmático radical da mesma forma que parece não captar o estrago produzido pelo quase fantasma, o parente distante, cada vez mais remoto, o Luiz Abbi.
Pelo menos temos ainda a mecânica institucional expressa nesse braço do Ministério Público, um sinal de vida num cenário tão melancólico. Ações nada têm a ver com o reajuste e sim com licitações supostamente dirigidas em várias cidades do interior e com os mesmos empresários.