Um Copo de Simancol
Dias atrás almocei com meu amigo Caio Cesaro, secretário de Cultura de Londrina. Conheço-o há mais de 25 anos, desde os meus tempos de militante esquerdista na UEL (ele não militou, sempre foi sensato). Um dos principais tópicos de nossa agradável conversa foi o Promic. Àquela altura, porém, não poderíamos imaginar que o programa viria a ser cancelado.
Fiquei muito satisfeito quando Caio me disse que estava no governo para ser secretário da Cultura, e não secretário do Promic. Afinal, cultura é algo muito mais amplo, importante e essencial do que projetos culturais. Existe mais cultura em um parágrafo de Erico Verissimo ou Olavo de Carvalho do que em boa parte das produções culturais financiadas com dinheiro público.
Ainda bem que o Promic foi cancelado. Assim não passaremos a vergonha de ter, por exemplo, um Carnaval financiado com verbas públicas nestes tempos de crise social e ruína econômica. No momento, a Prefeitura tem prioridades além dos blocos carnavalescos.
Sei que alguns artistas — ou melhor, “produtores culturais” — vão reclamar. Talvez até organizem um protesto. Existe aquela regra de ouro da Ann Coulter: “Jamais se coloque entre um esquerdista e sua verba”. Vimos um exemplo bastante típico no caso recente do escritor Raduan Nassar, que bradou sem temor contra Temer mas embolsou a verba do Prêmio Camões, concedida pelo mesmo governo que ele diz odiar. Ah, como eram românticos aqueles tempos em que o poeta português Herberto Helder, mesmo vivendo em total pobreza, recusou o Prêmio Pessoa — uma bolada equivalente ao Camões — porque aceitar prêmios e láureas ia contra seus princípios pessoais. Li Herberto Helder e li Raduan Nassar; posso entender por que o autor de “Elegia Múltipla” é incomparavelmente melhor do que o autor de “Um Copo de Simancol” — desculpe, “Um Copo de Cólera”.