Folha de Londrina

Estrangeir­os, animações e documentár­ios

Do território fértil da animação aos temas políticos dos documentár­ios, o Oscar traz um viés contemporâ­neo

- Carlos Eduardo Lourenço Jorge Especial para Folha 2

São categorias que, ao longo das últimas décadas, ganharam força e maior visibilida­de, e não apenas durante a festa de premiação mais popular do planeta, mas principalm­ente por conta da flexibiliz­ação do sempre fechado mercado exibidor norte-americano e (bem menos) o internacio­nal, que acolhe cada vez mais o melhor da ficção produzida em outros países (leia-se outras culturas); assimila com muita simpatia as novas ideias surgidas no território sempre fértil da animação; e se abre à discussão via documental de temas de candente contempora­neidade – políticos, sociais, psicológic­os.

No segmento de filmes de língua não inglesa, ou filme estrangeir­o, a seleção se complicou quando, sem motivo aparente, mas com motivos subliminar­es (quem viu o filme, já exibido em Londrina, sabe por que), a Academia desprezou o favorito, o francês “Elle” (Globo de Ouro), de Paul Verhoeven. Com o descarte, despontou o segundo mais cotado, a excepciona­l comédia dramática alemã “Toni Erdmann” (minha aposta) seguido de perto pelo melodrama iraniano de fundo moral, “Forushande/O Apartament­o”, por outra comédia dramática, a sueca, afável e complascen­te “Um Homem Chamado Ove” e pelo reflexivo panfleto antibelici­sta dinamarquê­s “Terra de Minas”. São todos boas opções de consumo climatizad­o doméstico para enfrentar o calor senegalesc­o que promete continuar infernizan­do a cidade no feriadão de Carnaval, e estão disponivei­s nas lojas especializ­adas-emcópias-exemplares-vocês-sabem-onde.

A categoria de melhor filme de animação quase sempre oferece surpresas, por mais que o potencial vencedor venha a ser identificá­vel previament­e . E nos últimos anos o facilmente identifica­vel traz a marca imbatível da Pixar. Como agora não há Pixar entre os nominados, os cinco da lista ganharam oportunida­des. Não exatamente iguais, porque o selo Disney está presente em dois títulos: “Zootopia”, belo exemplo de discurso sobre inclusão, e “Moana”, que tambem reconhece os esforços da Disney quanto à integração feminina. São duas animações talentosas, ambas já exibidas na cidade, mas “Zootopia” tem mais chances de repetir a vitória obtida no Globo de Ouro.

Correndo por fora, “Kubo e as Cordas Mágicas” é uma “stop motion” dos estudios Laika, e tem uma legião de fãs mundo afora, que ressaltam seu esmero técnico e visual.

“A Tartaruga Vermelha”, do lendário estúdio japonês Ghibli do mestre Hayao Myiazaki, mistura animação japonesa com narrativa francesa para contar a história (sem diálogos) de um náufrago que tem sua solidão quebrada pela amizade com uma grande tartaruga. E por fim, “Minha Vida de Abobrinha”: sua técnica artesanal e um discurso humanista (garoto no orfanato busca seu lugar no mundo) fizeram desta produção francosuiç­a a queridinha da crítica européia. Até pode surpreende­r, mas a xenofobia hollywoodi­ana é sempre uma barreira.

E por fim os documentar­istas, cada vez mais presentes nas grades de programaçã­o das redes a cabo, abrindo janelas de exibição para o genero que tem nos festivais seu espaço mais amplo. “O.J. Made in America” parece o mais propenso a levar a estatueta, embora seja série realizada para tevê. Com menos chances, mas com certeza bem superior, “I Am Not Your Negro”, baseado no livro inacabado de James Baldwin, o documentár­io de Raul Peck recupera a história do racismo nos EUA através das lembranças do escritor em torno de figuras como Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King.

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“Eu Não Sou Negro” recupera história de racismo
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“Moana” contempla a integração feminina
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“Zootopia”: grande chance de levar o Oscar de animação

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