Oposição e sabotagem
Este dia 15 de março abre um novo capítulo na política e sociedade brasileiras. Vimos manifestações em diversas capitais do Brasil, organizadas por sindicatos e movimentos sociais. A pauta principal é a reforma da Previdência apresentada pelo governo Temer. Porém, há outras motivações presentes. Pelas bandeiras e cartazes, é fácil perceber a amplitude de pautas, bem como sua origem. Trata-se de posições conhecidas da esquerda brasileira, parcamente adaptadas ao atual momento.
Passada a tempestade do impeachment, estamos vendo agora a reorganização da esquerda. Uma vez mais, as classes profissionais que fazem corpo na manifestação estão sendo instrumentalizadas. A pauta é sobretudo política (no sentido mais raso do termo) e com interesses bem definidos.
A esquerda está se acostumando à ideia de voltar à oposição. Depois da choradeira das acusações de “golpe”, os cadetes ideológicos começam a aceitar parcialmente o resultado. Aceitam a posição, mas praticam sabotagem.
Houve um timing para isso, que chegou justamente agora. Num processo de mudança da estrutura do governo, o novo governo exonerou cargos até o terceiro escalão, tanto na administração direta quanto nas estatais. Todos os sindicalistas que ocupavam empregos bem remunerados em Brasília agora retornaram às bases e passaram a articular os movimentos.
A reforma da Previdência precisa mesmo de uma discussão mais aprofundada. Porém, o melhor instrumento para isso são as audiências e sessões que o Congresso promove (e caso não promova, deve ser instado pela população a fazê-lo).
A tática da interrupção abrupta irá apenas aumentar a crise institucional em que estamos. A esquerda, quando no poder, criticou a oposição por supostamente trabalhar contra o Brasil para angariar objetivos políticos. Agora, aparentemente, adota a mesma estratégia perversa. ADEMAR PEREIRA é educador, empresário e vice-presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep)