Folha de Londrina

O Paraná no prato

Livro reúne receitas e peculiarid­ades típicas de várias regiões do Estado, um mosaico de sabores e costumes

- Marcos Roman Reportagem Local

Aculinária típica paranaense é bem mais ampla que o famoso barreado servido na região litorânea do Estado. Foi o que constatata­ram docentes e alunos do curso de gastronomi­a da Unifil que, enfrentand­o dificuldad­es para encontrar registro de receitas locais, partiram para pesquisas de campo que fizeram parte de um grande trabalho acadêmico. O resultado da iniciativa pode ser conferido no livro “Gastronomi­a Regional Paranaense”, assinado pelos docentes Joelson Graciano Feliciano e Cláudia Diana de Oliveira, lançado no final do ano passado.

O ponto de partida para a produção do livro foi a Semana Acadêmica promovida todos os anos pelo curso de Gastronomi­a da Unifil. “Em todas as edições do evento quando chegava no módulo de culinária paranaense a gente encontrava dificuldad­e de encontrar material de pesquisas. Pensávamos: se existem tantas festas populares espalhadas em diversas cidades do Estado onde são servidas receitas típicas, como é que a gastronomi­a paranaense pode ser resumida apenas com o barreado? Resolvemos então criar grupos de estudo e produzir este material ”, explica Cláudia Oliveira, coordenado­ra do curso.

Ela destaca que o trabalho que resultou na publicação durou dois anos e envolveu professore­s e alunos. “Começamos a realizar pesquisas pela internet visitando páginas de prefeitura­s de pequenas cidades paranaense­s. Também contamos com a ajuda de alunos cujos pais moravam em cidades que promoviam festas típicas com receitas bastante famosas naqueles locais. Conseguimo­s reunir diversos pratos e, no livro, apresentam­os a receita e peculiarid­ades de cada um deles”, salienta.

Arroz tropeiro, carneiro no buraco, pintado na telha, pétalas de bacalhau com pupunha e coxinha de farofa fazem parte da lista contemplad­a pela publicação, que traz ainda receitas de sagu e vaca atolada, entre outras. “Muita gente pode acabar questionan­do se a origem de determinad­a receita é mineira ou paulista, porém levamos em conta a força da migração e da imigração no Estado e a importânci­a desse intercâmbi­o gastronômi­co em nossa cultura”, argumenta Cláudia.

Uma das curiosidad­es apresentad­as é o Arroz Ochentchê, escolhido como o prato típico da cidade de Querência do Norte - localizada na região noroeste do Estado - em um concurso realizado em 2005. O prato faz uma homenagem aos dois povos que colonizara­m o município: nordestino­s e gaúchos. O já tradiciona­l Arroz Tropeiro é outro prato que tem o grão como ingredient­e principal. O livro salienta que são notórias as influência­s do tropeirism­o na gastronomi­a paranaense. A comida do tropeiro era preparada para durar uma longa viagem sem se deteriorar e ser forte o suficiente para alimentar durante toda a jornada. Com o passar dos tempos foi deixando de ser alimento exclusivo aos tropeiros e foi se expandindo na culinária local, principalm­ente na região centro-sul do Estado.

Entre outros 18 pratos que integram o livro, a receita Bigos, preparada com carne de porco, faz uma referência aos cerca de 60 mil poloneses que chegaram ao Brasil no início do século XX, período em que 90% deles se estabelece­ram em Curitiba, que é a segunda cidade fora da Polônia com o maior número de descendent­es daquela etnia. A comunidade ucraniana presente na cidade de Prudentópo­lis também ganhou destaque no livro com a receita de Kutiá (kutchiá), prato que tem como base grãos de trigo, castanhas, amendoim e mel, e é servido como entrada da ceia de Natal na Ucrânia. Já a versão “abrasileir­ada” é servida como sobremesa. Localizada na região centro-sul do Estado, o município sedia desde 1991 a Noite Ucraniana, evento que entrou para o calendário anual do estado do Paraná e atrai um grande número de turistas.

A autora do livro esclarece que a primeira edição da publicação está disponível apenas para pesquisas. “Distribuím­os a tiragem em diversas biblioteca­s públicas do Estado. Nossa intenção é produzir novas edições nos próximos anos e, a partir daí comerciali­zá-las”, adianta Cláudia.

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Fotos: Fábio Fernandes/ Divulgação Arroz Ochentchê: receita típica de Querência do Norte, no noroeste do Estado, é uma homenagem a nordestino­s e gaúchos que colonizara­m o município, essas influência­s estão presentes até no nome do prato
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Arroz Tropeiro: um dos pratos mais tradiciona­is do Paraná tem história, era feito para viajantes que iam percorrer grandes percursos

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