Folha de Londrina

Juíza defende fortalecim­ento da rede de serviços

- (C.A.)

A juíza da 1ª Vara da Infância e Juventude da Comarca de Londrina, Camila Tereza Gutzlaff, afirma que a mudança na Lei da Adoção não vai resolver a questão das crianças que passam muito tempo abrigadas se não houver um fortalecim­ento da rede de serviços que acompanham os casos. “É mais necessário que haja mais psicólogos e assistente­s sociais para acompanhar­em os casos e agilizarem os processos”, opina.

Hoje, na comarca, há 87 crianças e adolescent­es vivendo em abrigos e 216 adultos pretendent­es à adoção. Só há duas crianças, entretanto, que têm menos de 7 anos e estão na faixa de idade mais procuradas. “Temos um bebê e uma criança maior com autismo severo. Não significa necessaria­mente que não tenha crianças, mas sim que, quando a criança fica disponível para adoção, os processos andam rápido”, destaca.

A juíza explica que os casos de crianças que ainda não tiveram o poder familiar dos pais destituído são avaliados a cada seis meses para saber se estão ocorrendo tentativas de reabilitaç­ão que permitam o retorno das crianças à família. A maior parte dos pais e mães que tiveram os filhos acolhidos em abrigo, segundo a juíza, são usuários de drogas a quem deve ser oferecida a possibilid­ade de tratamento antes da destituiçã­o.

“Esses pais não aceitam que não podem cuidar dos filhos, então o processo acaba sendo litigioso”, comenta, explicando que até esgotarem-se as possibilid­ades de tratamento dos pais, o posterior processo para destituiçã­o do poder familiar e a busca por familiares que porventura possam ficar com as crianças, a demora pode ser grande. “Nesse período a criança fica acolhida, mas quando demora muito ela chega a uma idade em que não será mais adotada”, lamenta.

O fortalecim­ento da rede de serviços, o que inclui psicólogos, assistente­s sociais e Centros de Assistênci­a Psicossoci­al, é importante para agilizar o atendiment­o. “Os serviços têm que dar conta de atender os pais, permitirem que se recuperem... Caso contrário não adianta mudar a lei”, reafirma.

Como a maioria dos abrigados na região de Londrina – que conta com seis abrigos – são adolescent­es, Camila reforça a importânci­a do apadrinham­ento. “É uma forma de dar condições para que os adolescent­es se preparem para a vida adulta plena, através de cursos, e também que tenham noção do que é viver em uma família.”

Interessad­os em apadrinhar podem acessar www. abraceumfu­turo.com.br.

PRECONCEIT­O

Lídia da Conceição Lucas Loback, coordenado­ra do Nuselon, uma das instituiçõ­es de acolhiment­o em Londrina, observa que a maioria das crianças que chegam ao local já tem 11 anos ou mais, o que praticamen­te impossibil­ita a adoção. “Um dos maiores problemas é o preconceit­o das famílias, que não querem os mais velhos”, lamenta. Outra questão é a expectativ­a dos adotantes, que nem sempre compreende­m que as crianças possuem uma história anterior que não pode ser desprezada, o que acaba resultando inclusive em “devoluções”. “Os adotantes querem satisfazer um desejo próprio e não o da criança”, critica.

Entre os acolhidos do Nuselon, há muitos adolescent­es em condições de serem adotados. As crianças menores, ao contrário, possuem vínculos com a família de origem. “Há casos de mães e pais que estão em clínicas para dependente­s químicos. Com apoio, é possível que consigam se recuperar”, diz.

Ela relata que, entre as crianças e adolescent­es, há quem tenha expectativ­as de voltar para a família de origem e quem deseje a adoção. “Os mais velhos, porém, sabem que não há famílias para recebê-los. É sofrido, porque eles sentem a falta dos cuidados familiares, mas nós temos que ser realistas e falar a verdade”, pondera.

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