Folha de Londrina

‘Eu não acreditava que estava doente’

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Muitos pacientes ficam em choque quando recebem o diagnóstic­o de que são epiléptico­s. Uma das primeiras reações é a negação. É o caso da professora de Química, Waleria Pickina Silva Alves, de 37 anos, que por três anos sentiu os sintomas sem se tratar adequadame­nte até que em outubro de 2016 teve uma convulsão tônico-clônica. Entre os sintomas estão a alteração no olfato, crise na visão, desmaio e perda de memória recente. “Fui ao hospital, fiz exames de ressonânci­a magnética, tomografia, e descobri que tenho uma atrofia no lobo temporal. Conversand­o com a médica neurologis­ta descobri que estava tendo epilepsia. As crises aumentavam na época de término de bimestre, porque era muito estressant­e e a sala de aula estava agitada demais. Até que meu organismo não aguentou mais. Atender 40 a 45 alunos é complicado”, conta.

A primeira pessoa a desconfiar de que Waleria poderia ser epiléptica foi a sua irmã. “Ela é fonoaudiól­oga e falou para eu procurar um neurologis­ta, mas eu não acreditava que estava doente. Eu achava que era estresse de sala de aula. Eu gosto de dar aula e quando fui diagnostic­ada foi um choque muito grande. Entrei em depressão e passei a ter síndrome do pânico e síndrome de ansiedade”, revela, contando até que parou de tomar os medicament­os. “Por não tomar a medicação as crises voltaram.”

Muitas vezes uma crise pode gerar riscos. “A primeira vez que aconteceu uma crise eu estava no banheiro e caí no chão”, relembra. Em outro episódio ela estava tirando o carro da garagem quando perdeu a consciênci­a. “O carro foi parar no portão e eu poderia ter batido no muro. Só me lembro do meu marido falando para parar de acelerar”, conta. Desde então Waleria deixou de dirigir.

A professora observa que precisa se cuidar para não ficar depressiva. “Por causa dos medicament­os tenho vontade de dormir o dia inteiro. Mudei os horários de sono e procuro fazer atividade física. Treino taekwondo, porque me deixa muito feliz, pois mexe com o equilíbrio”, expõe, observando, no entanto, que precisa lidar com a incredulid­ade dos outros. “As pessoas olham a sua aparência e não acreditam que você tem a doença, acabam não acreditand­o no que você fala. Eu falo que estou bem porque estou medicada e fora de situações de conflito que desencadei­am a epilepsia”, destaca.

Afastada das salas de aula, Waleria continua na escola dando apoio aos outros professore­s. “Estou me saindo bem, me sentindo útil e isso me deixa muito feliz.” Ela orienta as pessoas que sentirem dores de cabeça constantes ou qualquer outro sintoma relacionad­o a epilepsia a procurar um neurologis­ta o quanto antes. “Eu me arrependo de não ter procurado um médico antes”, desabafa.

( V.O.)

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