Folha de Londrina

Incerteza no campo

Mais uma vez, produtores de trigo iniciam o plantio da cultura com expectativ­a de preços abaixo do custo de produção. A saca está na casa dos R$ 31, aproximada­mente 20% menor do que no mesmo período do ano passado

- Victor Lopes Reportagem Local

Ofinal do mês de abril se aproxima e produtores de algumas regiões do Paraná, principalm­ente no Norte Pioneiro, já iniciaram o plantio de trigo para a safra de inverno. Cultura tradiciona­l no Estado – que juntamente com o Rio Grande do Sul representa 95% da produção nacional – pode mais uma vez passará por percalços, ligados principalm­ente à baixa remuneraçã­o do triticulto­r. Uma “história sem fim”, que se repete ano após ano, justificad­a nesta safra pela ótima produção e qualidade mundial, a concorrênc­ia com o Mercosul e a própria sazonalida­de da cultura.

Pelo que se vê até agora, mais uma vez, o produtor não vai conseguir arcar com os custos de produção. A conta é simples, produzir uma saca de trigo custa em média R$ 39 ao produtor. Neste primeiro trimestre de 2017, o preço está na casa dos R$ 31, aproximada­mente 20% menor do que no mesmo período do ano passado, quando custo e venda empataram. Em toneladas isso representa uma diferença de R$ 231: R$ 660 contra R$ 429. “Em 2016, os custos já estavam empatados com a comerciali­zação. Agora, a cultura está dando prejuízo aos produtores”, explica Carlos Hugo Godinho, analista de trigo do Departamen­to de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultur­a e Abastecime­nto (Seab).

Movimentaç­ão de preços que, claro, impacta na produção estadual. A expectativ­a é de uma colheita até agosto de 3,2 milhões de toneladas, queda de 4% frente a ótima safra do ano passado. A área também deve reduzir em torno de 4%, fechando em 1,048 milhão de hectares. Hoje o País produz em média 6 milhões de toneladas, mas tem uma demanda de 11 milhões, suprida por países do Mercosul, Canadá e Estados Unidos. Vale dizer que esse trigo importado – além de altamente competitiv­o e de qualidade – é importante para as misturas propostas pela indústria.

A Argentina, por exemplo, é um dos principais exportador­es do trigo para o Brasil (em torno de 3 a 4 milhões, principalm­ente para os moinhos do Nordeste), finalizou a colheita da safra em janeiro e vem com safra cheia neste ano. “Eles vêm com uma safra muito boa e têm um valor mais em conta nos custos de produção. Ou seja, é mais trigo entrando no País.”

Apesar do produto argentino forte nos moinhos nacionais neste ano, Godinho acredita que de forma geral a produção mundial pode ser um pouco menor, principalm­ente devido aos Estados Unidos. “A safra americana vai diminuir um pouco a área, com projeção menor para o trigo de inverno. Isso pode fazer a produção global cair um pouco”.

Mesmo assim, o especialis­ta acredita que, de forma geral, o cenário dos produtores é pior do que ano passado. Na região de Londrina, por exemplo, a queda estimada na área de plantio é de pelo menos 10%. Muitos iniciaram o plantio pouco antes do feriado, no dia 20. “A safra argentina deve ficar em torno de 15 milhões de toneladas, sendo o país nosso principal concorrent­e e fornecedor. A grande questão é que quando se trata da safra de inverno em larga escala, as opções não são muitas, sendo o milho safrinha, trigo e cevada”.

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Ricardo Chicarelli

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