Folha de Londrina

A mesma encruzilha­da

-

Nossas eleições sempre tiveram seu traço ideológico-doutrinári­o, mas a mais aguda delas iria se dar em 1960 quando ficou mais nítido o choque entre correntes inconciliá­veis - a do liberal cosmopolit­ismo, definido na campanha da maioria dos jornais à exceção de “Última Hora” em favor da “free interprise”, a livre empresa e a de traço “nacional trabalhist­a” pela defesa do desenvolvi­mentismo ao estilo Getúlio Vargas. No Congresso Nacional havia a frente liberal e a nacionalis­ta em permanente conflito e também suas estruturas de apoio que iam além do ideário dos partidos como o ISEB, Instituto Superior de Estudos Brasileiro­s, que Juscelino criou com o propósito de contrabala­nçar a potência da ESG, Escola Superior de Guerra, que pregava obviamente o alinhament­o na Guerra Fria ao Ocidente, cristão e democrátic­o e ainda falanges como o IPESs, Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais do estrategis­ta Golbery do Couto e Silva e a ultradirei­ta de Amaral Neto no IBAD, Instituto Brasileiro de Ação Democrátic­a.

Passados tantos anos com mudanças profundas e revezament­os no poder no mundo, entre elas a vitória do primeiro presidente negro nos Esteites, continuamo­s até hoje no mesmo choque entre liberalism­o e intervenci­onismo, inclusive no andamento das reformas de Michel Temer e seus recuos estratégic­os para mexer no trabalho e na previdênci­a, o oposto àquelas de base de João Goulart e que o derrubaram. Dá a impressão que o processo civilizató­rio não ajuda a uma visão de mudanças que não estejam no rame rame de sempre e que momentos relevantes como o das “Diretas Já”, da vitória de Tancredo, a entronizaç­ão da Carta de 1998 e mais as devassas dos anões do orçamento, a derrubada de Collor e agora a Lava Jato com o aflorament­o de um tsunami de corrupção não trouxeram nutrientes ao pensamento nacional e no pega “nós contra eles” persistimo­s na mesma encruzilha­da, o que é de uma pobreza assustador­a.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil