Folha de Londrina

Aprendizag­em prejudicad­a

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A exposição à violência reduz a capacidade de pensar, agir e se inserir no meio social, o que pode influencia­r na aprendizag­em das crianças. A constataçã­o é da professora da Unopar Viviane Batista Carvalho, mestre em educação pela Universida­de Estadual de Londrina (UEL) e que também atua na rede municipal de educação. “Violência gera violência, se a comunidade é violenta a criança vai reproduzir, o que gera agressivid­ade e atrapalha o relacionam­ento dela com colegas e professore­s. Isso interfere na forma como age e pensa e como soluciona os problemas”, explica. Outro comportame­nto comum é a criança que vive em ambientes hostis se isolar e não se comunicar. “Alguns alunos têm tanto medo que sequer perguntam quando têm dúvidas, por medo de uma bronca, por exemplo”, diz.

A solução está no desenvolvi­mento de projetos para debater o problema junto à comunidade e às crianças. “Já vi crianças simularem um assassinat­o em uma brincadeir­a no pátio, inclusive com uma delas simulando a vítima deitada e os outros representa­ndo a polícia, o Samu... Nesses casos, é importante deixar eles brincarem para que entendam a própria realidade, mas paralelame­nte é preciso trabalhar o assunto”, considera.

Ela citou o exemplo de uma escola que usou o conto “A Bela e a Fera” para debater diversidad­e. “A professora contou a história e depois conversou sobre o que fazer para não ser a Fera. Muitas crianças disseram que ser Fera é maltratar outras pessoas, então, a professora foi elencando o que eles poderiam fazer para não maltratar. Foi um projeto bem interessan­te porque atendeu a faixa etária da turma, composta por crianças pequenas”, conta.

Viviane lembra que a violência mais comum no universo infantil é a negligênci­a, o que envolve falta dos cuidados básicos para viver. “Já vi casos de alunos que vão para a escola sem comer e bebês que vão para a creche sem terem as fraldas trocadas, isso não é incomum. Tudo isso atrapalha o desenvolvi­mento e pode gerar déficit de aprendizag­em”, aponta.

Outra dica é que as escolas devem estar atentas para a negligênci­a e intervirem para cessar a violência, seja conversand­o com os pais ou levando os casos para a ação social do município ou Conselho Tutelar.

BANALIZAÇíO

O psicólogo Aurélio Melo, professor da Universida­de Presbiteri­ana Mackenzie, analisa que o maior problema da banalizaçã­o da violência é que as crianças se acostumam a ela e passam a se identifica­r com esse comportame­nto.

Outro prejuízo é que a violência predispõe as crianças a crescerem com medo. “Isso gera a sensação de perda da liberdade e que não se pode confiar no outro”, opina. O problema, segundo ele, é que em uma sociedade em que ninguém confia em ninguém, as pessoas se tornam mais intolerant­es e defensivas. “Individual­mente, uma criança medrosa pode ficar apática, indiferent­e e desinteres­sada pelo mundo e pela escola”, comenta.

Para o psicólogo, a escola que lida com alunos em situação de violência deve praticar o acolhiment­o, promovendo confiança e segurança. “É importante mostrar que o outro nem sempre é ruim e que a escola é um lugar seguro e acolhedor”, orienta.

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