Miséria predispõe ao problema
Em uma escola estadual na Zona Leste de Londrina, a miséria está diretamente ligada à violência que permeia a comunidade e interfere no rendimento escolar dos alunos. “Mais de 50% dos alunos vivem com bolsa família e somos uma das escolas que mais faz entregas pelo programa Leite das Crianças”, observa a diretora Aracelle Motta.
Entre a comunidade escolar, a exposição constante à violência fica evidente no medo. “Temos mães que não vêm às reuniões por medo de sair à noite e muitas faltas de estudantes que não podem se arriscar a sair sozinhos quando tem algum conflito no bairro”, relata ela.
Uma das ações para diminuir o problema foi o desenvolvimento de projetos que aproximam escola e comunidade. Esportes, artesanato e informática passaram a ser oferecidos para a vizinhança, o que provocou a valorização do ambiente escolar e praticamente acabou com os conflitos dentro da instituição. A violência social, que se traduz na falta de alimentos e cuidados básicos, também influencia negativamente a aprendizagem. “Em uma casa onde sequer tem gás para cozinhar, a criança não consegue se desenvolver”, lamenta, lembrando que as condições sociais não impedem que haja muitas histórias de superação.
É o caso da aluna Maria (nome fictício), 14 anos e que cursa o nono ano na instituição. Aos 2 anos, ela perdeu a mãe, que foi assassinada por uma bala perdida. As adversidades da vida, porém, não a impediram ser uma excelente aluna, dedicada aos estudos e educada com professores e colegas. “Minha mãe morreu grávida e desde então eu moro com meu pai e minha avó, que foi quem me ensinou a me comportar e me dedicar à escola”, conta.
Apesar da família prover os alicerces para que a adolescente se desenvolva, ela afirma que a violência na comunidade atrapalha. “Perto da minha casa há muita gente usando drogas ou bebendo, a movimentação não para. É difícil ser adolescente nestes lugares, não conseguimos nem fazer amizades”, desabafa ela, que pretende fazer faculdade de pedagogia e um dia ser professora.
A professora Eronita Cardoso Oliveira, que também já dirigiu a escola, lembra que a instituição de ensino já enfrentou casos de violência até mesmo na sala de aula, mas que o trabalho intenso de esclarecimento dos familiares ajudou a melhorar a situação. “Instituições sociais e a igreja do bairro também aderiram à campanha, o que colaborou para cessar o problema dentro da escola”, conta.
Ela percebe, entretanto, que a vida em um ambiente hostil impõe aos estudantes uma dificuldade para resolver conflitos de forma pacífica.
Racismo e preconceito por causa da condição social dos alunos são outras dificuldades a que são submetidos diariamente, assim como casos de familiares presos, abusos físicos e sexuais, convivência com cenas de crimes, violência doméstica e gravidez na adolescência. Diante da falta de experiências positivas, a professora percebe que muitos não conseguem sequer interpretar um texto porque não têm outras referências que permitam o aprendizado. A solução encontrada pela equipe docente para lidar com o problema é a abordagem afetiva, com carinho e acolhimento. “O aluno tende a responder de acordo com o jeito como é tratado. A afetividade é o que mais funciona”, diz. (C.A.)