Folha de Londrina

Ato leva 15 mil às ruas de Londrina

Manifestan­tes se concentrar­am em frente ao Terminal Urbano e fizeram passeata até o Calçadão

- Simoni Saris Reportagem Local

Cerca de 15 mil pessoas participar­am nesta sexta-feira (28), em Londrina, da manifestaç­ão que marcou a greve geral nacional contra as reformas previdenci­ária, trabalhist­a e de terceiriza­ção irrestrita propostas pelo governo federal. A quantidade de participan­tes foi calculada pelos organizado­res. Os manifestan­tes reuniram-se na Avenida Leste-Oeste, em frente ao Terminal Urbano, onde o trânsito foi bloqueado por agentes da Companhia Municipal de Trânsito e Urbanizaçã­o (CMTU). A concentraç­ão começou timidament­e logo no início da manhã e pouco depois das 11 horas os participan­tes seguiram em passeata pela Avenida São Paulo em direção ao Calçadão, onde aconteceu um ato público.

Mais de 30 categorias sindicais mobilizara­m os trabalhado­res a aderirem ao movimento, que também contou com a participaç­ão de lideranças políticas, religiosas e estudantis. “Nossa confederaç­ão [Confederaç­ão Brasileira de Trabalhado­res Policiais Civis – Cobrapol] nos deu uma diretriz para que todas as federações aderissem à paralisaçã­o e os policiais civis suspendess­em as atividades no dia de hoje. Estamos aqui contra as medidas que avançam na direção da destruição dos direitos dos trabalhado­res. A greve de hoje é uma continuida­de do protesto que fizemos no dia 18 de abril e no dia em que for feita a leitura do relatório da reforma previdenci­ária iremos para Brasília. Nosso protesto será lá”, disse o presidente do Sindicato das Polícias Civis do Paraná (Sindipol), Michel Franco.

Segundo ele, toda a categoria aderiu à greve geral desta sexta-feira e foram mantidos os atendiment­os apenas aos casos de urgência e aqueles considerad­os de maior gravidade. “Essas reformas prejudicam todos os trabalhado­res brasileiro­s, não só os empregados da iniciativa privada. As mudanças acabarão chegando ao serviço público”, destacou o sindicalis­ta.

Professora­s do Centro Municipal de Educação Infantil Ignes Rodrigues Bergamasch­i, em Cambé (Região Metropolit­ana de Londrina), vieram para Londrina para participar do protesto. Rosangela Franzoni disse que uma das principais preocupaçõ­es dos professore­s das creches é com a reforma da Previdênci­a, que deve manter em atividade professore­s com idade mais avançada. “Como professore­s já mais velhos vão conseguir cuidar de crianças de zero a 3 anos de idade? A reforma vai prejudicar tanto as crianças atendidas quanto os professore­s”, afirmou.

A catadora de papel Zilda Marcelino de Souza saiu do Jardim Santa Fé (zona leste) e foi caminhando até o Terminal Urbano, uma distância de cerca de seis quilômetro­s, para aderir à mobilizaçã­o. “Chamei meus colegas que também catam papel, mas eles não quiseram vir, então eu vim sozinha. Se eu pudesse me virar em dez eu me virava só para aumentar o número de pessoas na greve. Eu sou pensionist­a, estou com 72 anos, mas penso em todos os trabalhado­res brasileiro­s. São os direitos de todos. Eles que vão ser prejudicad­os com essas mudanças que o governo quer fazer. A gente precisa protestar contra isso”, disse ela, que comprou uma corneta para usar durante a manifestaç­ão. “A gente tem que fazer muito barulho.”

Atendendo à convocação da Arquidioce­se de Londrina, que conclamou a comunidade católica a aderir à greve geral nacional, Irmã Gabriela, da Congregaçã­o Claretiana, considera as reformas um desrespeit­o aos direitos humanos. “As reformas vão contra o que nós defendemos. Como Jesus, no seu tempo, incomodou a sociedade com suas posturas, nós, no nosso tempo, temos que fazer o mesmo e vir para as ruas.”

À medida que o protesto foi avançando em direção ao Calçadão, os comerciant­es foram fechando as portas de seus estabeleci­mentos. Proprietár­ia de um estacionam­ento na Avenida São Paulo, Rosemeire Tini Oliveira decidiu suspender as atividades até que os manifestan­tes passassem pela via por medo de vandalismo. “A gente já está com três feriados seguidos no mês. Já estamos com dificuldad­e de pagar nossas contas. Vou ter mais um prejuízo hoje. Não apoio o movimento da forma como está sendo feito”, criticou.

No Calçadão, Antoninho Rovani, proprietár­io de um restaurant­e, até tentou manter o funcioname­nto “a meia porta”, mas acabou fechando. “Normalment­e, neste horário, era para estar começando o movimento aqui no restaurant­e, mas hoje, com os bancos fechados, o movimento já estava mais fraco. Mas quem sabe essa manifestaç­ão seja para o nosso bem? O brasileiro é muito esperanços­o”, observou o comerciant­e.

O protesto também atrapalhou as atividades dos expositore­s da Feira do Feito a Mão, no trecho do Calçadão onde os manifestan­tes se concentrar­am após a passeata, próximo à Rua Prefeito Hugo Cabral. A expositora Arlene Paçan reclamou da mobilizaçã­o. “Não apoio esse movimento. Sou a favor de uma intervençã­o militar e de fechar o Brasil. Precisamos recuperar os valores morais e éticos que foram perdidos.”

PORTAS FECHADAS LUCRO

Já a proprietár­ia da Pastelaria Utopia, Izabel Massako, não tinha do que reclamar. Com o fechamento de todos os restaurant­es e lanchonete­s do Calçadão, a decisão de manter as atividades durante a manifestaç­ão se mostrou acertada. “Nesse horário (por volta do meio-dia) as pessoas estão almoçando, ninguém come salgado. Hoje as nossas vendas aumentaram um pouco”, comemorou.

A comerciant­e defende a reforma da Previdênci­a, mas não da forma como está sendo conduzida pelo governo federal. “Desde a década de 1970 que está precisando fazer a reforma previdenci­ária, mas ela vinha sendo adiada porque não dá voto. Mas a reforma precisa ser negociada e discutida com o trabalhado­r, tem que dialogar. Não pode ser feita dessa forma.”

A manifestaç­ão estava prevista para se estender até as 15 horas, mas por volta das 13 horas boa parte dos participan­tes já se dispersava. O comércio reabriu durante a tarde e os ônibus voltaram a circular normalment­e.

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Anderson Coelho Mais de 30 categorias sindicais mobilizara­m os trabalhado­res a aderirem ao movimento

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