Folha de Londrina

Temer é denunciado ao STF por corrupção passiva

Procurador-geral Rodrigo Janot citou que peemedebis­ta recebeu R$ 500 mil do empresário Joesley Batista por intermédio do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (também denunciado), e que ele e seu ex-assessor aceitaram promessa de vantagem indevida de R$ 38 mil

- Letícia Casado Camila Mattoso Folhapress Brasília -

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciou o presidente Michel Temer ao STF (Supremo Tribunal Federal), nessa segunda-feira (26), sob acusação de corrupção passiva. Segundo Janot, “entre os meses de março a abril de 2017, com vontade livre e consciente, o Presidente da República Michel Miguel Temer Lulia, valendo-se de sua condição de chefe do Poder Executivo e liderança política nacional, recebeu para si, em unidade de desígnios e por intermédio de Rodrigo Santos da Rocha Loures, vantagem indevida de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) ofertada por Joesley Mendonça Batista, presidente da sociedade empresária J&F Investimen­tos S.A., cujo pagamento foi realizado pelo executivo da J&F Ricardo Saud”.

“Além do efetivo recebiment­o do montante espúrio mencionado, Michel Temer e Rodrigo Loures, em comunhão de esforços e unidade de desígnios, com vontade livre e consciente, ainda aceitaram a promessa de vantagem indevida no montante de R$ 38 milhões”, diz o procurador-geral na denúncia.

Rodrigo Rocha Loures, exdeputado e ex-assessor especial de Temer, também foi denunciado sob a mesma acusação, em investigaç­ão decorrente das delações da JBS. Loures foi flagrado recebendo uma mala com R$ 500 mil de um executivo da JBS. Segundo a investigaç­ão, o dinheiro era parte de propina destinada a Temer.

A expectativ­a era de que a denúncia fosse oferecida ao ministro do STF Edson Fachin, relator do caso, no máximo até esta terça (27). Fachin determinar­a que fossem cumpridos os prazos previstos no Código de Processo Penal para investigaç­ões com réu preso - de dez dias para a conclusão do inquérito policial e mais cinco para a apresentaç­ão da denúncia.

AVAL DA CÂMARA

A partir de agora, Fachin deve decidir quando enviará a denúncia à Câmara dos Deputados, que precisa dar o aval para o Supremo decidir se abre ou não um processo contra o presidente. Para a autorizaçã­o ser aprovada, são necessário­s os votos de pelo menos 342 deputados.

Se a ação penal for aberta, Temer se transforma em réu no Supremo, podendo então ser condenado ou absolvido ao seu final.

Loures está preso em Brasília desde o último dia 3. Após pedido de prorrogaçã­o do prazo, a Polícia Federal concluiu na semana passada a parte do inquérito relativa às suspeitas de corrupção passiva.

O ex-assessor especial da Presidênci­a é homem de confiança de Temer, segundo o procurador-geral, e foi indicado pelo próprio presidente para tratar de assuntos de interesse da JBS junto ao governo.

Um dos assuntos era um processo no Cade (Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica), órgão vinculado ao Executivo, que tratava de compra de gás da Petrobras por uma empresa produtora de energia pertencent­e ao grupo J&F, que controla a JBS.

Segundo a PF, Loures ligou em abril para o presidente do Cade para tentar resolver o problema de Joesley, e deixou claro ao telefone que aquela era uma pendência do Planalto. Depois, “à margem da tramitação no Cade”, de acordo com a PF, a empresa produtora de energia da J&F fechou um contrato mais vantajoso para comprar gás da Petrobras.

A parcela de R$ 500 mil entregue a Loures tinha a ver com essa atuação, acordada com Temer, segundo a investigaç­ão.

Na sexta (23), a PF concluiu a perícia em uma gravação feita por um dos donos da JBS, Joesley Batista, com o presidente, na noite de 7 de março no Palácio do Jaburu. A perícia afirmou que não houve edições no áudio, como alegava a defesa de Temer.

O resultado da perícia era considerad­o importante para a investigaç­ão de outros dois supostos crimes cometidos pelo presidente: a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso em Curitiba, e a falta de atitude ao ouvir Joesley relatar seus crimes - como o de que teria comprado juízes e procurador­es.

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Evaristo Sá/AFP Cabe agora ao ministro Edson Fachin enviar a denuncia à Câmara dos Deputados, que precisará dar aval para que o STF decida se abre ou não processo contra Michel Temer
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