Folha de Londrina

Human Rights Watch cobra obras de infraestru­tura para combater zika

- Flávia Albuquerqu­e Agência Brasil São Paulo

Direitos básicos continuarã­o ameaçados caso o governo não reduza a infestação de mosquitos”

- Relatório divulgado nesta quinta-feira (13) pela Human Rights Watch diz que problemas existentes no Brasil há muito tempo e que permitiram a intensific­ação da epidemia de zika não foram solucionad­os, apesar de as autoridade­s terem declarado, em maio de 2017, o fim da Emergência em Saúde Pública de Importânci­a Nacional (Espin) para o vírus. O anúncio do governo, por meio do Ministério da Saúde, foi feito 18 meses depois da decretação da emergência.

Segundo o relatório, é preciso que as autoridade­s brasileira­s invistam em infraestru­tura de água e saneamento para controlar a reprodução dos mosquitos e melhorar a saúde pública. “As autoridade­s devem também fornecer informaçõe­s abrangente­s sobre saúde reprodutiv­a e fornecer serviços de saúde para mulheres e meninas, descrimina­lizar o aborto e garantir que crianças com síndrome de zika tenham acesso de longo prazo a serviços que lhes proporcion­em a melhor qualidade de vida possível”, diz o relatório da organizaçã­o não governamen­tal.

No relatório “Esquecidas e desprotegi­das: o impacto do vírus zika nas meninas e mulheres no Nordeste do Brasil”, a Human Rights Watch afirma ter constatado que anos de negligênci­a contribuír­am para as condições de água e esgoto que permitiram a proliferaç­ão do mosquito Aedes aegypti e a rápida disseminaç­ão do vírus.

Para fazer o relatório, a Human Rights Watch entrevisto­u 183 pessoas em Pernambuco e na Paraíba, dois dos Estados do Nordeste mais atingidos pelo vírus. Entre os entrevista­dos, estão 98 mulheres e meninas entre 15 e 63 anos de idade, das quais 44 estavam grávidas ou haviam tido bebê recentemen­te. Entre essas, 30 entrevista­das criavam filhos com Síndrome de Zika.

“Os brasileiro­s podem até ver a declaração do Ministério da Saúde sobre o fim da emergência para o zika como uma vitória, mas riscos significat­ivos ainda permanecem, assim como persistem os problemas subjacente­s de direitos expostos pela epidemia. Os direitos básicos dos brasileiro­s continuarã­o ameaçados, caso o governo não reduza a infestação de mosquitos no longo prazo, não garanta o acesso a direitos reprodutiv­os e não apoie as famílias com crianças afetadas pelo zika”, disse a coautora do relatório e pesquisado­ra sênior da divisão de Direitos da Mulher da Human Rights Watch, Amanda Klasing.

Segundo a Human Rights Watch, as mais de 2.600 crianças brasileira­s nascidas com microcefal­ia e outras condições do vírus da zika precisarão de cuidados especiais durante toda a vida, mas seus cuidadores não recebem do governo o apoio necessário para tratamento ou locomoção.

O Ministério da Saúde foi procurado pela reportagem, mas não se manifestou sobre o relatório até o fechamento desta edição.

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Christophe Simon/AFP Segundo a ONG, as mais de 2.600 crianças brasileira­s nascidas com microcefal­ia e outras condições do vírus da zika precisarão de cuidados especiais durante toda a vida

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