Partiu o tubo do ladrão
Aqui na minha prisão domiciliar em Atibaia, li a sentença do juiz Sergio Moro. Como alguém disse sobre “Raízes do Brasil”, de Sérgio Buarque de Hollanda, é uma obra que já nasce antológica. Espero que, no futuro, o texto de Moro seja lido pelos professores de história aos nossos filhos e netos, como exemplo da degradação moral a que o Brasil chegou sob o governo do PT. E também como prova de que havia brasileiros dispostos a lutar pela justiça, mesmo diante de tanta desfaçatez, mentira e cinismo.
Em certas passagens, a decisão de Moro nos faz lembrar um romance policial de Raymond Chandler ou uma peça de Eugène Ionesco, embora o crime e o absurdo sejam a mais nítida realidade concreta. A robustez de provas documentais, a inconsistência da versão do réu, o clima de subserviência entre os agregados do poder, os esperneios da defesa, a onipresença da corrupção — tudo isso nos salta aos olhos na leitura daquelas 177 páginas.
A sentença tem momentos inesquecíveis, que levam o leitor ao riso, à raiva e à perplexidade. Recomendo a leitura integral do documento, mas gostaria de destacar dois cômicos e reveladores. São trocas de mensagens entre o Sr. Léo Pinheiro, diretor da OAS, e um subalterno responsável por fazer reformas no apartamento do Guarujá e no sítio de Atibaia:
Paulo Gordilho: O projeto da cozinha do chefe tá pronto se marcar com a Madame pode ser a hora que quiser.
Léo Pinheiro: Amanhã as 19hs. Vou confirmar. Seria bom tb ver se o de Guarujá está pronto. Paulo Gordilho: Guarujá também está pronto. Léo Pinheiro: Em princípio amanhã as 19hs. Paulo Gordilho: Léo, está confirmado? Vamos sair de onde a que horas?
Léo Pinheiro: O Fábio ligou desmarcando. Em princípio será as 14hs na segunda. Estou vendo, pois vou para o Uruguai. Paulo Gordilho: Fico no aguardo. Léo Pinheiro: Ok. (...) Paulo Gordilho: Acho o maciço se deslocou e partiu o tubo do ladrão. Vamos ter que abrir.
Não importa o quão alto você esteja, a lei ainda está acima de você.” (Sergio Moro)
Léo Pinheiro: Ok. Vamos começar qdo. Vamos abrir 2 centro de custos: 1º zeca pagodinho (sítio) 2º zeca pagodinho (Praia) Paulo Gordilho: Ok. Léo Pinheiro: É isto, vamos sim. Paulo Gordilho: Dr. Leo, o Fernando Bittar aprovou junto a Dama os projetos tanto de Guarujá como do sítio. Só a cozinha Kitchens completa pediram 149 mil ainda sem negociação. Posso começar na semana que vem. É isto mesmo? Léo Pinheiro: Manda bala. Paulo Gordilho: Ok vou mandar. Léo Pinheiro: Ok. Os centros de custos já lhe passei? Paulo Gordilho: Conversando com Joilson ele criou 2 centros na investimentos. 1. Sítio 2. Praia. A equipe vem de SSA são pessoas de confiança que fazem reformas na oas. Ficou resolvido eles ficarem no sítio morando. A dama me pediu isto para não ficarem na cidade.
Léo Pinheiro: Ok.