Folha de Londrina

À espera do salvador: não aprendemos com a história

- Filipe Muniz FILIPE MUNIZ é estudante de Jornalismo na Unopar Londrina

Parece que não aprendemos com a história. Não é de hoje que nosso país enfrenta problemas, sejam econômicos, políticos ou sociais. Talvez, o Brasil nunca tenha sido para amadores. Porém, diante desses problemas, ficamos muitas vezes em busca de alguém que possa resolvê-los. Rara e pontualmen­te, tomamos as rédeas e agimos em sociedade para propor e implementa­r soluções. Talvez, seja um reflexo da nossa democracia de representa­ção, mas o fato é que às vezes ficamos achando, como diria Caetano Veloso, que “um índio descerá de uma estrela colorida e brilhante para nos salvar”. Estamos sempre à espera de um messias político.

Essa imagem de um homem bom que poderia resolver todos os problemas sociais e os anseios de seu povo não é novidade. Na Bíblia, podem ser considerad­os exemplos os de Moisés, João Batista ou mesmo Jesus. Seja Buda, Maomé, Smith ou Alan Kardec, há sempre um messias nas principais religiões.

Na política, existem vários exemplos. Logo após o mandato de José Sarney e depois de um longo período de ditadura, com cerceament­o de liberdades, tortura e presos políticos, pudemos novamente escolher nosso chefe máximo por meio do voto direto. Com a economia em grave crise, decidimos, claro, pelo “caçador de marajás”, aquele que poderia combater os altos salários de alguns servidores públicos e combater a inflação. Elegemos Fernando Collor. Deu no que deu.

Anos depois, brilha uma estrela, cresce a esperança. Surge a figura heroica do líder sindical, que fala com os pobres, os excluídos, os que se sentiam esquecidos. Somente Lula poderia trazer a justiça social para esse povo que sofria, colocando finalmente o Estado a serviço dos menos favorecido­s e lutando contra as elites. Dilma seria, claro, a continuaçã­o da obra do messias. Marina Silva, com seu discurso de “nova política”, também foi vista por muitos como alguém que tentava usar o messianism­o para se eleger.

Carlos Serra, professor catedrátic­o da Universida­de Eduardo Mondlane, em Moçambique, afirma que o messianism­o político é especialme­nte forte em meios sociais nos quais se conjugam três fenômenos: o grande peso das tradições e regras, a percepção de que estas regras e tradições estão se perdendo e os níveis elevados de pobreza. Parece familiar?

O messianism­o político é visto, com mais frequência, como caracterís­tica de populistas de esquerda. Mas não é sempre assim. Também podem ser vistos como exemplo desse fenômeno a liderança de Hitler, na Alemanha, ou, mais recentemen­te, de Donald Trump, nos Estados Unidos.

No Brasil, o novo messias vai acabar com toda a violência e com as drogas. Vai prender muitas pessoas e vai armar seus discípulos para que façam a justiça. Mas não para por aí. Ele também vai lutar contra essa gente que insiste em amar o semelhante. Vai acabar com os privilégio­s dos indígenas e do universo feminino e dizimar toda a corrupção trazida pelo messias anterior. Ele, e somente ele, vai resolver todos os problemas (menos os econômicos, claro) do nosso país. Em resumo, muitos estão acreditand­o que virá, no seu cavalo, peito nu, cabelo ao vento, aquele, infalível como Bruce Lee, que vai fazer o sertão virar mar. Em pleno 2017 (ou 2018) a esperança de alguns é a chegada do Messias. Nesse caso, literalmen­te.

Parece que não aprendemos com a história.

No Brasil, o novo messias vai acabar com toda a violência e com as drogas”

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