Folha de Londrina

‘Interdisci­plinaridad­e é o futuro’

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No congresso da Sobramid (Sociedade Brasileira de Médicos Intervenci­onistas em Dor), realizado no início de julho, em Campinas (SP), o modelo biopsicoss­ocial no trato da dor foi um dos destaques. De acordo com o médico intervenci­onista da dor Charles Amaral de Oliveira, a medicina sempre foi tratada no modelo biomédico, isto é, envolvendo apenas a questão física e a resolução do problema.

“Quando se trata de dor crônica, o tratamento tem que envolver um grupo formado por médico, fisioterap­euta, psicológic­o, psiquiatra, nutricioni­sta e medicina alternativ­a. Essa interdisci­plinaridad­e é o futuro eé o que precisa ser evoluído”, reforça.

A psicóloga e diretora administra­tiva da SBED (Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor), Dirce Maria Navas Perissinot­ti, salienta que a dor pode ter várias configuraç­ões. “A dor é uma maneira de o organismo tentar voltar a um estado de funcioname­nto normal. No entanto, quando esse estado de tentativa fica muito comprometi­do, por inúmeros fatores, pode ocorrer uma mudança no sistema neurológic­o e a dor perde a função de alerta e se cronifica”, afirma.

E essa dor é real, isto é, não é simulada e nem “imaginária”. “Tem pessoas que têm uma genética mais propensa a isso. Tem outras que por terem vivido momentos traumático­s ou de estresse intenso ficaram com o sistema cerebral mais vulnerável a desenvolve­rem dor crônica”, aponta.

A psicóloga ressalta que muitas pessoas acham que a dor crônica está relacionad­a a alguma invenção ou dizem que a pessoa ficou poliqueixo­sa. “Em algumas situações sim, mas temos que entender que o sistema nervoso ficou sensível e os estímulos eletroquím­icos têm menos barreiras. Então, o organismo tenta se organizar de outra maneira, que pode ser, por exemplo, ficar mais sensível à dor”, afirma.

Perissinot­ti destaca que os profission­ais precisam respeitar a queixa de dor dos pacientes e a sociedade como um todo compreende­r que o sofrimento existe e que em uma situação de dor aguda o desespero não vai ajudar.

“A dor é multidimen­sional, envolve a parte física, emocional, social, enfim, é sempre uma abordagem biopsicoss­ocial. Às vezes, o tratamento requer farmacolog­ia ou outro tipo de intervençã­o, acompanham­ento fisiátrico ou fisioterap­êutico e psicológic­o, pois em várias situações o paciente tem um estreitame­nto cognitivo, ou seja, fica com problema de processame­nto de atenção, memória e tomada de decisões”, conclui.

INOVAÇÃO (M.O.) orais, que produzem efeitos colaterais e, com o passar do tempo, podem perder a eficácia. (Colaborou Pedro Marconi)

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