Folha de Londrina

Omitir voto é estratégia de quase metade dos deputados

Revelar posição antecipada­mente pode resultar em destaque negativo para o parlamenta­r, avalia cientista político: “após a decisão do plenário o voto fica diluído na manada”

- Guilherme Marconi Reportagem Local

Entre os 14 deputados federais do Paraná que preferiram não se posicionar em relação à denúncia contra o presidente Michel Temer estão os londrinens­es Alex Canziani (PTB) e Luiz Carlos Hauly (PSDB) – que são de partidos da base governista.

O petebista afirmou que não se manifestar­ia porque está ouvindo prefeitos, vereadores, lideranças políticas regionais, trabalhado­res e empresário­s para “avaliar o quadro, tomar uma posição madura e bastante realista sobre o relatório”. O tucano disse somente que estava “cuidando da pauta tributária”.

Entre os parlamenta­res de outras regiões do Estado que não se posicionar­am, estão a deputada Leandre (PV ), que irá liberar a bancada do partido, e Osmar Bertoldi (DEM), que segundo sua assessoria, “a tendência seria seguir a orientação do partido”. Os outros 10 deputados que preferiram não se pronunciar se justificar­am por meio da assessoria de imprensa.

Para o professor do Departamen­to de Filosofia da UEL, Elve Cenci, essa estratégia de não anunciar o voto antes do dia 2 de agosto pode ser vantajosa para os deputados. “Se o parlamenta­r abre o voto agora poderá ter um destaque negativo.” Ele lembra que após a decisão do plenário o posicionam­ento individual se perde para a opinião pública: “O voto fica diluído na manada e o prejuízo político pode ser menor, ou seja, reduz danos.” Entretanto, esta aposta de definição favoravelm­ente a Temer pode ser arriscada. “Se 95% do eleitorado é contra o Temer, teoricamen­te seu voto é contra o eleitorado”, pontua.

De acordo com Cenci, o que está em jogo neste momento não é a opinião pública, mas sim as conveniênc­ias políticas. “Mesmo que o governo Temer se arraste até o final, o que mais conta neste momento é que o presidente tem a chave do cofre.” O analista político lembra ainda que os parlamenta­res estão de olho na reeleição em 2018 e, para isso, precisam das verbas e emendas que estão sendo negociadas. “O que os parlamenta­res

analisam é a conveniênc­ia dos benefícios, e com o governo na lona é mais fácil tirar vantagens”, ressalta.

SEDUÇÃO Para o cientista político e professor da Universida­de Mackenzie (SP), Rodrigo Prando, o governo tem a “faca e o queijo” na mão para negociar e o presidente Temer realiza com maestria essa articulaçã­o política. Neste momento, o governo usa ferramenta­s para seduzir ou até mesmo punir os parlamenta­res da base que se rebelarem. “Por exemplo: o deputado Sérgio Sveiter (PMDB) deve sofrer mais represália­s depois ter feito o relatório favorável à tramitação da denúncia na CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça)”.

Por outro lado, o cientista político lembra que o presidente oferece toda estrutura do Estado para os parlamenta­res, como cargos e verbas. “O poder que o governo tem e a distribuiç­ão das benesses que o presidenci­alismo proporcion­a são sedutores.”

Na avaliação de Prando, os parlamenta­res pró-Temer devem repetir o discurso ouvido na CCJ sobre o mesmo tema. “Embora o fato contra Temer ser gravíssimo, os parlamenta­res irão argumentar que a denúncia é frágil”. O professor acredita também que os fatos econômicos irão se sobrepor ao debate político e jurídico nos discursos: “Na visão dos deputados governista­s retirar o presidente agora pode gerar um novo momento de turbulênci­a ao jogar a Presidênci­a na mão de Maia (Rodrigo Maia, presidente da Câmara)”. Segundo ele, esses discursos serão utilizados para contornar um possível constrangi­mento dos deputados que irão anunciar o voto no microfone, de forma nominal.

Outro fator que leva os parlamenta­res a segurar o voto é o silêncio nas ruas. “Esse distanciam­ento do eleitor pode levá-los a acreditar que o descontent­amento está apenas com o Executivo e isso na próxima eleição pode se mostrar como um tremendo engano”, completa Cenci. Para Prando o cálculo dos parlamenta­res é muito mais “mesquinho”: “A classe política quando chega a Brasília se desconecta da realidade.”

JOGO GANHO

Prando avalia que o “jogo está ganho” e as chances de derrota do governo Temer são baixas. “Uma caracterís­tica do Temer é que ele sabe fazer política, não pode ser a política com ‘P’ maiúsculo que todos gostariam, mas ele sabe jogar esse jogo.” Para o cientista político, a vitória na próxima votação garante fôlego para que a reforma da previdênci­a volte a ser a pauta central do Governo. “Só lembrar que mesmo com toda a discussão da denúncia na CCJ na Câmara a reforma trabalhist­a passou no Senado”.

Sobre a tentativa da oposição de esvaziar a votação para que não haja quórum, o cientista político acredita que isso não deva ocorrer. “A oposição não tem força suficiente para segurar isso”, conclui.

O que os parlamenta­res analisam é a conveniênc­ia dos benefícios, e com o governo na lona é mais fácil tirar vantagens”

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Luis Macedo/Câmara dos Deputados Os deputados irão anunciar o voto no microfone, de forma nominal, nos mesmos moldes do processo de impeachmen­t da ex-presidente Dilma Rousseff (PT)
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