Omitir voto é estratégia de quase metade dos deputados
Revelar posição antecipadamente pode resultar em destaque negativo para o parlamentar, avalia cientista político: “após a decisão do plenário o voto fica diluído na manada”
Entre os 14 deputados federais do Paraná que preferiram não se posicionar em relação à denúncia contra o presidente Michel Temer estão os londrinenses Alex Canziani (PTB) e Luiz Carlos Hauly (PSDB) – que são de partidos da base governista.
O petebista afirmou que não se manifestaria porque está ouvindo prefeitos, vereadores, lideranças políticas regionais, trabalhadores e empresários para “avaliar o quadro, tomar uma posição madura e bastante realista sobre o relatório”. O tucano disse somente que estava “cuidando da pauta tributária”.
Entre os parlamentares de outras regiões do Estado que não se posicionaram, estão a deputada Leandre (PV ), que irá liberar a bancada do partido, e Osmar Bertoldi (DEM), que segundo sua assessoria, “a tendência seria seguir a orientação do partido”. Os outros 10 deputados que preferiram não se pronunciar se justificaram por meio da assessoria de imprensa.
Para o professor do Departamento de Filosofia da UEL, Elve Cenci, essa estratégia de não anunciar o voto antes do dia 2 de agosto pode ser vantajosa para os deputados. “Se o parlamentar abre o voto agora poderá ter um destaque negativo.” Ele lembra que após a decisão do plenário o posicionamento individual se perde para a opinião pública: “O voto fica diluído na manada e o prejuízo político pode ser menor, ou seja, reduz danos.” Entretanto, esta aposta de definição favoravelmente a Temer pode ser arriscada. “Se 95% do eleitorado é contra o Temer, teoricamente seu voto é contra o eleitorado”, pontua.
De acordo com Cenci, o que está em jogo neste momento não é a opinião pública, mas sim as conveniências políticas. “Mesmo que o governo Temer se arraste até o final, o que mais conta neste momento é que o presidente tem a chave do cofre.” O analista político lembra ainda que os parlamentares estão de olho na reeleição em 2018 e, para isso, precisam das verbas e emendas que estão sendo negociadas. “O que os parlamentares
analisam é a conveniência dos benefícios, e com o governo na lona é mais fácil tirar vantagens”, ressalta.
SEDUÇÃO Para o cientista político e professor da Universidade Mackenzie (SP), Rodrigo Prando, o governo tem a “faca e o queijo” na mão para negociar e o presidente Temer realiza com maestria essa articulação política. Neste momento, o governo usa ferramentas para seduzir ou até mesmo punir os parlamentares da base que se rebelarem. “Por exemplo: o deputado Sérgio Sveiter (PMDB) deve sofrer mais represálias depois ter feito o relatório favorável à tramitação da denúncia na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça)”.
Por outro lado, o cientista político lembra que o presidente oferece toda estrutura do Estado para os parlamentares, como cargos e verbas. “O poder que o governo tem e a distribuição das benesses que o presidencialismo proporciona são sedutores.”
Na avaliação de Prando, os parlamentares pró-Temer devem repetir o discurso ouvido na CCJ sobre o mesmo tema. “Embora o fato contra Temer ser gravíssimo, os parlamentares irão argumentar que a denúncia é frágil”. O professor acredita também que os fatos econômicos irão se sobrepor ao debate político e jurídico nos discursos: “Na visão dos deputados governistas retirar o presidente agora pode gerar um novo momento de turbulência ao jogar a Presidência na mão de Maia (Rodrigo Maia, presidente da Câmara)”. Segundo ele, esses discursos serão utilizados para contornar um possível constrangimento dos deputados que irão anunciar o voto no microfone, de forma nominal.
Outro fator que leva os parlamentares a segurar o voto é o silêncio nas ruas. “Esse distanciamento do eleitor pode levá-los a acreditar que o descontentamento está apenas com o Executivo e isso na próxima eleição pode se mostrar como um tremendo engano”, completa Cenci. Para Prando o cálculo dos parlamentares é muito mais “mesquinho”: “A classe política quando chega a Brasília se desconecta da realidade.”
JOGO GANHO
Prando avalia que o “jogo está ganho” e as chances de derrota do governo Temer são baixas. “Uma característica do Temer é que ele sabe fazer política, não pode ser a política com ‘P’ maiúsculo que todos gostariam, mas ele sabe jogar esse jogo.” Para o cientista político, a vitória na próxima votação garante fôlego para que a reforma da previdência volte a ser a pauta central do Governo. “Só lembrar que mesmo com toda a discussão da denúncia na CCJ na Câmara a reforma trabalhista passou no Senado”.
Sobre a tentativa da oposição de esvaziar a votação para que não haja quórum, o cientista político acredita que isso não deva ocorrer. “A oposição não tem força suficiente para segurar isso”, conclui.
O que os parlamentares analisam é a conveniência dos benefícios, e com o governo na lona é mais fácil tirar vantagens”