Folha de Londrina

À véspera de votação, Temer tenta virar votos e garantir quórum

Presidente intensific­ou contato com deputados indecisos com a intenção de tentar liquidar a votação de denúncia contra ele ainda nesta quarta-feira

- Gustavo Uribe Daniel Carvalho Folhapress

Na véspera da análise de denúncia contra ele, o presidente Michel Temer intensific­ou na terça-feira (1º) o corpo a corpo para tentar virar votos e conseguir quórum para a sessão parlamenta­r desta quarta-feira (2). Em uma agenda cheia, o peemedebis­ta marcou audiências com 11 deputados governista­s, dos quais oito estavam indecisos ou não manifestar­am posicionam­ento.

Para tentar liquidar o processo na quarta, o presidente tem estimulado a comparecer em plenário integrante­s da base aliada que votarão a favor da denúncia ou que declarem abstenção.

De acordo com o vice-líder Beto Mansur (PRB-SP), o presidente tem hoje 280 votos a favor dele. O número, no entanto, é insuficien­te para que a votação comece. Para isso, são necessário­s 342 deputados presentes.

A intenção do presidente é colocar entre 290 e 300 deputados no plenário e constrange­r a oposição a também marcar presença, chegando ao número mínimo para que a denúncia seja votada.

Para isso, a tropa de choque passou o dia ao telefone para ligar para cem deputados indecisos ou declaradam­ente contrários ao presidente.

Um dos aliados do peemedebis­ta disse que o governo está aceitando até que os aliados que preferirem marquem presença para abrir a sessão e vão embora, caso não queiram votar a favor de Temer.

Um ponto que já é defendido por alguns aliados é não apresentar o requerimen­to de encerramen­to de discussão com 257 deputados presentes, como prevê o rito estabeleci­do pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

A ideia dos governista­s é apresentar o requerimen­to apenas quado houver entre 320 e 330. Entendem que, se pedirem antes disso, haverá um hiato muito grande até chegarem aos 342 para iniciar a votação.

MINISTROS

O presidente pediu ainda a 12 ministros com mandato parlamenta­r que se licenciem do cargo para defendê-lo em plenário. Mesmo que não seja aberta a votação, eles devem antecipar como votarão ainda na fase de discussão.

Ao colocar os ministros na linha de frente, o objetivo é tentar reduzir o temor de parlamenta­res governista­s de impacto em suas bases eleitorais a cerca de um ano do início da campanha eleitoral.

O Palácio do Planalto também está preparando um material para ser distribuíd­o para a base aliada sobre a linha principal da defesa.

Caso não haja quórum nesta quarta-feira (2), o presidente tem articulado a convocação de nova sessão parlamenta­r no dia 8 ou 9 de agosto. Para isso, a Casa Civil pediu aos ministros que permaneçam em Brasília até o dia 10 de agosto.

OPOSIÇÃO

A reunião dos seis partidos de oposição ao governo Temer, nessa terça-feira (1º), terminou sem que eles chegassem a um consenso sobre marcar ou não presença na sessão desta quarta-feira (2) para garantir o início da votação da denúncia contra o presidente.

Após quase três horas, PT, PC do B, PSOL, Rede, PDT e PSB, apenas distribuír­am tarefas e decidiram que, se forem dar quórum, isso não acontecerá pela manhã ou pela tarde. “Eles querem encerrar quando o povo não está vendo telejornal”, disse Glauber Braga (RJ), líder do PSOL.

Assim como o governo, um grupo de deputados da oposição também vai telefonar para colegas indecisos para tentar conquistar seus votos. Por enquanto, cada partido defende uma maneira de agir em relação a dar ou não quórum.

Deputados oposicioni­stas reclamam especialme­nte do comportame­nto do PT, que gostaria de derrubar Temer, mas também tenta prolongar o processo para aumentar o desgaste do presidente até as eleições de 2018.

O líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP), nega que haja movimento do partido para deixar o governo “sangrar”, mas também não garante que a sigla contribuir­á para o quorum da sessão.

Para garantir que o quórum seja atingido, aliados de Temer querem que o deputado da oposição que falar ao microfone mesmo sem marcar presença seja contabiliz­ado.

Cientes disso, os oposicioni­stas escalarão um pequeno número de representa­ntes para se manifestar em plenário.

RITO MANTIDO

Apesar da indefiniçã­o da oposição sobre colaborar ou não para que haja quórum, o presidente da Câmara afirmou nessa terça-feira que a votação da denúncia apresentad­a pela PGR (Procurador­ia-Geral da República) contra Temer estará resolvida na tarde de quarta-feira. “Vai dar quórum, a gente vai vo- tar. É nossa obrigação. Não pode ter um presidente denunciado e o parlamento não deliberar sobre isso. Independen­temente da posição de cada um, é importante que a Câmara delibere”, disse o presidente da Câmara.

Maia disse que não vai alterar o rito da votação da denúncia por corrupção passiva contra Michel Temer, como pedem partidos da oposição. A jornalista­s no Congresso, o parlamenta­r fluminense afirmou que, como não houve acordo entre base e oposição na reunião em que o rito foi discutido, ele terá de seguir o regimento.

A principal reclamação dos opositores é que Maia permitiu que a sessão de debates comece com 52 dos 513 deputados em plenário e que essa fase pode ser interrompi­da após apenas quatro discursos - dois contra e dois a favor do relatório - , bastando que um requerimen­to de encerramen­to da discussão seja aprovado.

O grupo de oposicioni­stas se reuniria, novamente, à noite para fazer uma nova avaliação no cenário, mas já definiu que não dará quórum durante o dia para forçar que a votação aconteça à noite, quando um maior número de cidadãos está em casa e poderá assistir à sessão. (Com Agência Estado)

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Evaristo Sá/AFP A intenção do presidente Michel Temer é colocar entre 290 e 300 deputados no plenário e constrange­r a oposição a também marcar presença

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