Folha de Londrina

Quem quer peixe?

- Filipe Muniz

Ultimament­e, as coisas têm andado meio agitadas na peixaria da Alameda Brasil. A movimentaç­ão dos consumidor­es, cada vez mais exigentes, é bem maior do que nos últimos anos. Mas não é só isso. Entre os donos de barracas, há não só agitação, mas tensão. Cada um deles quer ser o vendedor número um da peixaria.

Para isso, seu João aposta na imagem. De vez em quando, ele aparece com alguma fantasia extravagan­te, só pra chamar a atenção. Na maioria das vezes, funciona. Apesar de também vender peixe, e no mesmo ambiente que os outros, ele garante não ser vendedor. Diz que é apenas um gestor daquela barraca. E se tem alguém de quem seu João não gosta, é do seu Luiz.

Há quem diga que seu Luiz já foi um dos melhores vendedores da feira de peixes. Sujeito simples, mas muito habilidoso com as palavras, ainda consegue atrair muitos clientes, alguns de longa data.

O único que se dá bem com o seu Luiz é o seu Ciro, um cearense arretado, de sangue quente e sem freios na língua, do tipo que faz ameaças até contra a polícia.

Mas a unanimidad­e é o seu Jair. Ninguém gosta dele. Também, pudera. Seu Jair é um velho encrenquei­ro, que vive caçando briga com todo mundo. Às vezes, nem os próprios consumidor­es escapam. Certa vez, chamou de vagabunda uma mulher que criticou a qualidade de um peixe.

Todo mundo tem na família um tio ou avô reaça que se parece com o seu Jair. Basta alguém entrar no assunto que ele dá um jeito de defender a ditadura, criticar os “veados” ou os direitos humanos. Já chegou a dizer que mulher tem que ganhar menos e que os afrodescen­dentes dos quilombos não servem nem para procriar. É por meio da polêmica que seu Jair quer se tornar o maior vendedor da peixaria. E a molecada adora rir do que ele fala.

Mas entre os vendedores o clima não está para risadas. Seu João anda dizendo que seu Luiz quase destruiu a peixaria com seu jeito de fazer negócios. Seu Luiz responde que seu João está querendo chamar atenção: “Tô mais preocupado com o meu próprio peixe”. Mas seu João insiste afirmando que seu Luiz é o maior cara de pau da Alameda Brasil.

Seu Ciro, claro, defende o amigo. Chama de farsante o tal “gestor” e garante que, fosse no Ceará, ninguém compraria peixes desse cabra. “Lá a gente chama isso de palhaçada”.

E seu Ciro vai além: diz, sem meias-palavras, que prefere o seu Jair, mesmo com todos os defeitos, e que tem vergonha das atitudes do seu João. Este não deixa por menos. Responde que o vendedor cearense é louco e desequilib­rado.

No meio dessa briga de gatos, é na base do grito que cada um tenta vender seu peixe. Sempre tem alguém pra comprar, mesmo que por falta de opção.

No meio dessa briga de gatos, é na base do grito que cada um tenta vender seu peixe” FILIPE MUNIZ é estudante de Jornalismo na Unopar em Londrina

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