Anestesia sem opioides beneficia pacientes obesos
Nas cirurgias bariátricas por vídeo, o novo conceito reduz os efeitos colaterais, dispensa a necessidade de UTI e agiliza a alta hospitalar
Há três semanas, a dona de casa Silvana Stelle Silveira de Lima, 40, passou por uma cirurgia bariátrica por videolaparoscopia em Londrina. O procedimento poderia ser mais um entre as 100 mil cirurgias que são realizadas anualmente no País. Os dados de 2016 são da SBCBM (Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica), de 2016 e justificam o fato do Brasil ser o segundo país que mais realiza gastroplastias redutoras. No entanto, a cirurgia de Lima foi um caso especial, com a participação do médico anestesista Luiz Fernando Falcão, professor e chefe do Serviço de Anestesia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Ele veio compartilhar um aperfeiçoamento anestésico que dispensa o uso de opioides (grupo de fármacos com efeito analgésico e hipnótico) em cirurgias bariátricas por videolaparoscopia.
A anestesia “opioid free”, segundo o especialista, tem menos efeitos colaterais no pós-operatório, proporcionando uma recuperação mais rápida e impactando no bem-estar do paciente e na liberação de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). “Muitas medicações anestésicas para tratar dor causam náusea e vômito, e no paciente que é submetido a uma cirurgia bariátrica esse problema não pode existir”, ressalta.
Além disso, muitos pacientes obesos têm uma comorbidade chamada de apneia obstrutiva do sono e o uso de opioides nesses indivíduos aumenta o risco de complicação pulmonar no pós-operatório, o que justifica, muitas vezes, a necessidade de uma monitorização intensiva.
Na aula prática realizada na Santa Casa de Londrina, duas mulheres foram operadas nessa modalidade anestésica. O procedimento foi acompanhado por médicos residentes, entre eles, o anestesista da instituição, Marcos Parron. “Ambas despertaram estáveis, conscientes e três minutos após a cirurgia. Elas foram para a sala de recuperação, dispensando a necessidade de UTI e do uso de analgésicos”, conta. A alta foi dada no dia seguinte, sendo que comumente isso ocorre em média em dois ou três dias. Parron lembra que a técnica ainda não está incorporada no hospital.
Milton Ogawa, responsável técnico pelo serviço de cirurgia bariátrica da instituição, destaca que a possibilidade do paciente não ir para a UTI é um ponto muito importante. “Quando não se tem vaga, temos que dispensar o paciente e remarcar a cirurgia para outra data. Então, simplificar o procedimento bariátrico, mantendo a segurança, é um avanço”, comenta.
A dona de casa lembra que após a cirurgia acordou sem dor e consciente. “No quarto, tive um pouco de dor nas costas, mas eu comparo esta cirurgia com a cesariana quando ganhei a Valentina. Cheguei a ficar uma semana na cama e com muita dor. Dessa vez não, no mesmo dia (da cirurgia) tomei banho sozinha, me vesti e no dia seguinte estava indo para casa”, compara. Menos de
um mês após o procedimento, ela comemora a boa saúde. “Estou andando bem, sem náuseas, vômito e dor. É uma alegria”, comemora.
PERIOPERATÓRIA Nos últimos anos, o protocolo fast-track, mais conhecido como Eras (Enhanced Recovery After Surgery), vem ganhando força por se tratar de uma otimização da recuperação cirúrgica pelo emprego da