‘É uma inversão de paradigma’
Com 800 cirurgias sendo realizadas mensalmente no Inca (Instituto Nacional de Câncer), a revisão de protocolos é uma prática comum. Enquanto que na maior parte dos centros de saúde no Brasil a base anestésica sem opioides é uma novidade, no Instituto é uma realidade há 15 anos.
A diretora-geral Ana Cristina Pinho Mendes Pereira, afirma que o protocolo para cirurgias do tubo digestivo, em que o opioide pode ser prejudicial, a orientação é de isenção total do fármaco.
A prática também pode se dar, segundo ela, em cirurgias urológicas, alguns casos de cabeça e pescoço e cirurgia plástica reparadora. “Então, a base da anestesia é sem opioide ou na menor dose possível. É uma inversão de paradigma. Aqui no Inca, em muitos procedimentos a base anestésica é multimodal e o opioide entra como um coadjuvante quando necessário”, afirma ela, médica anestesista.
Além dos efeitos benéficos na recuperação pósoperatória, a anestesia livre de opioides tem uma especificidade no paciente com câncer. De acordo com Pereira, o trauma da cirurgia causa uma resposta no organismo, que pode ser tratada como uma depressão do sistema imunológico. “Desde a época da Grécia Antiga há relatos de que, ao retirar uma parte da tumoração, ela passa a crescer de forma mais acelerada e uma das explicações é que o trauma cirúrgico modifica a biologia do tumor”, enfatiza.
A diretora-geral ressalta que o câncer, por si só, envolve sempre em algum momento uma falha do sistema imunológico. “Estudos experimentais e clínicos, em modelos animais, mostram que a melhor estratégia de anestesia é aquela que interfere menos (no sistema imunológico)”, completa.
O Inca é representante o Brasil em um consórcio mundial que tem o objetivo de avaliar e discutir questões que possam dentro da anestesia, interferir no desfecho oncológico.
(M.O.)