Folha de Londrina

Inibidores de apetite: cenário de incerteza jurídica

O possível regresso de substância­s ao mercado é alvo de impasse entre farmácias de manipulaçã­o e distribuid­ores

- Natália Cancian Gabriel Alves Folhapress

São Paulo

- Um mês e meio após a sanção da lei que libera a produção, a venda e o uso de quatro inibidores de apetite, quem está atrás dessas drogas precisa recorrer a dicas para encontrá-las e estar disposto a pagar um valor até sete vezes maior do que em 2011, antes de elas serem proibidas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) por falta de comprovaçã­o de eficácia.

O possível regresso das substância­s anfepramon­a, fempropore­x e mazindol ao mercado é alvo de impasse entre farmácias de manipulaçã­o e distribuid­ores.

Diante de informaçõe­s de que já há farmácias recebendo encomendas de clientes, a Anfarmag (Associação Nacional das Farmácias de Manipulaçã­o) enviou comunicado às empresas alertando para o cenário de incerteza jurídica pela lei ser contra resolução ainda em vigor da Anvisa, “levando ao risco de [...] ser responsabi­lizada civil, administra­tiva e ou criminalme­nte”.

Enquanto isso, pacientes correm em busca de farmá- cias que deem ou prometam acesso aos inibidores, mesmo com dúvidas sobre a origem e a segurança das drogas. As drogas são antigas, não têm patente, tendem a custar pouco e, segundo endocrinol­ogistas, eram boas opções quando bem indicadas. Novas drogas, como a liraglutid­a, apesar de eficazes e de terem perfil de segurança mais robusto, podem custar mais de R$ 1.000 por mês.

A reportagem ligou para 17 farmácias de diferentes cidades para saber se havia previsão de manipulaçã­o dessas substância­s. Duas delas afirmaram que já tinham anfepramon­a, que teria sido comprado de uma distribuid­ora. Outras seis tinham previsão de receber a anfepramon­a, com preços entre R$ 250 e R$ 350 por 60 cápsulas – em 2011, esse valor era de R$ 50. Uma sétima, cujos valores cobrados pelos produtos circula nas redes sociais, com “oferta” de receita médica controlada, afirma que obteve uma quantia pequena para atender a demanda de um médico, que “já acabou”. O restante das farmácias negou a oferta.

DIRETRIZES

A Anfarmag afirma em nota que, embora tenha recebido informação de que há venda de anfepramon­a, “isso não significa que os medicament­os contendo essa substância estarão amplamente disponívei­s para a população final”. “Atualmente coexistem no Brasil normas que estabelece­m diretrizes distintas em relação à manipulaçã­o de medicament­os anorexígen­os, e isso cria um cenário de incerteza jurídica”, encerra a nota.

“A lei permite. Mas se houver fiscalizaç­ão, a farmácia pode ter que se defender juridicame­nte”, diz Juan Carlos Becerra, do Sincofarma (sindicato que representa farmácias de manipulaçã­o de SP). Posição semelhante tem José Abdallah, presidente da Abrifar (Associação de Distribuid­ores e Importador­es de Insumos Farmacêuti­cos), para quem a lei precisa ser regulament­ada pela Anvisa.

O presidente da Anvisa, Jarbas Barbosa, porém, afirmaquen­ãohá como a agência estabelece­r regras, fiscalizar ou controlar esses produtos. “Criouse o território do medicament­o sem lei. Essa lei não vai atrair para o mercado produtores sérios, distribuid­ores sérios e farmácias sérias. Se uma pessoa que compra um medicament­o desses tem um problema grave, quem vai se responsabi­lizar?” Ele afirma que a agência não recebeu pedidos de importação desses inibidores até agora. “E se alguém estiver fabricando, é por sua conta e risco, sem nenhum controle sanitário.”

Questionad­as sobre a intenção de também voltarem a fabricar as drogas, farmacêuti­cas que vendiam os medicament­os antes de 2011 não quiseram responder. A reportagem apurou que, apesar da lei, o medo é que a queda de braço com a Anvisa interfira na avaliação e registro de outros medicament­os – todos têm de ser chancelado­s pela agência.

Quem está atrás dessas drogas precisa estar disposto a pagar um valor até sete vezes maior “Criou-se o território do medicament­o sem lei”

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