OPERAÇÃO
Dois detentos e dois familiares de presos também são suspeitos de integrar esquema de tráfico na carceragem
Gaeco prendeu três agentes carcerários e dois familiares de presos por suposto esquema de tráfico de drogas e comercialização de celulares, cigarros e outros objetos dentro da carceragem da Delegacia de Cambé. Outros dois mandados foram cumpridos contra detentos que já estavam na prisão
Sete mandados de prisão por suposto envolvimento em um esquema de tráfico de drogas na carceragem da Delegacia de Cambé (Região Metropolitana de Londrina) foram cumpridos nesta terça-feira (15). Três agentes carcerários e dois familiares de presos foram detidos. Os outros dois mandados eram contra detentos que já estavam na carceragem. A operação deflagrada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) foi resultado de seis meses de investigações.
De acordo com Alan Flore, delegado do Gaeco em Londrina, a organização promovia o tráfico de drogas e a comercialização de celulares, cigarros e outros objetos dentro da cadeia. As encomendas entravam na carceragem em sacolas, que eram entregues sempre nos plantões dos agentes envolvidos no esquema. Com a facilitação da entrada das drogas, os dois presos faziam a venda dentro da unidade. Em uma das últimas revistas, quase um quilo de maconha e 49 celulares foram encontrados nas celas.
Um dos agentes é acusado de chefiar o esquema. Há cerca de dois meses ele e um colega haviam sido transferidos para o 4º Distrito Policial em Londrina. Já o terceiro agente investigado foi transferido na mesma época para Arapongas. Os três são servidores temporários, contratados pelo governo estadual pelo período de dois anos de duração. Eles foram encaminhados para a PEL 1 (Penitenciária Estadual de Londrina). Os agentes negam envolvimento nos crimes apontados pelo Gaeco.
Segundo o delegado, os envolvidos poderão responder pelos crimes de associação criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva, peculato, favorecimento real, tráfico de drogas e associação para fins de tráfico. Além dos manda- dos de prisão, o Gaeco cumpriu ainda nove mandados de busca e apreensão e cinco conduções coercitivas, situação em que a pessoa é levada para depor e liberada na sequência.
A carceragem da Delegacia de Cambé funciona de forma precária no centro da cidade. O prédio, que tem capacidade para 50 presos, abrigava 208 na tarde desta terça, lotação equivalente a de um minipresídio, que tem efetivo de agentes muito superior. O plantão noturno é feito, diretamente, por apenas um agente carcerário, além de um investigador que fica no plantão administrativo para atendimento de ocorrências.
Sem se identificar, um policial civil lamentou o fato do uso de agentes carcerários nas carceragens, em detrimento aos agentes penitenciários. “O agente penitenciário tem todo um treinamento, uma carreira estabelecida. Já os agentes carcerários passam em um concurso e, quase sem nenhum treinamento, assumem uma função de extrema responsabilidade. Há maior rotatividade e os salários são mais baixos, o que aumenta a vulnerabilidade, os riscos da corrupção”, argumentou. A reportagem entrou em contato com o Depen (Departamento Penitenciário), mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.
Na região da delegacia, comerciantes e moradores dizem ter aprendido a conviver com uma cadeia superlotada na vizinhança. No entanto, a maioria não esconde o medo. “Estou há 20 anos aqui e nunca aconteceu nada, mas é claro que seria melhor que a cadeia funcionasse em uma área isolada. Nunca se sabe o que pode acontecer”, disse um comerciante. “Eles passam aqui e falam que acabaram de sair da cadeia e pedem um trocado, um produto da loja. Para não arrumar confusão, a gente acaba dando. Tem que saber levar”, relatou uma vendedora.
Em uma revista, um quilo de maconha e 49 celulares foram encontrados nas celas