Folha de Londrina

CRÍTICAS

Moro diz que Congresso não está interessad­o em “uma verdadeira reforma política” e descarta candidatur­a à Presidênci­a

- Anna Virginia Balloussie­r Folhapress

São Paulo - O juiz Sérgio Moro disse nessa terça-feira (15) que o Congresso não está empenhado em tocar “uma verdadeira reforma política”. A crítica veio no dia em que a Câmara dos Deputados pode começar a votar as regras para repartir um novo fundo público que distribuir­ia R$ 3,6 bilhões entre partidos e candidatos.

Um dos protagonis­tas da Operação Lava Jato, o magistrado elogiou a decisão do Supremo Tribunal Federal em proibir doações empresaria­is. Mas ponderou se não era o caso de flexibiliz­ar o veto.

“Poderia se pensar em restabelec­ê-las”, desde que “com limites muito rígidos”, disse o principal convidado do “Mitos & Fatos”, fórum sobre a Justiça brasileira organizado pela Jovem Pan em um hotel nos Jardins paulistano­s.

Impor “limites baixos” (R$ 100 mil), para que assim “um candidato não se sinta um devedor” de quem colaborou com sua campanha, poderia ser uma solução, afirmou.

Moro reconheceu como “anomalias” empresas que tinham grandes contratos com o poder público injetando dinheiro em campanhas.

“Casos ainda mais grotescos”, segundo o juiz: quando elas aportavam verba “em todo o espectro político, como se fosse uma espécie de contrato-seguro”. Ou seja, uma forma de “ficar bem” com todo mundo, não importa quem ganhasse o pleito.

Mas a “democracia de massa tem algum custo”, e “talvez a doação de pessoas físicas não seja suficiente”, disse Moro. “Até tenho simpatia pelo financiame­nto público, mas

MORO PRESIDENTE Chegada a hora de responder perguntas da plateia, Moro se viu diante de uma questão recorrente em sua vida: afinal, ele quer ou não quer ser presidente do Brasil?

A despeito de apontar a política como “uma das profissões

não necessaria­mente pelo financiame­nto público exclusivo.”

A grande questão, segundo o juiz, é como o fundo bilionário vai ser distribuíd­o. “Há uma tendência de quem está dentro do sistema queira continuar dentro e queira deixar fora quem está fora. O financiame­nto público, por bem intenciona­do que seja, tem quem ser muito bem pensado para evitar esse tipo de problema.”

“Aqui vai uma crítica, com muito respeito ao nosso Parlamento”, afirmou, e então desferiu o ataque. “Esta reforma política não é uma verdadeira reforma política. Tem que pensar de uma maneira diferente para enfrentar esse problema.” mais belas”, disse que negaria “quantas vezes forem necessária­s” que não, não é candidato ao Palácio do Planalto. Seu nome aparecer bem posicionad­o em pesquisas espontânea­s para as eleições de 2018.

“Já falei mais de uma vez: a profissão política é uma das mais belas. Nós eventualme­nte temos uma imagem pejorativa dela por conta de eventuais escândalos criminais, mas existem muitos bons políticos. Mas penso que precisa ter um certo perfil e, sinceramen­te, não me vejo com esse perfil”, disse o magistrado, que chegou no evento escoltado por mais de dez policiais federais.

Emoldurado por uma bandeira do Brasil projetada num telão, em papo mediado pelo jornalista Augusto Nunes, Moro falou a uma plateia com os juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Jr. (coautores do pedido de impeachmen­t da petista Dilma Rousseff ), o exministro do STF Carlos Ayres Britto e estrelas da rádio anfitriã (de Felipe Moura Brasil a Marcelo Madureira).

O juiz paranaense cobrou que o Supremo não recue de “decisões relevantes”, como a de permitir que réus condenados em segunda instância possam começar a cumprir pena, sem ter que esperar um veredicto definitivo em cortes superiores.

A demora em esgotar tantos recursos, disse, “significa na prática impunidade”. Citou como exemplo Estados Unidos e França, países que sequer esperam uma condenação em segunda instância para aprisionar seus réus. “É aquilo que a gente vê em filme americano, alguém recebendo veredicto de culpa e saindo preso do tribunal.”

Moro afirmou que receberia “com grande surpresa” se o STF voltasse atrás. “Não falo isso para pressionar ninguém, longe de mim querer qualquer espécie de pressão.” Mas seria, continuou, “lamentável” alterar o “legado do ministro Teori Zavascki”, morto em janeiro, num acidente de avião no litoral fluminense.

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Nelson Almeida/AFP “Penso que precisa ter um certo perfil e, sinceramen­te, não me vejo com esse perfil”, afirmou Sérgio Moro ao ser questionad­o sobre candidatur­a à Presidênci­a

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