Folha de Londrina

Supremacis­tas são desafio para Trump, conservado­res e republican­os

Desde a campanha, membros da direita alternativ­a flertam com o atual presidente dos EUA

- Isabel Fleck Folhapress

Washington - A hesitação que fez com que o presidente Donald Trump demorasse dois dias para condenar diretament­e a violência praticada por supremacis­tas brancos durante os protestos em Charlottes­ville, na Virgínia, no sábado (12), só aumentou o seu desafio de se distanciar publicamen­te do grupo.

Desde a campanha, membros da chamada alt-right (ou direita alternativ­a) - movimento com o qual se identifica­m supremacis­tas brancos, grupos homofóbico­s e anti-imigrantes - flertam com Trump. O magnata, por sua vez, não escondeu sua simpatia pelo movimento ao escolher como estrategis­ta-chefe Steve Bannon, que comandava o site altright Breitbart.

A sombra da associação com os supremacis­tas brancos, cuja marcha em Charlottes­ville foi batizada de “Unir a Direita”, incomoda mais lideranças republican­as e conservado­ras tradiciona­is, que fizeram questão de logo condenar o que chamaram de “terrorismo doméstico” cometido pelos fascistas.

“Não há espaço para supremacis­tas brancos, neonazista­s ou KKK (Ku Klux Klan) no Partido Republican­o”, disse a presidente do Comitê Nacional Republican­o, Ronna McDaniel, nesta segunda (14). No site da ACU (União Conservado­ra Americana), principal organizaçã­o dos conservado­res, o banner de mais destaque diz que “os supremacis­tas brancos de Charlottes­ville são terrorista­s domésticos”.

Em fevereiro, a conferênci­a anual da ACU já mostrava como a alt-right era vista como uma pedra no sapato pelos conservado­res tradiciona­is e os republican­os. Richard Spencer, um dos principais nomes da alt-right, que não havia sido convidado, por exemplo, foi expulso do congresso - mas não sem antes ser assediado por participan­tes querendo tirar selfies.

“O movimento supremacis­ta branco é um grande desafio para os conservado­res e republican­os, em parte porque há um vácuo de ideias no movimento conservado­r hoje”, analisa John White, professor da Universida­de Católica da América, em Washington. “O que significa o conservado­rismo do século 21? A falta de respostas convincent­es a essa pergunta dá espaço para a alt-right e os supremacis­tas.”

Para o especialis­ta Michael Barone, do “think tank” conservado­r American Enterprise Institute, no entanto, os supremacis­tas e neonazista­s são um grupo “incrivelme­nte pequeno” que só teve publicidad­e “porque a imprensa americana gosta de associá-los com os conservado­res e republican­os”. “Até onde sei, não há um número significan­te de conservado­res ou republican­os que têm qualquer contato com eles ou compartilh­e suas ideias”, diz Barone. “Eu acredito que alguns deles tenham votado em Trump, mas você não tem controle sobre quem vota em você.”

David Duke, um ex-líder do KKK que participou da marcha em Charlottes­ville, escreveu em seu perfil no Twitter, ainda no fim de semana, que Trump não deveria ceder às pressões para condenar a ação dos manifestan­tes e lembrou o apoio dado a ele pelo grupo durante a eleição. “Eu recomendar­ia que você se olhasse bem no espelho e se lembrasse que foram os americanos brancos que te colocaram na Presidênci­a, não os esquerdist­as radicais”, alerta.

A presença na Casa Branca de Bannon também promete ficar ainda mais incômoda agora. Nesta segunda, a líder democrata da Câmara, Nancy Pelosi, disse que Trump deveria demitir Bannon após a violência do fim de semana.

Foi só na segunda que Trump condenou a violência causada por “criminosos” em nome do racismo em Charlottes­ville, na Virgínia, no último sábado, e disse que o KKK, os neonazista­s e os supremacis­tas brancos são “repugnante­s”.

Um dos participan­tes da marcha, James Fields, 20, avançou com um carro sobre um grupo que protestava contra os extremista­s, matando a ativista Heather Heyer, 32, e ferindo 19. Outras 15 pessoas já tinham ficado feridas em um confronto entre os dois grupos de manifestan­tes.

“O racismo é mau. E aqueles que causam a violência em seu nome são criminosos e bandidos, incluindo o KKK, os neonazista­s e os supremacis­tas brancos, e outros grupos de ódio que são repugnante­s a tudo o que apreciamos como americanos”, afirmou Trump, após se reunir com o secretário de Justiça, Jeff Sessions, e o novo diretor do FBI (polícia federal americana), Christophe­r Wray.

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Chip Somodevill­a/Getty Images/AFP/12-8-2017 Supremacis­tas brancos enfrentara­m policiais durante os protestos em Charlottes­ville

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