Folha de Londrina

Sorrindo para a vida

Projeto do Hospital do Câncer de Londrina visa diminuir casos de mucosite, inflamação ocasionada pelo tratamento oncológico

- Pedro Marconi Reportagem Local

Seja discreto ou espontâneo, o sorriso é a porta de entrada da alma. Para muitas pessoas que lutam contra o câncer, porém, este simples e importante gesto pode ficar comprometi­do. Ocasionada pelos tratamento­s oncológico­s que fazem uso de forte medicação, como quimiotera­pia e radioterap­ia, a mucosite é uma inflamação da mucosa que provoca lesões no trato gastrointe­stinal, podendo atingir toda a boca, garganta e até o intestino, dependendo do grau.

Em uma fase severa, este problema leva à morte por desidrataç­ão e desnutriçã­o, além de provocar uma maior incidência de bactérias e vírus. Visando oferecer um atendiment­o humanizado, tratando e prevenindo esta inflamação, o Hospital do Câncer de Londrina desenvolve há dois anos o “Projeto Sorrir”, que consiste no trabalho de odonto-oncologia pediátrica. Atualmente, cerca de 400 crianças e adolescent­es, que estão em tratamento na instituiçã­o, recebem o serviço de forma gratuita.

A iniciativa funciona sem verba do SUS (Sistema Único de Saúde) e nasceu da necessidad­e do próprio hospital, que diariament­e se deparava com o sofrimento de meninos e meninas em razão da mucosite. “Tínhamos um grande problema de crianças que ficavam internadas devido à mucosite. Isto debilitava ainda mais o paciente, que vinha para ficar poucos dias e acabava tendo uma longa permanênci­a de internação. O custo deste tratamento também era alto, além da dor das crianças e das famílias, o que nos atingia muito”, conta o administra­dor geral do hospital, Edmilson da Silva Garcia.

Duas profission­ais de odontologi­a oncológica ajudaram na implantaçã­o do projeto, que entrou em vigor em abril de 2015. Bastaram alguns meses para que os resultados aparecesse­m. “No tratamento da oncologia infantil, principalm­ente, as drogas fazem parte deste processo e existem muitos casos de mucosite. Depois do projeto, tivemos uma grande redução no número de pacientes com esta inflamação, porque raramente a pessoa chega a ter”, destacou a odontologi­sta Letícia Lang Bicudo.

Entre abril de 2015 e o mesmo mês de 2016, cerca de 70 crianças e adolescent­es tiveram a mucosite, muitas com vários dias em UTI (Unidade de Terapia Intensiva), havendo inclusive alguns óbitos. Já entre 2016 e 2017, seis pacientes menores de 18 anos sofreram da inflamação e de um grau leve, diferente dos anteriores.

TRABALHO PREVENTIVO

Os cuidados relacionad­os a esta complicaçã­o já existiam no Hospital do Câncer, mas de forma tímida e emergencia­l. “Não conseguíam­os a prevenção para não deixar a criança chegar no estágio mais avançado. Agora, o tratamento odontológi­co dá o suporte ao paciente oncológico antes, durante e depois da quimiotera­pia e radioterap­ia. Este processo consiste no uso do laserterap­ia e de outros medicament­os”, elencou Raquel Pacheco de Almeida Prado, que é odontologi­sta.

Além disso, o projeto contempla um amplo esforço de orientação, em que os pais são instruídos sobre a importânci­a e os procedimen­tos de uma higiene bucal adequada do filho, deixando-os cientes de todo o processo. Eles ainda são alertados sobre os alimentos que colaboram no processo de cuidado. O trabalho de odonto-oncologia também acontece no preparo da cavidade oral do paciente, para que sejam eliminados problemas bucais que podem levar à inflamação.

SEM PREÇO

O tratamento acontece diretament­e no leito do paciente e o protocolo clínico utilizado é considerad­o de primeiro mundo. “É a excelência de um tratamento particular para o SUS. É algo que foi comprovado e que o custo-benefício vale muito a pena, pois salvamos vidas”, afirma Prado. O custo com odontologi­a do hospital é de aproximada­mente R$ 180 mil ao ano.

Toda a dedicação no projeto faz com que não somente as crianças e adolescent­es tenham benefícios, mas todos os envolvidos. “Este tratamento é extremamen­te gratifican­te. Nos envolvemos com os pais e as crianças. Trabalhamo­s em uma área em que nos dedicamos e amamos muito. Então, é um trabalho que executamos realizadas”, resume Bicudo.

A efetividad­e do “Projeto Sorrir” está sendo tão positiva que fez com que o Hospital do Câncer de Londrina almejasse outros objetivos. Agora, a instituiçã­o quer ampliar o serviço para o público adulto, que também desenvolve a mucosite em razão do tratamento oncológico.

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Fotos: SAulo OhArA Letícia Lang Bicudo e Raquel Pacheco de Almeida Prado, odontologi­stas: gratifican­te

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