Sorrindo para a vida
Projeto do Hospital do Câncer de Londrina visa diminuir casos de mucosite, inflamação ocasionada pelo tratamento oncológico
Seja discreto ou espontâneo, o sorriso é a porta de entrada da alma. Para muitas pessoas que lutam contra o câncer, porém, este simples e importante gesto pode ficar comprometido. Ocasionada pelos tratamentos oncológicos que fazem uso de forte medicação, como quimioterapia e radioterapia, a mucosite é uma inflamação da mucosa que provoca lesões no trato gastrointestinal, podendo atingir toda a boca, garganta e até o intestino, dependendo do grau.
Em uma fase severa, este problema leva à morte por desidratação e desnutrição, além de provocar uma maior incidência de bactérias e vírus. Visando oferecer um atendimento humanizado, tratando e prevenindo esta inflamação, o Hospital do Câncer de Londrina desenvolve há dois anos o “Projeto Sorrir”, que consiste no trabalho de odonto-oncologia pediátrica. Atualmente, cerca de 400 crianças e adolescentes, que estão em tratamento na instituição, recebem o serviço de forma gratuita.
A iniciativa funciona sem verba do SUS (Sistema Único de Saúde) e nasceu da necessidade do próprio hospital, que diariamente se deparava com o sofrimento de meninos e meninas em razão da mucosite. “Tínhamos um grande problema de crianças que ficavam internadas devido à mucosite. Isto debilitava ainda mais o paciente, que vinha para ficar poucos dias e acabava tendo uma longa permanência de internação. O custo deste tratamento também era alto, além da dor das crianças e das famílias, o que nos atingia muito”, conta o administrador geral do hospital, Edmilson da Silva Garcia.
Duas profissionais de odontologia oncológica ajudaram na implantação do projeto, que entrou em vigor em abril de 2015. Bastaram alguns meses para que os resultados aparecessem. “No tratamento da oncologia infantil, principalmente, as drogas fazem parte deste processo e existem muitos casos de mucosite. Depois do projeto, tivemos uma grande redução no número de pacientes com esta inflamação, porque raramente a pessoa chega a ter”, destacou a odontologista Letícia Lang Bicudo.
Entre abril de 2015 e o mesmo mês de 2016, cerca de 70 crianças e adolescentes tiveram a mucosite, muitas com vários dias em UTI (Unidade de Terapia Intensiva), havendo inclusive alguns óbitos. Já entre 2016 e 2017, seis pacientes menores de 18 anos sofreram da inflamação e de um grau leve, diferente dos anteriores.
TRABALHO PREVENTIVO
Os cuidados relacionados a esta complicação já existiam no Hospital do Câncer, mas de forma tímida e emergencial. “Não conseguíamos a prevenção para não deixar a criança chegar no estágio mais avançado. Agora, o tratamento odontológico dá o suporte ao paciente oncológico antes, durante e depois da quimioterapia e radioterapia. Este processo consiste no uso do laserterapia e de outros medicamentos”, elencou Raquel Pacheco de Almeida Prado, que é odontologista.
Além disso, o projeto contempla um amplo esforço de orientação, em que os pais são instruídos sobre a importância e os procedimentos de uma higiene bucal adequada do filho, deixando-os cientes de todo o processo. Eles ainda são alertados sobre os alimentos que colaboram no processo de cuidado. O trabalho de odonto-oncologia também acontece no preparo da cavidade oral do paciente, para que sejam eliminados problemas bucais que podem levar à inflamação.
SEM PREÇO
O tratamento acontece diretamente no leito do paciente e o protocolo clínico utilizado é considerado de primeiro mundo. “É a excelência de um tratamento particular para o SUS. É algo que foi comprovado e que o custo-benefício vale muito a pena, pois salvamos vidas”, afirma Prado. O custo com odontologia do hospital é de aproximadamente R$ 180 mil ao ano.
Toda a dedicação no projeto faz com que não somente as crianças e adolescentes tenham benefícios, mas todos os envolvidos. “Este tratamento é extremamente gratificante. Nos envolvemos com os pais e as crianças. Trabalhamos em uma área em que nos dedicamos e amamos muito. Então, é um trabalho que executamos realizadas”, resume Bicudo.
A efetividade do “Projeto Sorrir” está sendo tão positiva que fez com que o Hospital do Câncer de Londrina almejasse outros objetivos. Agora, a instituição quer ampliar o serviço para o público adulto, que também desenvolve a mucosite em razão do tratamento oncológico.