Violência doméstica em pauta
Recicladoras de Londrina recebem informações sobre a rede de prevenção e enfrentamento à violência
Puxões de cabelo, agressões verbais, empurrões contra a parede. Essas são algumas das agressões que uma mulher sofreu de seu marido e que relatou à reportagem durante palestra realizada em um dos barracões da Cooper Região (Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis e Resíduos Sólidos da Região Metropolitana de Londrina). Ela pertence ao grupo de 120 mulheres e homens que trabalham em uma cooperativa e que estão recebendo informações sobre os serviços da Rede Municipal de Prevenção e Enfrentamento à Violência contra a Mulher.
Além dela, outros relatos mostram que a violência doméstica é uma realidade na vida de muitas pessoas. Outra recicladora disse durante a palestra, realizada pela Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres, que sofreu agressões verbais do marido e isso refletiu na formação do filho. O ambiente conturbado acabou gerando um distanciamento do pai em relação ao filho.
A palestra, proferida pela assistente social Gisele Falcão, do CAM (Centro de Referência de Atendimento à Mulher) e acompanhada pela reportagem, foi realizada na segunda-feira (14), em um barracão localizado na zona oeste. Ela conversou com 46 recicladores, que ouviram atentamente as explicações. E destacou que a violência doméstica funciona como um sistema circular, que apresenta, regra geral, três fases: aumento de tensão em função das desavenças acumuladas no quotidiano, que geram injúrias e ameaças pelo agressor, promovendo uma sensação de perigo eminente; ataque violento, em que o agressor maltrata física e psicologicamente a vítima, com tendência de aumento de frequência e intensidade; e a lua de mel, pela qual o agressor envolve a vítima de carinho e atenções, desculpando-se pelas agressões e prometendo mudar e nunca mais voltar a exercer violência.
“Na secretaria não só exercemos enfrentamento da violência doméstica contra a mulher, mas agimos na prevenção junto a mulheres e homens. Várias delas têm dúvidas sobre medidas protetivas e da sua eficácia. Os casos de violência mais graves que recebemos são de pessoas que não eram atendidas por nós, porque essa mulher nunca procurou delegacia, ou o CAM”, aponta. Uma das recicladoras que estava assistindo a palestra manifestou que há receio de fazer a denúncia, já que o marido pode se voltar contra os filhos para poder atingir a esposa. A assistente social afirma que em 20% dos casos o marido não cumpre a medida protetiva. “Nesses casos a mulher pode ligar para o telefone 153, da Patrulha Maria da Penha e o guarda municipal poderá efetuar a prisão da pessoa que não cumpre a decisão”, aponta.
A assistente social e diretora financeira da Cooper Região, Verônica Cardoso Souza, explica que o objetivo das palestras (programada para acontecer em outros dois barracões) é levar informação para as mulheres. “A iniciativa foi da cooperativa e sempre estamos fazendo palestras para informar nossos cooperados. Já teve vários casos de ausência no trabalho devido à violência doméstica”, revela. “Faço atendimento social na cooperativa e noto que, mesmo sabendo da existência da lei, muitas têm medo de tomar providências por temer represália do esposo ou mesmo para resguardar os filhos. Elas acabam sofrendo caladas essa agressão”, enumera.
Ela revela que a agressão mais frequente relatada pelas cooperadas é a psicológica. “Devido à Lei Maria da Penha, muitos maridos têm deixado de agredir fisicamente, mas fazem agressões verbais e tortura psicológica”, observa, informando que na Cooper Região são três funcionários e 148 cooperados.
A assistente social do CAM observa que muitas mulheres registram a ocorrência na delegacia, mas acabam não abrindo uma representação contra o companheiro, o que impede que o Judiciário emita uma medida protetiva. “Com essa medida a pessoa pode manter o companheiro distante por 200 metros de distância da residência e do local de trabalho. Caso a mulher frequente determinada igreja, pode solicitar que ele não apareça a 200 metros desse local também”, aponta.