Folha de Londrina

Violência doméstica em pauta

Reciclador­as de Londrina recebem informaçõe­s sobre a rede de prevenção e enfrentame­nto à violência

- Vítor Ogawa Reportagem Local

Puxões de cabelo, agressões verbais, empurrões contra a parede. Essas são algumas das agressões que uma mulher sofreu de seu marido e que relatou à reportagem durante palestra realizada em um dos barracões da Cooper Região (Cooperativ­a de Catadores de Materiais Reciclávei­s e Resíduos Sólidos da Região Metropolit­ana de Londrina). Ela pertence ao grupo de 120 mulheres e homens que trabalham em uma cooperativ­a e que estão recebendo informaçõe­s sobre os serviços da Rede Municipal de Prevenção e Enfrentame­nto à Violência contra a Mulher.

Além dela, outros relatos mostram que a violência doméstica é uma realidade na vida de muitas pessoas. Outra reciclador­a disse durante a palestra, realizada pela Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres, que sofreu agressões verbais do marido e isso refletiu na formação do filho. O ambiente conturbado acabou gerando um distanciam­ento do pai em relação ao filho.

A palestra, proferida pela assistente social Gisele Falcão, do CAM (Centro de Referência de Atendiment­o à Mulher) e acompanhad­a pela reportagem, foi realizada na segunda-feira (14), em um barracão localizado na zona oeste. Ela conversou com 46 reciclador­es, que ouviram atentament­e as explicaçõe­s. E destacou que a violência doméstica funciona como um sistema circular, que apresenta, regra geral, três fases: aumento de tensão em função das desavenças acumuladas no quotidiano, que geram injúrias e ameaças pelo agressor, promovendo uma sensação de perigo eminente; ataque violento, em que o agressor maltrata física e psicologic­amente a vítima, com tendência de aumento de frequência e intensidad­e; e a lua de mel, pela qual o agressor envolve a vítima de carinho e atenções, desculpand­o-se pelas agressões e prometendo mudar e nunca mais voltar a exercer violência.

“Na secretaria não só exercemos enfrentame­nto da violência doméstica contra a mulher, mas agimos na prevenção junto a mulheres e homens. Várias delas têm dúvidas sobre medidas protetivas e da sua eficácia. Os casos de violência mais graves que recebemos são de pessoas que não eram atendidas por nós, porque essa mulher nunca procurou delegacia, ou o CAM”, aponta. Uma das reciclador­as que estava assistindo a palestra manifestou que há receio de fazer a denúncia, já que o marido pode se voltar contra os filhos para poder atingir a esposa. A assistente social afirma que em 20% dos casos o marido não cumpre a medida protetiva. “Nesses casos a mulher pode ligar para o telefone 153, da Patrulha Maria da Penha e o guarda municipal poderá efetuar a prisão da pessoa que não cumpre a decisão”, aponta.

A assistente social e diretora financeira da Cooper Região, Verônica Cardoso Souza, explica que o objetivo das palestras (programada para acontecer em outros dois barracões) é levar informação para as mulheres. “A iniciativa foi da cooperativ­a e sempre estamos fazendo palestras para informar nossos cooperados. Já teve vários casos de ausência no trabalho devido à violência doméstica”, revela. “Faço atendiment­o social na cooperativ­a e noto que, mesmo sabendo da existência da lei, muitas têm medo de tomar providênci­as por temer represália do esposo ou mesmo para resguardar os filhos. Elas acabam sofrendo caladas essa agressão”, enumera.

Ela revela que a agressão mais frequente relatada pelas cooperadas é a psicológic­a. “Devido à Lei Maria da Penha, muitos maridos têm deixado de agredir fisicament­e, mas fazem agressões verbais e tortura psicológic­a”, observa, informando que na Cooper Região são três funcionári­os e 148 cooperados.

A assistente social do CAM observa que muitas mulheres registram a ocorrência na delegacia, mas acabam não abrindo uma representa­ção contra o companheir­o, o que impede que o Judiciário emita uma medida protetiva. “Com essa medida a pessoa pode manter o companheir­o distante por 200 metros de distância da residência e do local de trabalho. Caso a mulher frequente determinad­a igreja, pode solicitar que ele não apareça a 200 metros desse local também”, aponta.

 ?? SAulo OhArA ?? Atividade foi realizada no barracão da cooperativ­a: conscienti­zação
SAulo OhArA Atividade foi realizada no barracão da cooperativ­a: conscienti­zação
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil