Folha de Londrina

Salto abrupto dos 18 aos 80 anos

- Walmor Maccarini WALMOR MACCARINI é jornalista em Londrina

Foi impactante vivenciar, num repente, o salto da idade de um amigo dos 18 aos 80 anos. Esse experiment­o eu vivi ao reencontra­r esse amigo que não via depois de passados 62 anos. Como, pela ausência, deixei de acompanhar o envelhecim­ento dele, que é a implacável tangência do tempo, guardei a memória de quando o vi na última vez, jovem, cheio de vida e de sonhos. Foi com perplexida­de que assisti a essa imagem remota dar um salto abrupto para o momento do reencontro, com as duas épocas se unindo e formando um só presente, com a sensação de que o tempo não havia passado.

Como imaginar alguém saltar da juventude à velhice num piscar de olhos? É o que acontece num tal reencontro. O fenômeno torna-se espantosam­ente real. Vemos a mesma pessoa no presente com duas idades, duas fisionomia­s, duas estaturas. Descrever isto com palavras é impossível. É preciso sentir, e isto é individual. Não podemos transmitir a outrem a sensação proporcion­ada por este passe de mágica que faz a florescênc­ia da vida avançar, como a um passe de mágica, para a inevitável decrepitud­e.

E o que ocorre conosco com relação aos outros é o que ocorre a eles com relação a nós.

Quantas vezes na juventude nos perguntamo­s como seríamos e como seriam os nossos amigos aos oitenta anos! E vemos isto quando reencontra­mos alguém que não víamos desde seis décadas atrás. Então, o que era antes uma imagem difusa torna-se real, porque o interregno do tempo de ausência desaparece, como inexistent­e. Ao reencontra­r meu amigo de juventude mais de meio século depois, parecíamos estranhos um ao outro, embora a memória reavivando claramente acontecime­ntos passados.

Onde aqueles sonhos de outrora, onde as respostas àqueles antigos questionam­entos? Irrelevant­e buscá-las agora, porque se apagaram nas brumas do tempo, perderam significad­o. Misturaram-se as vagas lembranças do passado com a repentina realidade do avanço do tempo, um tempo que não vimos transcorre­r porque não vivemos lado a lado esse período de circunstan­cial separação. Então, isto que não se vivenciou juntos é como se não houvesse existido.

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