Fenômeno da massificação
O jogo Botafogo (RJ) e Nacional, do Uruguai, no estádio Nilton Santos pela Libertadores, terminou em confusão generalizada. O conflito se iniciou com os jogadores e se irradiou para as arquibancadas, com agressões físicas, verbais e destruição de cadeiras atiradas ao gramado. Em pleno século XXI, essa selvageria é recorrente no fenômeno da massificação, uma das características do nosso tempo. Para os filósofos Platão, Aristóteles e demais frequentadores da Academia, o cultivo do corpo era complementar ao cultivo do espírito. A diferença em relação à nossa época é que agora, em geral, a prática de esportes é feita em detrimento do trabalho intelectual. Um jogo de futebol, por exemplo, pode ser um espetáculo de destreza e harmonia de conjunto e desempenho individual que entusiasma o espectador. Mas, em nossos dias, as partidas, especialmente as decisivas, assim como outrora os circos romanos, servem sobretudo como pretexto e liberação do irracional, como regressão do indivíduo à condição de partícipe da tribo, como momento gregário em que, amparado no anonimato aconchegante da arquibancada, o espectador dá vazão a seus instintos agressivos de rejeição ao outro, conquista e aniquilação simbólica (e às vezes até real) do adversário. Essas atitudes irracionais permitem ao torcedor renunciar a sua condição civilizada para comportar-se durante a partida como parte de uma horda primitiva. Eis aí um bom exemplo daquilo que o nobel de literatura Mário Vargas Llosa analisou e identificou como: “A civilização do espetáculo”. RICARDO LAFFRANCHI (advogado) – Londrina