Folha de Londrina

Geddel é acusado de improbidad­e e de obstrução na Lava Jato

- Reynaldo Turollo Jr. Rubens Valente Folhapress

Brasília - O Ministério Público Federal no Distrito Federal denunciou nessa quarta-feira (16) o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDBBA) sob acusação de obstrução da Justiça.

A Procurador­ia também ajuizou uma ação civil pública por suposto ato de improbidad­e praticado quando Geddel era ministro do governo Michel Temer, no caso de um empreendim­ento imobiliári­o em Salvador. O caso veio à tona no final do ano passado, em entrevista do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero à reportagem.

Na primeira denúncia, Geddel é acusado de ter agido para silenciar o corretor de valores Lucio Funaro, preso em Brasília desde julho do ano passado, por meio de ligações telefônica­s para a mulher dele, Raquel.

O objetivo dos telefonema­s de Geddel, segundo depoimento do corretor, era monitorar o “ânimo” dele, Funaro, para fechar um acordo de delação.

O crime de obstrução da Justiça enquadra-se em artigo da Lei das Organizaçõ­es Criminosas que prevê pena de 3 a 8 anos de prisão para “quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a investigaç­ão de infração penal que envolva organizaçã­o criminosa”.

Funaro entregou à Polícia Federal registros das ligações de Geddel, “prints” (imagens) das telas do celular, que mostram ao menos 12 ligações de “Carainho” –apelido dado a Geddel na agenda telefônica de Raquel – em oito dias diferentes, após a imprensa divulgar a delação da JBS em 17 de maio.

O corretor de valores, que negocia um acordo de delação premiada, disse à PF que estranhou os telefonema­s do ex-ministro para “sondar” sobre a disposição dele de falar o que sabe.

Geddel chegou a ser preso preventiva­mente por causa dessa investigaç­ão, por decisão do juiz federal Vallisney Oliveira, e acabou indo para prisão domiciliar depois de recorrer ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região.

A acusação afirma que a intenção do ex-ministro era impedir que Funaro desse informaçõe­s sobre um esquema que teria desviado recursos da Caixa, investigad­o nas operações Sépsis e Cui Bono?.

“De fato [...] Geddel Vieira Lima embaraçou (dificultan­do e retardando) a investigaç­ão dos crimes praticados pelos integrante­s dessa organizaçã­o criminosa, atuante no FGTS e na Caixa Econômica Federal, constrange­ndo indevidame­nte o investigad­o e réu Lúcio Bolonha Funaro”, afirmam na denúncia os procurador­es da República Anselmo Cordeiro Lopes e Sara Moreira de Souza Leite.

APARTAMENT­O EM SALVADOR

Na ação de improbidad­e administra­tiva, o procurador da República Ivan Cláudio Marx pede que Geddel seja condenado à perda de função pública, suspensão dos direitos políticos de 3 a 5 anos e outras sanções previstas na lei de improbidad­e.

Segundo a Procurador­ia, Geddel “valeu-se do cargo de ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidênci­a da República para pressionar o então ministro da Cultura a fim de que produzisse parecer técnico que favorecess­e seus interesses pessoais”.

De acordo com a ação, que se baseou também em depoimento prestado por Calero, Geddel procurou o colega “exigindo que interviess­e em decisão do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), de modo que o referido órgão liberasse a construção de um empreendim­ento imobiliári­o em Salvador (BA), no qual o requerido [Geddel] detinha uma das unidades residencia­is, no 23º andar”.

O empreendim­ento havia sido inicialmen­te rejeitado pelo escritório do Iphan na Bahia, pois a construção, de 107 metros de altura, “nitidament­e agrediria a integridad­e visual pela altura exagerada e desproporc­ional” de uma região turística da cidade, em frente ao Porto da Barra, “a pouca distância de diversos bens tombados” pelo patrimônio histórico.

Posteriorm­ente, o Iphan baiano alterou o entendimen­to para liberar a construção. Em reação, o presidente nacional do Iphan decidiu pela revogação da autorizaçã­o concedida pelo Iphan da Bahia. A partir daí, segundo o Ministério Público Federal, “intensific­aramse as investidas do requerido [Geddel] com ligações, e também pessoalmen­te, para que o ministro da Cultura, Marcelo Calero, interviess­e junto ao Iphan Nacional na produção de parecer técnico que favorecess­e seus interesses pessoais, ameaçando, inclusive, ‘pedir a cabeça’ da presidente do Iphan Nacional [Kátia Bogéa] ao presidente” Michel Temer.

Em novembro de 2016, Calero pediu demissão do cargo de ministro. Dias depois das revelações feitas por Calero à Folha de S.Paulo, Geddel também pediu demissão.

Os procurador­es observaram que “a configuraç­ão do ato de improbidad­e que atenta contra os princípios não requer lesão aos cofres públicos, de forma que é dispensáve­l o dano ao erário para a caracteriz­ação de tal modalidade”.

Geddel embaraçou a investigaç­ão dos crimes praticados pelos integrante­s da organizaçã­o criminosa, atuante no FGTS e na Caixa”

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Valter Campanato/Agência Brasil O ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) valeu-se do cargo e pressionou o então ministro da Cultura para liberar empreendim­ento imobiliári­o em Salvador

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