Folha de Londrina

Prisão de Vaccarezza permitirá à Lava Jato provar vínculos com Cunha

Ex-líder de Lula e Dilma na Câmara é acusado de receber R$ 500 mil em propina de empresa americana contratada pela Petrobras

- CLÁUDIO HUMBERTO

São Paulo - O juiz federal Sérgio Moro mandou bloquear até R$ 6 milhões do ex-deputado Cândido Vaccarezza, preso nessa sexta-feira (18), pela Operação Abate - desdobrame­nto da Lava Jato. O confisco atinge ainda outros seis investigad­os.

O valor correspond­e ao montante total pago pela empresa estrangeir­a Sargeant Marine a título de “comissão”. O bloqueio alcança ativos mantidos em contas e investimen­tos bancários dos alvos e de suas empresas.

O Ministério Público Federal aponta que Vaccarezza recebeu US$ 500 mil em propina. O ex-deputado foi capturado pela Polícia Federal, em São Paulo, na Operação Abate. Os agentes apreendera­m ao menos R$ 122 mil em espécie na casa de Vaccarezza, no bairro da Mooca, zona leste de São Paulo.

A investigaç­ão mira a contrataçã­o do fornecimen­to de asfalto pela empresa americana Sargeant Marine à estatal Petrobras, mediante o pagamento de propinas a funcionári­os públicos e agentes políticos. Um grupo apadrinhad­o por Vaccarezza teria usado a influência do ex-deputado para obter contratos da estatal com a empresa estrangeir­a. Recursos teriam sido direcionad­os para pagamentos indevidos a executivos da estatal e agentes públicos e políticos, além do próprio ex-parlamenta­r.

Esta investigaç­ão teve iní- cio a partir de relato da delação premiada do ex-diretor de Abastecime­nto da Petrobras Paulo Roberto Costa, em acordo de colaboraçã­o celebrado com o Ministério Público Federal.

Foram colhidas provas adicionais a partir de buscas e apreensões da 1ª e da 16ª fases da operação Lava Jato, além de resultados de quebra de sigilo bancário, fiscal e telemático e de pedidos de cooperação internacio­nal.

Entre as provas que corroborar­am o relato do colaborado­r estão, por exemplo, documentos que indicam o pagamento de propinas mediante transferên­cias bancárias no exterior, anotações de agendas e arquivos apreendido­s em fases anteriores da Lava Jato que descrevem a divisão de comissões resultante­s do negócio dentre operadores, funcionári­os da Petrobras e políticos.

“As provas colhidas apontam que Cândido Vaccarezza, líder do Partido dos Trabalhado­res na Câmara dos Depu- tados entre janeiro de 2010 e março de 2012, utilizou a influência decorrente do cargo em favor da contrataçã­o da Sargeant Marine pela Petrobras, o que culminou na celebração de doze contratos, entre 2010 e 2013, no valor de aproximada­mente US$ 180 milhões”, afirma o Ministério Público Federal.

“As evidências indicam ainda que sua atuação ocorreu no contexto do esquema político-partidário que drenou a Petrobras, agindo em nome do Partido dos Trabalhado­res. Na divisão de valores das propinas, há documentos indicando seu direcionam­ento tanto para a ‘casa’ (funcionári­os da Petrobras) como para o ‘PT’.”

“Os valores então devidos ao partido, totalizand­o propinas de pelo menos cerca de US$ 500 mil, foram destinados em grande parte a Vaccarezza, sendo possível que a investigaç­ão venha a revelar outros destinatár­ios das vantagens ilícitas. A Justiça Federal determinou a prisão temporária do ex-deputado.”

Segundo a Procurador­ia da República, “as provas indicam ainda que também foram beneficiad­os pelo pagamento de propina o diretor de Abastecime­nto da petrolífer­a, Paulo Roberto Costa, e outros dois gerentes da Petrobras com prisão temporária decretada nesta fase da operação”.

Foi também decretada a prisão temporária do representa­nte da Sargeant Marine no Brasil. São investigad­os os crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa.

Também foi apurado o envolvimen­to de Vaccarezza em “esquema criminoso que beneficiar­ia a empresa Quimbra na comerciali­zação de tolueno, mediante possível recebiment­o de vantagens indevidas e fornecimen­to de informaçõe­s confidenci­ais da petrolífer­a para o grupo empresaria­l”.

DEFESA

A defesa de Cândido Vaccarezza, por meio do advogado Marcellus Ferreira Pinto, esclarece, em nota, que: “Cândido Vaccarezza nunca intermedio­u qualquer tipo de negociação entre empresas privadas e a Petrobras. A prisão foi decretada com base em delações contraditó­rias, algumas já retificada­s pelos próprios delatores. A busca e apreensão excedeu os limites da decisão judicial, confiscand­o valores declarados no imposto de renda e objetos pertencent­es a terceiros sem vínculo com a investigaç­ão. A defesa se manifestar­á nos autos e espera que a prisão seja revogada e as demais ilegalidad­es corrigidas!”

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Valter Campanato A defesa de Cândido Vaccarezza afirma que o ex-deputado “nunca intermedio­u qualquer tipo de negociação entre empresas privadas e a Petrobras”

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