Folha de Londrina

Doenças podem levar à morte em poucos meses

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Responsáve­l pelo ambulatóri­o de doenças ocupaciona­is respiratór­ias do HC (Hospital das Clínicas) da UEL (Universida­de Estadual de Londrina), o médico pneumologi­sta Marcos Ribeiro tem ampla experiênci­a com doenças relacionad­as ao amianto graças a passagens por serviços em São Paulo e no Canadá. Atualmente, integra a equipe liderada pelo Inca (Instituto do Câncer) que está desenvolve­ndo a diretriz para o diagnóstic­o do câncer de pleura causado por amianto, conhecido por mesoteliom­a. “A diretriz vai servir de base para juízes e médicos chegarem ao diagnóstic­o”, explica.

Em Londrina, ele lidera o atendiment­o aos pacientes com apoio do Hospital do Câncer, responsáve­l pelos raio-X padronizad­os necessário­s para investigar as doenças causadas pelas fibras. Pelo menos 200 pessoas já foram atendidas e, entre elas, há quem não tenha lesões – mas que eventualme­nte possam desenvolve­r – e também ex-trabalhado­res já doentes. “Todos serão acompanhad­os até o último dia de vida”, garante.

O médico explica que as doenças demoram a aparecer e que nem todo mundo que teve contato com o amianto necessaria­mente desenvolve­rá patologias. “Vários pacientes têm marca da poeira do amianto no pulmão, mas ainda não têm doenças. Essas pessoas precisam ser acompanhad­as, pois não há tratamento para eliminar as fibras do corpo”, explica.

A reação do organismo às fibras, na tentativa de expulsá-las ou eliminá-las, é que causa o câncer e outras doenças. “É um câncer altamente agressivo, apenas 10% das vítimas sobrevivem após um ano”, relata, reforçando que a única forma de prevenir é não ter contato com o amianto. “Não existem parâmetros para uso seguro do produto, apenas uma fibra pode causar câncer.”

No atendiment­o aos trabalhado­res, ele está convicto que a grande maioria não tinha entendimen­to dos riscos a que foram submetidos quando aceitaram lidar com o produto. “Já se sabe desde os anos 40 que o amianto causava doença, mas ninguém informou os trabalhado­res”, lamenta. Segundo o médico, a OMS estima que há 125 milhões de expostos ao amianto no mundo e mais de 100 mil mortes por causa do câncer provocado pela substância todos os anos. “Ficaria muito feliz se não precisasse atender essas pessoas e tentar dar suporte, cuidados e informação. Por mais rentável que seja um emprego, ninguém troca o dinheiro pela saúde”, encerra.

Por meio da assessoria de imprensa, o Instituto Brasileiro do Crisotila (IBC) afirmou que, desde o início da década de 1980, o uso do amianto crisotila no Brasil não oferece riscos à saúde de trabalhado­res, de quem comerciali­za ou de quem usa telhas com amianto. “É preciso esclarecer que 100% da utilização do amianto crisotila no Brasil é para fabricação de telhas. As caixas d’água nem se fabricam mais”, diz a nota. O instituto informa que o fator de risco maior aconteceu de 1970 a 1980, quando o amianto usado no País também era o anfibólio e ainda não existiam os cuidados de hoje.

“Não existem parâmetros para uso seguro do produto, apenas uma fibra pode causar câncer” (C.A.)

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