Folha de Londrina

Comentaris­tas de sentença

- Marcos Antonio de Arruda MARCOS ANTONIO DE ARRUDA é estudante de Direito na Unopar de Bandeirant­es

Agora que a poeira já baixou, dá para ver com mais clareza os elementos que compuseram o jus sperniandi dos apoiadores do ex-presidente Lula, condenado a nove anos e meio em um dos processos da Operação Lava Jato, cuja sentença se deu no último dia 12 de julho, numa canetada histórica do juiz Sergio Moro - já que é a primeira vez que um ex-presidente foi julgado e condenado por crime comum. Após a divulgação da sentença, começaram a surgir os comentaris­tas de plantão uma espécie de gente palpiteira, defensores de teses jurídicas, baseada apenas no achismo.

Quando se é a favor ou contra alguma coisa, de certa forma, é apenas o “meu” julgamento sobre o fato analisado; mas quando se entra no mérito de uma decisão sem ter conhecimen­to do assunto ou apresentar provas contraditó­rias, é querer marcar uma postura junto ao “meu” grupo de espectador, seja na rede social ou no meio em que se vive. A problemáti­ca se amplia quando alguns políticos utilizam-se dos espaços do Congresso Nacional para se pronunciar­em em defesa de alguém, atacando a Justiça brasileira - pior ainda, atacam não só as instituiçõ­es jurídicas, mas as pessoas envolvidas nessas ações de combate à corrupção.

Como é possível um processo que se originou de outra ação penal e teve a denúncia apresentad­a pelo MPF em setembro de 2016 ser analisado rapidament­e em poucos minutos? Você, que não concorda com a decisão do juiz Moro, pelo menos leu as 218 páginas da sentença? Sabe o que é um crime de lavagem de dinheiro e de corrupção passiva, e suas respectiva­s penas? Sabe o que é dosimetria da pena? Conhece as fases do processo? Leu a montanha de documentos e provas produzidas no decorrer das investigaç­ões? E qual a sua opinião sobre os outros réus no mesmo processo e a pena aplicada a eles na sentença?

Porque é isso que ouvimos, tomaram as dores apenas do ex-presidente; e os outros não foram “injustiçad­os” pela condenação? Esses mesmos comentaris­tas de sentença será que leram as 149 páginas da denúncia do Ministério Público? Analisaram as provas? Viram os mais de 240 vídeos anexados ao processo? Tiveram o cuidado de assistir ao interrogat­ório do ex-presidente que, em alguns momentos, tentou intimidar os procurador­es e o juiz?

O tempo todo, do réu condenado em primeira instância, ouve-se críticas em relação à idoneidade dos procurador­es, da Polícia Federal e do juiz do caso, até com ironia, pelo fato deles serem jovens - tentando demonstrar para a população que é vítima de um sistema jurídico opressor que não quer vê-lo na Presidênci­a novamente. E vivem repetindo o mantra: como pode um ex-presidente ser condenado sem provas? No despacho em que Moro se pronuncia sobre o embargo de declaração apresentad­o pela defesa, disse: “Em casos de lavagem, o que importa é a realidade dos fatos segundo as provas e não a mera aparência”. É prerrogati­va da defesa questionar o juízo sobre tudo no processo, e para isso é que existem as instâncias superiores - se a sentença será confirmada ou não é uma outra questão.

Nesse caso específico, as táticas de agressivid­ades utilizadas contra os procurador­es, os investigad­ores da PF e o juiz Moro têm sido fora do comum - e isso é apenas uma amostra do que poderá acontecer, caso Lula volte ao poder; ele mesmo deixou claro que talvez mandará prender quem o acusa. Você tem ideia de quanto tempo uma pessoa estuda para ser juiz? Sabe qual é o nível de concorrênc­ia para se chegar a ser um procurador, um policial federal? Será que alguém pensa saber mais que um juiz quando, por exemplo, diz que a condenação de nove anos e seis meses tenha sido proposital? E a dosimetria da pena, onde fica? São comentaris­tas de sentenças com mestrado em Direito de achismo - são bonecos falantes de uma toupeira sem tamanho.

Será que alguém pensa saber mais que um juiz quando diz que a condenação de nove anos e seis meses tenha sido proposital?

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