Folha de Londrina

Emagrecime­nto e estilo de vida moderno

Quase sempre a obesidade pode ser considerad­a uma doença dependente de vários genes do organismo e multifator­ial

- Gabriel Alves Folhapress

São Paulo

- Cerveja, chocolate, sedentaris­mo e genética podem aparecer como os culpados dos quilos a mais,mas,paraaúltim­a,o consenso científico não dá tanto respaldo. Por mais que os genes tenham papel importante, não dá para desconside­rar o peso do estilo de vida moderno na jornada rumo ao peso ideal.

Ao se olhar a questão com os óculos da evolução, é possível encontrar uma explicação: no passado, nossos ancestrais sofreram pressão para que seus organismos se tornassem verdadeira­s máquinas de acumular energia, ou seja, gordura. Não havia certeza de quando seria a próxima refeição, afinal. “É como se o corpo fosse um Audi 2.0 que faz 15 km por litro”, compara Bruno Geloneze, endocrinol­ogista e professor da Unicamp.

Uma caracterís­tica que é bastante condizente com o DNA herdado de pai e mãe, lembra Geloneze, é o padrão de distribuiç­ão da gordura corporal – seja a pessoa gorda ou magra. Dependendo de como o tecido adiposo se acumula no organismo, a gravidade das consequênc­ias metabólica pode ser maior ou menor, respectiva­mente.

Até existem doenças causadas por um único gene e que provocam obesidade, como a síndrome de PraderWill­i, que afeta 1 em cada 25 mil bebês. Mas são casos bastante raros - menos de 1% do total.

Quase sempre a obesidade pode ser considerad­a uma doença dependente de vários genes do organismo ou seja, é uma doença poligênica - e multifator­ial, dependendo também do estilo de vida. Desse modo, naturalmen­te algumas pessoas são mais propensas a serem mais obesas do que outras.

De acordo com estudos feitos com gêmeos, se nenhum dos pais é obeso, a chance de uma pessoa ser obesa é de 9%. Se só um é, dispara para 50%. Com os dois obesos, a chance vai para 80%. O mais provável é que o estilo de vida leve o restante da culpa. “A pessoa já não anda, aí no carro tem vidro elétrico, câmbio automático e direção hidráulica”, enumera Geloneze.

ARMADILHAS

“É importante saber identifica­r a origem e os fatores que desencadea­ram a obesidade. É raro ter uma pessoa que só engorda porque come demais. Ela pode comer demais e ter fatores como ansiedade, depressão e diabetes”, diz a educadora física e professora da Unifesp Ana Dâmaso. “E não adianta tentar perder 20 kg usando o cardápio que a nutricioni­sta fez para o vizinho.”

Segundo ela, uma das armadilhas mais comuns na briga contra a obesidade é a mastigação rápida demais – que seria um sintoma da compulsão e impede a saciedade de surgir naturalmen­te. Outras são dormir pouco, trocar o dia pela noite e desconside­rar o papel da alimentaçã­o.

“As pessoas leem e acreditam em informaçõe­s erradas, elegem alimento como heróis ou vilões, como aconteceu com o glúten. Elas o excluem da dieta e não compreende­m que o que interessa é ter um estilo de vida permanente. Não adianta seguir uma vertente de dieta muito severa se aquilo não tem nada a ver com seus hábitos alimentare­s”.

Uma recomendaç­ão, diz a nutricioni­sta esportiva e funcional Shila Minari, é se ater à culinária regional, à comida caseira e evitar alimentos ultraproce­ssados.

Para piorar o quadro, não existe um “padrão ouro” no tratamento da obesidade, segundo a nutricioni­sta Sophie Deram. Tanto que nenhum país do mundo teve grande sucesso na redução após o problema já ter se instalado. “A própria Organizaçã­o Mundial da Saúde diz que a obesidade é uma doença evitável, mas, quando ela chega, é muito difícil de tratar. Nada garante que fazer cirurgia, tomar suplemento ou cortar grupos de alimentos vá funcionar no fim das contas. O que interessa é mudar o estilo de vida, não fazer dietas malucas “, afirma Deram.

“As pessoas leem e acreditam em informaçõe­s erradas, elegem alimento como heróis ou vilões”

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