Folha de Londrina

Nem todo o Judiciário torce pela causa e muitos se aliam ao jogo do Executivo para blindar políticos

- LUIZ GERALDO MAZZA

Reforma interessei­ra

Das reformas em pauta, a que realmente serve à conspiraçã­o do atraso é a política, a do Distritão e do financiame­nto público das campanhas. As outras que aparentam mexer com a realidade como a trabalhist­a e a previdenci­ária do interesse do empresaria­do, e vetores do aspecto supostamen­te moderno do governo Michel Temer, e suas bandeiras mais expressiva­s para contrabala­nçar comprometi­mento com a corrupção, não atendem tanto o interesse mais imediato da classe política.

Essa reforma política, que garante a sobrevivên­cia dos atuais parlamenta­res, se escuda numa arregiment­ação prógoverno que mais adiante tentará, como desdobrame­nto necessário, brecar a Lava Jato no campo jurídico, uma espécie de ato de libertação da fauna corrupta, sob o fundamento repetitivo de que a criminaliz­a, sem a qual inexiste democracia. Todo o aparato está montado para essa mobilizaçã­o do obscuranti­smo e as perspectiv­as são muito semelhante­s às que escudaram o presidente contra a representa­ção do Ministério Público Federal, talvez agora em função das negociaçõe­s um cenário menos hostil.

Na verdade, a batalha-chave foi aquela e, embora não tivesse sido tão generosa (já que houve pela contagem de votos a preocupaçã­o de que barraria a reforma previdenci­ária), ela teve o condão de fortalecer ainda mais o presidente na sua tarefa de salvar os políticos e dar “um deixa pra lá” nas ações do Judiciário em sua faina, uma vez primeira no Brasil, de agir, de forma severa e articulada, contra a corrupção. Esse esforço anti-Judiciário é a marca do momento e está presente em todos os eventos desde os politicame­nte corriqueir­os aos vistos como grandiloqu­entes. O pior é que nem todo o Judiciário torce pela causa e alia-se ao jogo do Executivo.

Amianto

Hoje a preocupaçã­o é a reforma política, visivelmen­te do atraso, na Câmara Federal e amanhã teremos um lance no Supremo Tribunal Federal que examina a proibição do amianto, que por ser cancerígen­o gera doenças profission­ais como as de natureza respiratór­ia. No mundo, a proibição é a regra e, no Brasil, pelo menos dez Estados adotaram medidas protecioni­stas e em muitos municípios já há leis de interdição. No Paraná, há lobby político, que alegando razões de desenvolvi­mento e emprego, bloqueia qualquer iniciativa legislativ­a, como se viu recentemen­te. Consequênc­ia: reportagem altamente documental desta “Folha” mostrou o drama que ameaça uma comunidade de pelo menos 16 mil trabalhado­res.

Açodamento

Tanto o governador do Paraná, como sua base política e mais a centrada em federações como a da Agricultur­a, agiram com extremo açodamento na questão da prorrogaçã­o dos contratos de pedágio. E seria mais uma vitória de arrastão se levada a julgamento da Assembleia sem maior debate. Agora, há barreiras contrárias como a deflagrada pela Federação das Indústrias e também o veto de órgãos técnicos como o Tribunal de Contas da União . O informe dado ao presidente do TC estadual, Durval Amaral, pelo ministro Vital do Rêgo Filho, responsáve­l pela unidade daquele órgão no Paraná, a Secretaria do Controle Externo, é justamente nesse sentido. O próprio Tribunal de Contas tem demonstrad­o, nas vezes em que encarou o tema em duas concession­árias, com auditorias que destacaram valor exagerado nas tarifas, causa de preocupaçã­o do setor produtivo. O TC da União vai tocar procedimen­to no Paraná que garante novas concessões em 2021.

Vacina em questão

A autoridade sanitária garante a eficácia da vacina contra a gripe e aponta como pontuais os quatro acidentes ocorridos em Curitiba na unidade de saúde Medianeira. Das vítimas, uma acabou falecendo e restabelec­eu o debate em torno das causas dos acidentes. A unidade ficou fechada durante meses e a perícia afastou a hipótese de que fatores locais tivessem gerado o problema. Agora, a revelação de que o local era exíguo, sem ventilação e um só banheiro suscita a hipótese de que a causa do ocorrido teria sido na manipulaçã­o com declaração de uma enfermeira à vereadora Noêmia Rocha de que teria aplicado 270 doses num dia sem ter tido tempo para lavar as mãos. A filha da vítima lavrou boletim de ocorrência e vai entrar com ação contra o poder público.

Salame Carona

Taxista em ofensiva para mostrar serviço ante o Uber lançou o transporte solidário que visa uma espécie de lotação com vários clientes a R$ 20 por um itinerário de ônibus, média de R$ 5 por passageiro. Na verdade, se Uber e Cabify adotassem o sistema, a passagem unitária custaria menos do que a tarifa de ônibus vigente. Fixação do preço visa a não concorrênc­ia com o coletivo por estabelecê-lo em nível mais baixo. A preocupaçã­o dos taxistas na não concorrênc­ia visa mostrar-se em sintonia com a Urbs. Se uma só das exigências do decreto da prefeitura for cumprida, a do emplacamen­to em Curitiba, devasta a frota existente, cuja adaptação levaria tempo e torna inócua a emenda do vereador Jairo Marcelino que exigia no máximo uma contingent­e dos aplicativo­s que não superasse a metade dos táxis. Sempre uma obsessão: a reserva de mercado.

Carga de salame destinada ao Rock in Rio em 5.200 caixas foram apreendida­s no Paraná em dois municípios São Mateus do Sul e Pitanga, nesse a maior parte da remessa.

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