Folha de Londrina

O nefasto toma lá dá cá

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Arejeição da denúncia pelo crime de corrupção passiva contra o presidente Michel Temer pela Câmara dos Deputados impediu que o peemedebis­ta fosse afastado do cargo, no último dia 2, e revelou mais vez a face nefasta do toma lá dá cá na política brasileira.

Para impedir que a denúncia da PGR (Procurador­ia-Geral da República) fosse encaminhad­a para o STF (Supremo Tribunal Federal), Temer conduziu uma série de manobras com o intuito de angariar apoio dos deputados federais. O grande trunfo do presidente foi liberar em massa as emendas parlamenta­res empenhadas (reservadas). No total, o governo está liberando R$ 4 bilhões. É a resposta à salvação do mandato de Temer.

Conforme mostrou reportagem da FOLHA ontem, os deputados agraciados com a liberação das verbas fizeram questão de propagande­ar – até mesmo nas redes sociais junto às suas bases eleitorais os recursos obtidos. Entre as “conquistas” estão um trator para uma associação rural no interior do Paraná, um campo de futebol em uma vila em Roraima e um terminal de ônibus na cidade mineira de Guaxupé. É uma forma dizer que estão “mostrando serviço” já pensando no precioso voto na eleição de 2018.

O governo Temer afirma que as emendas são de pagamento obrigatóri­o e que avaliação prévia é feita no próprio Congresso. Já os deputados beneficiad­os negam relação entre o empenho das verbas e o voto na denúncia. Em tempo de contingenc­iamento devido à crise econômica, fica difícil não vincular a votação com o atendiment­o às emendas parlamenta­res.

O ideal é que os recursos fossem liberados para resolver questões que afetam a saúde da população, como obras de saneamento, por exemplo. Como aponta o Instituto Trata Brasil, 35 milhões de brasileiro­s não têm acesso à água tratada e cem milhões sequer têm coleta de esgoto sanitário. São índices alarmantes que retratam a falta de atenção necessária a serviços essenciais para melhorar a qualidade de vida de um país. Toma-se recursos que beneficiar­iam a maioria excluída e beneficia-se os amigos do poder para atender o “curral eleitoral”.

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