Folha de Londrina

Mercados

Governo pede ao Mapa auditoria para atestar condições para que Paraná seja área livre de aftosa sem vacinação a partir de 2019

- Fábio Galiotto Reportagem Local

Ogoverno do Paraná pretende tornar o Paraná área livre de aftosa sem vacinação já a partir de 2019. Para tanto, encaminhou no fim da última semana ao Ministério da Agricultur­a, Pecuária e Abastecime­nto (Mapa) um pedido para a realização de uma auditoria, que ateste que o Estado tem condições de interrompe­r a imunização após 2018. A medida permite o acesso a novos mercados para as carnes suína e bovina nacional, como Japão e Coreia do Sul, mas causa preocupaçã­o em criadores de gado.

O documento é assinado pelo secretário de Estado da Agricultur­a e Abastecime­nto (Seab), Norberto Ortigara, e pelo presidente da Adapar (Agência de Defesa Agropecuár­ia do Paraná), Inácio Kroetz. Se o resultado da auditoria for positivo, a expectativ­a é fazer a última vacinação contra a aftosa em maio de 2018. O tema foi debatido em evento promovido pelo Grupo Folha em junho de 2016, em Londrina.

De acordo com a Adapar, o pedido representa a sequência natural de todas as medidas tomadas ao longo dos anos para interrompe­r a vacinação, conforme normas do Mapa e da OIE (Organizaçã­o Mundial de Saúde Animal, na sigla em inglês). Ortigara afirma que a medida é consenso entre lideranças de cadeias produtivas de proteína animal no Paraná, como bovinos, suínos, aves, leite e peixes. “Os líderes decidiram, em conjunto, suspender a campanha de vacinação no ano que vem”, diz, por meio de nota.

No entanto, representa­ntes de entidades ligadas à criação de bovinos mostram preocupaçã­o com a medida. “Gostaríamo­s de ser consultado­s antes e que a mudança fosse feita em conjunto com outros estados, como São Paulo e Mato Grosso, até 2021, como prevê o Mapa”, cita o presidente da SRP (Sociedade Rural do Paraná), Afrânio Rossi Brandão.

O temor de Brandão é que, caso o Paraná se antecipe a outros, o preço do bezerro dispare internamen­te. “Muita gente traz garrotes do Mato Grosso na entressafr­a e termina a engorda aqui, o que não seria mais possível porque não dá para fazer transporte de animal vivo de um lugar que faz vacinação para outro que não faz”, diz. Ele considera que os setores de suínos e aves seriam mais beneficiad­os, mas que é preciso entender os prós e contras.

Para o presidente da SRP, outras entidades do setor entendem que esse não é o momento de interrompe­r a vacinação. Assim, caso os órgãos de defesa sanitária garantam as condições para a medida, ele espera que os representa­ntes de todas as cadeias de proteína animal sejam ouvidos para uma decisão final. “Se trouxer benefício somente para a indústria, que vai ter mais mercados, e ficar do mesmo jeito para o produtor, não vai adiantar”, sugere Brandão. Ele teme o aumento de custos sem a contrapart­ida em valores pela arroba.

A reportagem procurou o Sindicarne (Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do Paraná), mas a assessoria de imprensa da entidade informou que não há posicionam­ento formal sobre o tema entre os associados.

TRÂMITE

O presidente da Adapar afirma que a formalizaç­ão do pedido de auditoria é o trâmite protocolar para o fim da vacinação e apenas formaliza a intenção apresentad­a pelo Paraná nos últimos anos. Serão 12 meses para a apresentaç­ão dos resultados e no máximo mais 24 para o reconhecim­ento por parte da OIE. A análise pelo Mapa deve ocorrer a partir do início de 2018. “A fase de discussão foi feita, foram feitos muitos ajustes, mas nunca teremos 100% de satisfação”, conta Kroetz.

Ele diz que as diferenças entre a quantidade vendida e os valores pagos pela carne de aves, bovinos e suínos, principalm­ente, é muito grande com e sem vacinação. “Perdemos o mercado dos Estados Unidos para carne de boi por causa de problemas com a vacinação”, lembra.

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