Folha de Londrina

Cai ritmo da redução da vulnerabil­idade social

Segundo informaçõe­s de plataforma lançada ontem pelo Ipea, taxa anual de diminuição do índice foi de 1,7% entre 2011 e 2015 no País, enquanto entre 2000 e 2010 havia sido de 2,7%. Renda e trabalho foram alguns dos fatores que mais contribuír­am. Londrinens

- Lais Taine Reportagem Local

Oritmo de diminuição da vulnerabil­idade social no País caiu no período de 2011 a 2015 em comparação com o intervalo entre 2000 e 2010. A informação faz parte da nova plataforma do Atlas da Vulnerabil­idade Social, lançada nesta quarta-feira (23) pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Os dados do IVS (Índice de Vulnerabil­idade Social) mostram que a taxa anual de redução foi de 1,7% entre 2011 e 2015, desempenho inferior ao registrado entre 2000 e 2010, que foi de 2,7%.

Muitos londrinens­es sentiram na pele os efeitos dos problemas apontados na pesquisa. Um exemplo é o pedreiro Carlos Alves, 31, que saiu de Aracaju (SE) para tentar a vida em Londrina em 2001. Nos primeiros anos na cidade, ele conseguia bancar o aluguel de uma casa. Com a crise, as dificuldad­es aumentaram. “As coisas pioraram muito de uns três anos para cá. A gente comprava as coisas em loja, essa hora eu não estaria em casa parado, estaria trabalhand­o”, conta.

Casos como o de Alves são comuns em todo o País. O estudo do Ipea mostra que a renda e o trabalho são alguns dos fatores que mais contribuír­am para a diminuição na velocidade da redução da vulnerabil­idade. No decênio 2000-2010 houve uma redução de 34% no IVS Renda e Trabalho. Entre 2011 e 2015, o índice caiu 3,3%. “Só no período de 2013 a 2015, a piora foi de 10,8%. Os dados mostram que houve uma estagnação nos números em 2013 e 2014, com um aumento brusco [da estagnação] em 2015”, detalha a coordenado­ra técnica do Atlas da Vulnerabil­idade Social, Bárbara Oliveira Marguti.

Alves mora em área de invasão, no Jardim Primavera (zona norte), porque não conseguiu mais pagar o aluguel. O dinheiro do Bolsa Família - R$ 250 por mês – tem aliviado, mas não resolvido a situação. “Antes me pagavam R$ 250, R$ 300 por diária de pedreiro, hoje oferecem R$ 70 e olhe lá, é raro ter trabalho”, lamenta.

O pedreiro está há seis anos no Primavera e para manter a família vendeu os equipament­os que utilizava para o trabalho e a moto que tinha comprado em quatro parcelas. Restou apenas um carro velho. “Minha intenção é pagar aluguel em outro lugar, vender o carro e morar em um local onde a gente não tenha tantos problemas com as chuvas, por exemplo”, planeja.

O local desejado pelo pedreiro envolve a dimensão de Infraestru­tura Urbana, que reflete as condições de acesso a serviços de saneamento básico e de mobilidade urbana. Esse índice teve aumento da vulnerabil­idade em 36% na Região Sul, enquanto o Nordeste diminuiu em 37%. Segundo Bárbara Marguti, “é possível perceber que as políticas de redução da desigualda­de no Norte e Nordeste parecem ter mais sustentaçã­o nesse período de inflexão que as implementa­das no Sul do País”.

Na mesma situação do pedreiro está Sidney Galdino dos Santos, que trabalha como carroceiro porque não consegue serviço na construção civil. “Não tem serviço, o povo está vivendo só de lixo”, desabafa. Santos vive no mesmo quintal de outra família no Jardim Barcelona (zona norte). “Minha casa de antes tinha piso, era de material. Há uns dois anos eu vejo as coisas piorarem e hoje estou morando na casa dos outros”, afirma.

A “casa” do carroceiro é a carcaça de um ônibus velho. “É aqui que eu me escondo da chuva, mas é o que eu tenho. Eu prefiro viver assim do que roubar. Se todo mundo vai para o crime, acaba o mundo”, argumenta. Quando consegue emprego, tira R$ 40 diários, mas afirma que está difícil, por isso pede ajuda para receber alimentos.

Santos é um exemplo da vulnerabil­idade da população negra que, com a melhora dos últimos dos anos, ocupa pela primeira vez desde 2000 a mesma faixa de baixa vulnerabil­idade social da população branca. No entanto, a taxa para pessoas negras é 48% maior que a de pessoas brancas.

O grupo das mulheres negras apresentou, em 2015, alta vulnerabil­idade social na dimensão Capital Humano – que envolve condições de saúde e acesso à educação. Nessas mesmas condições, as mulheres brancas estavam na faixa de média vulnerabil­idade. A dona de casa Rosângela dos Santos saiu de uma casa de seis cômodos e quintal fechado para outra menor, de três cômodos e quintal compartilh­ado, no Jardim União da Vitória (zona sul). Ela mora com o marido, que é pintor automotivo, e mais três filhos. Ela trabalhava como professora na educação infantil, mas ficou desemprega­da. “Antes, até por conta da minha profissão, assinava revista e jornal, mas precisamos cortar algumas coisas, até o carro a gente vendeu para comprar essa casa”, explica.

A família tem renda de R$ 1,5 mil e não recebe auxílio do governo. “Estamos há 18 anos na fila da Cohab-Ld (Companhia de Habitação de Londrina) para receber uma casa, mas não fomos sorteados”, conta. Com um bebê de dois meses, ela aguarda a filha crescer para poder voltar a procurar emprego.

 ?? Gustavo Carneiro ??
Gustavo Carneiro
 ?? Fotos: Gustavo Carneiro ?? “Não tem serviço, o povo está vivendo só de lixo”, desabafa Sidney Galdino dos Santos
Fotos: Gustavo Carneiro “Não tem serviço, o povo está vivendo só de lixo”, desabafa Sidney Galdino dos Santos
 ??  ?? “As coisas pioraram muito de uns três anos para cá”, lamenta Carlos Alves
“As coisas pioraram muito de uns três anos para cá”, lamenta Carlos Alves

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil