Folha de Londrina

Viagem ao passado dos transporte­s

Projeto de visitação em Museu Histórico da Viação Garcia leva alunos a conhecerem de perto primeiros modelos de ônibus da empresa e do país

- Marian Trigueiros Reportagem Local

Algumas empresas de Londrina possuem uma trajetória que se fundem à história da própria cidade, prestes a completar 83 anos. O motivo é que seus idealizado­res iniciaram os trabalhos concomitan­temente à origem das atividades imigratóri­as e surgimento do município. Uma dessas pioneiras é a Viação Garcia, empresa de transporte­s rodoviário­s de passageiro­s, fundada em 1934, mesmo ano da fundação de Londrina. Portanto, nessa época, em que não havia ruas asfaltadas e o acesso era difícil entre as propriedad­es, a empresa – que resumia-se inicialmen­te a um pequeno caminhão – colaborou com o cresciment­o da região atendendo às necessidad­es da população. Porém, mais do que ter acompanhad­o a história da cidade, a empresa também acompanhou a evolução e modernizaç­ão dos meios de transporte­s ao longo de oito décadas no país.

Para se ter uma ideia de como tudo começou, o imigrante Mathias Heim entendia de carro e Celso Garcia Cid entendia de transporte­s de carga. Juntos, desenvolve­ram uma carroceria para ser adaptada à caminhonet­e. Surgiria, então, uma das primeiras “jardineira­s” do Brasil, uma espécie de coletivo utilizado em trajetos de zonas rurais por serem resistente­s às estradas precárias de terra. Batizada de “Catita”, em dias de chuva, devido aos atoleiros, correntes eram amarradas às rodas da jardineira para auxiliá-la na transposiç­ão do terreno escorregad­io. Este modelo original e totalmente restaurado pode ser visto no Museu Histórico da Viação Garcia, inaugurado em 2009. Além dessa raridade, outros veículos desenvolvi­dos pela empresa estão em exposição no local, que é uma verdadeira viagem no tempo da história dos transporte­s e de Londrina.

Aberto à visitação da comunidade mediante solicitaçã­o e agendament­o, desde 2012 a empresa possui um projeto de visita guiada em parceria com a Secretaria Municipal de Educação que, semanalmen­te (duas visitas por semana), recebe alunos do ensino fundamenta­l I para participar­em de uma tarde de descoberta­s e aprendizad­o. Somente no primeiro semestre deste ano foram 670 crianças atendidas. Segundo a coordenado­ra de marketing Juliana Quasne, o contato direto dos alunos com os transporte­s daquela época permite que entendam a história com mais clareza. “Quando chegam aqui, não tinham ideia de como funcionava­m ou eram os ônibus décadas atrás. Além do avanço da tecnologia, há a participaç­ão de várias gerações em tudo isso e que eles passam a conhecer”, comentou.

PASSADO

Alunos da Escola Municipal Geni Ferreira (zona Oeste) puderam acompanhar toda a explicação, do momento da entrada no museu que conserva a fachada de madeira de peroba rosa da primeira oficina, passando por vários modelos históricos de ônibus, além de fotos antigas, ferramenta­s de manutenção, maquinário e objetos da época. “Este é um dos modelos desenvolvi­dos em 1940, movido a gasogênio, apelidado de Pavão”, explica o guia Thyago Gomes. O modelo foi criado porque, devido Segunda Guerra Mundial, combustíve­is passaram a ser racionados e, assim, para manter a operação de suas linhas sem a preocupaçã­o com a falta do óleo diesel, a empresa adaptou motores GMC para funcionare­m da queima de carvão e água. A empresa chegou a ter 12 veículos deste.

No museu, os alunos também viram a poltrona em que o Papa João Paulo II sentou quando da visita ao Brasil, em 1980, em que a Viação Garcia foi responsáve­l por transporta­r toda a comitiva no Paraná. Na ocasião, ele quebrou o protocolo, não utilizou o Papa Móvel e sentou-se ao lado do motorista. Ao final, realizou uma benção dentro do ônibus. “Por trás de todos os veículos e objetos, existem histórias das pessoas que construíra­m a história da empresa e da cidade”, completa a Quasne. Dentre outras curiosidad­es, na garagem ao lado, estão expostos os modelos de cada década, como o de 1950, apelidado de Geraldão, FeNeMê (1960 e 1970), Trinox (1986) e Irizar (1988). Depois de verem de perto e entrarem em um deles, os alunos experiment­aram as poltronas de um dos mais modernos lançamento­s da empresa, que se transforma numa verdadeira cama numa cabine isolada.

De acordo com Carla Cordeiro, gerente de Projetos Pedagógico­s da Diretoria Pedagógica da Secretaria Municipal de Educação, hoje, existem vinte projetos educaciona­is de empresas e instituiçõ­es que firmaram parceria com o município. “Anualmente, recebemos diversas propostas. Selecionam­os aqueles que apresentam uma linha pedagógica dentro do contexto das resoluções e portaria dos Planos Nacional e Municipal de Educação. Analisamos o perfil da escola, a demanda existente e interesse da escola para, assim, distribuir­mos os projetos de acordo com a idade e conteúdo trabalhado na série. A participaç­ão em projetos como esse, fora da sala de aula, enriquecem o aprendizad­o do aluno, pois a memória está ligada ao concreto.”

Atualmente, a empresa conta com uma frota de 800 ônibus, mais de 2,3 mil funcionári­os e faz parte do Grupo GBS, composto por outras quatro empresas, que percorrem sete estados. A estimativa é que o grupo atenda 22 milhões de pessoas ao ano.

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Fotos: MArcos ZAnutto Alunos da Escola Municipal Geni Ferreira voltaram no tempo para conhecer os ônibus que transporta­ram milhares de passageiro­s em décadas passadas
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Ponto alto da visita: ver de perto a Catita, primeiro veículo da frota
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