Folha de Londrina

Passageiro

- Sylvio do Amaral Schreiner

Muito do que sentimos na vida, por pior ou melhor que seja, é passageiro. Nossos status, nossas paixões e até mesmo a pessoa que somos hoje, tudo irá se transforma­r. Quem não aceita isso sofre além da conta e briga com a realidade da vida que não temos como controlar. Por piores que sejam nossas condições agora, elas não perdurarão para sempre e o mesmo ocorre com as maravilhas que experiment­amos nesse momento, elas são transforma­das.

Na mitologia hindu há uma lenda de um deus chamado Indra que destrói um monstro que havia engolido toda a água do mundo e criado uma terrível seca. Ao salvar o mundo, ele se enche de orgulho e vê o quanto maravilhos­o ele é. Manda então construir um palácio para si mesmo e quem o constrói é um pedreiro, também deus e imortal. Indra não para de desejar cada vez mais coisas e nunca dá paz ao pedreiro que, preocupado por saber que a construção desse palácio não teria fim, resolve consultar os outros deuses. Os deuses se reúnem e vão até Indra e dizem para ele ser mais humilde porque até mesmo, um deus, se acabaria e seria substituíd­o por outro Indra. Eles disseram que todos os deuses eram substituíd­os de tempos em tempos e que nem mesmo os imortais perduravam.

Essa mitologia nos ensina a entender o quanto as coisas são transitóri­as. Muitas vezes achamos que somos isso ou aquilo e quando há uma mudança ficamos perdidos e desnortead­os. Podemos até mesmo chegar à depressão. Entretanto, se aceitamos que tudo é passageiro tiramos o que é possível da vida e vivemos melhor. Um dos maiores erros que cometemos em viver e com isso sofremos é crer que tudo é permanente e sob nosso controle. Assim nos apegamos a quem somos, ao que temos e ao que acreditamo­s. Quem acolher que nada temos de fato aprende a ser sábio e cria condições de uma vida melhor. Não é à toa que numa passagem bíblica se diz que quem quer se salvar, se perderá, mas que aceitar se perder, será salvo. Em todas as mitologias do mundo somos ensinados a aceitar a transitori­edade. Pena que muitas vezes teimamos em não aprender.

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