Folha de Londrina

TCU manda Gabrielli e Cerveró pagarem prejuízo de Pasadena

Ex-presidente e ex-diretor da estatal foram condenados a ressarcire­m US$ 79 milhões por dano ao erário; cabe recurso da decisão

- Fábio Fabrini Agência Estado

Brasília

- O Tribunal de Contas da União (TCU) condenou nessa quarta-feira (30) o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli e o ex-diretor Internacio­nal da companhia Nestor Cerveró a ressarcire­m US$ 79 milhões (cerca de R$ 250 milhões) por dano ao erário na compra da Refinaria de Pasadena, no Texas (EUA). A corte impôs ainda, a cada um, multa de R$ 10 milhões.

O tribunal também solicitou que os dois tenham os bens arrestados para assegurar o ressarcime­nto e determinou que sejam inabilitad­os para o exercício de cargos em comissão e funções de confiança por oito anos. Na prática, no entanto, a quitação dos montantes é improvável, pois o patrimônio já rastreado de ambos não alcança o valor cobrado pelo tribunal. Cabe recurso contra a decisão.

As punições são as primeiras aplicadas pelo tribunal por causa das perdas no negócio, considerad­o um dos piores já feitos pela estatal. Outros executivos, que continuam sendo investigad­os em outros processos, estão com os bens preventiva­mente bloqueados.

Por unanimidad­e, os ministros do TCU entenderam que Cerveró e Gabrielli foram responsáve­is por uma carta de intenções na qual a Petrobras aceitou, em 2007, pagar US$ 700 milhões por 50% da planta de refino. Na época, a empresa já era dona de 50% dos ativos. Para o tribunal, o compromiss­o firmado fez com que o valor final desembolsa­do na aquisição ao grupo belga Astra Oil fosse US$ 78,8 milhões mais caro.

O então diretor Internacio­nal, hoje delator da Lava Jato, foi quem elaborou o documento e conduziu as negociaçõe­s, mas o tribunal sustenta haver provas de que o então presidente da Petrobras autorizou “as tratativas empreendid­as”.

Os ministros concordara­m com a tese apresentad­a pelo procurador Paulo Soares Bugarin, do Ministério Público de Contas, que implicou os dois executivos em seu parecer. Os auditores da corte, no entanto, propunham isentar Cerveró e Gabrielli. Eles concluíram que não ficou demonstrad­o que a carta de intenções foi a causa do prejuízo no negócio.

Em seu voto, o relator do processo, Vital do Rêgo, defendeu a proposta que Cerveró atuou com aval da presidênci­a da Petrobras. “Assevero que se examina nestes autos aquisição vultosa de ativo internacio­nal em que se espera a participaç­ão obrigatóri­a do presidente da Petrobras nas etapas de negociação. Não é razoável considerar que o sr. José Sérgio Gabrielli não tivesse conhecimen­to das ações de seu subordinad­o direto para a formalizaç­ão de negócio dessa monta. Ao contrário do que alega o responsáve­l, as evidências dos autos demonstram que ele, ora detinha conhecimen­to sobre as tratativas da aquisição, ora detinha o controle, e, ora agia ativamente para a consecução da compra dos 50% finais da refinaria”, comentou. Em sua delação premiada, firmada a partir de 2015, Cerveró admitiu ter recebido propina para viabilizar a compra de Pasadena. No entanto, ele não acusou Gabrielli de corrupção.

O processo julgado nessa quarta foi o primeiro dos quatro que tratam do negócio a chegar à fase final. Uma outra investigaç­ão, que avalia a responsabi­lidade da ex-presidente Dilma Rousseff, deve ser aprecia- da na semana que vem ou na seguinte. Como antecipou o jornal “O Estado de S. Paulo”, a área técnica do tribunal e o MP de Contas, em pareceres recentes, propõem aos ministros que a petista e mais cinco ex-integrante­s do Conselho de Administra­ção da Petrobras passem a responder por dano ao erário de US$ 266 milhões (R$ 840 milhões), além de ter os bens preventiva­mente bloqueados, com o objetivo de resguardar eventual ressarcime­nto aos cofres públicos. Posicionam­entos anteriores, tanto do plenário quando da área de auditoria, eram para que os integrante­s do colegiado fossem isentados. A decisão a respeito dependerá dos ministros.

A compra de Pasadena foi feita em duas etapas, uma em 2006 e a outra em 2012, ao custo total de US$ 1,2 bilhão. Inicialmen­te, com aval do Conselho de Administra­ção, a Petrobras pagou US$ 359 milhões por 50% da refinaria à Astra Oil - que, no ano anterior, havia desembolsa­do US$ 42 milhões por 100% dos ativos. “Isso representa um acréscimo de 1.690%”, disse Vital nessa quarta.

A defesa de Gabrielli informou que vai recorrer da decisão. Nessa quarta-feira, reiterou que o ex-presidente da Petrobras não autorizou a carta de intenções. Os advogados do ex-presidente da Petrobras voltaram a alegar que o processo demonstra que Cerveró extrapolou os poderes que tinha nas negociaçõe­s de Pasadena. A reportagem não localizou a defesa de Cerveró.

 ?? Wilson Dias/Agência Drasil ?? Ex-diretor Internacio­nal da Petrobras, Nestor Cerveró deverá pagar ainda multa de R$ 10 milhões
Wilson Dias/Agência Drasil Ex-diretor Internacio­nal da Petrobras, Nestor Cerveró deverá pagar ainda multa de R$ 10 milhões

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil