A esfera da gratuidade
Na correria por se tornar ‘competitivo’, o humano desfaz seus laços de solidariedade e destaca seus aspectos mais fragmentados e divergentes”
O aspecto mais desumano da convivência no mundo contemporâneo, sob hegemonia dos valores burgueses, é a hipercompetição generalizada. Há uma disputa por cada objeto, cada posto de trabalho, cada elemento simbólico. Indivíduos desejam sair à frente em todas as dimensões da vida, realçando aparências e relativizando essências. Na fronteira entre o alívio e o desespero, aparece a velha e certeira sentença: “Cada um por si e Deus por todos”.
Na correria por se tornar “competitivo”, o humano desfaz seus laços de solidariedade e destaca seus aspectos mais fragmentados e divergentes. Adota a ideia de que precisa estar pronto para enfrentar os desafios da existência, a selvageria do mercado, a espada do Estado, a inveja de todos. Predispõe-se, portanto, a viver por si e nada mais. Descola-se do mundo comum, reportando-se a ele somente quando o assunto são seus interesses imediatos e particulares. Numa palavra, torna-se uma máquina.
A linguagem cotidiana também é convocada a dar suporte à reprodução de sujeitos isolados e grupelhos em choque. Verbos como “lucrar”, “disputar”, “superar” e “vencer”, por exemplo, estabelecem parcerias muito duradouras com adjetivos como “rentável”, “competitivo”, “empreendedor”, “eficaz”, “campeão” etc. As palavras, mais