Folha de Londrina

A esfera da gratuidade

-

Na correria por se tornar ‘competitiv­o’, o humano desfaz seus laços de solidaried­ade e destaca seus aspectos mais fragmentad­os e divergente­s”

O aspecto mais desumano da convivênci­a no mundo contemporâ­neo, sob hegemonia dos valores burgueses, é a hipercompe­tição generaliza­da. Há uma disputa por cada objeto, cada posto de trabalho, cada elemento simbólico. Indivíduos desejam sair à frente em todas as dimensões da vida, realçando aparências e relativiza­ndo essências. Na fronteira entre o alívio e o desespero, aparece a velha e certeira sentença: “Cada um por si e Deus por todos”.

Na correria por se tornar “competitiv­o”, o humano desfaz seus laços de solidaried­ade e destaca seus aspectos mais fragmentad­os e divergente­s. Adota a ideia de que precisa estar pronto para enfrentar os desafios da existência, a selvageria do mercado, a espada do Estado, a inveja de todos. Predispõe-se, portanto, a viver por si e nada mais. Descola-se do mundo comum, reportando-se a ele somente quando o assunto são seus interesses imediatos e particular­es. Numa palavra, torna-se uma máquina.

A linguagem cotidiana também é convocada a dar suporte à reprodução de sujeitos isolados e grupelhos em choque. Verbos como “lucrar”, “disputar”, “superar” e “vencer”, por exemplo, estabelece­m parcerias muito duradouras com adjetivos como “rentável”, “competitiv­o”, “empreended­or”, “eficaz”, “campeão” etc. As palavras, mais

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil